Um médico que atendeu e mandou uma menina de 7 anos retornar para casa após uma visita ao hospital por suspeita de dengue foi indiciado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). O indiciamento foi oficializado pelo delegado nesta sexta-feira e encaminhado ao Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT). Segundo relato da mãe, o médico apontou que a criança estaria com "dengo".
A mãe levou a criança com sintomas de dengue ao pronto socorro do Hospital Daher, no Lago Sul, mas o médico do plantão lhe deu alta. No início do atendimento, uma outra médica tinha examinado a criança. Essa profissional indicou uma internação para a jovem, mas enquanto a família aguardava alguns exames, o plantão dos profissionais mudou e o novo médico então apontou que a criança fosse para casa. A menina morreu no dia seguinte de dengue grave.
O caso foi investigado pela 10º Delegacia de Polícia, no Lago Sul. De acordo com o delegado chefe, Maurício Lacozzili, o laudo do IML aponta que o quadro da criança necessitava de internação. “Ele foi indiciado por homicídio culposo, imperícia profissional, e o inquérito foi concluído hoje e enviado ao Ministério Público”, detalhou.
O Correio tentou contato com o Hospital Daher na noite desta sexta, às 20h28, mas até o momento não recebeu resposta. Em caso de manifestação, o texto será atualizado.
Entenda o caso
A menina de 7 anos morreu em 17 de novembro do ano passado. A morte dela deixou a mãe, Camila Isaac, 37, arrasada com o caso, que ela acredita ter sido uma negligência médica. A criança morreu no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), na última sexta-feira (17/11), após sofrer três paradas cardíacas.
“Nunca na minha vida imaginei passar por isso. Foi o meu pedaço, me sinto de pernas amputadas, tentando juntar os meus caquinhos. Lembro quando ela dizia 'obrigada por cuidar tão bem de mim' e me abraçava”, emociona-se Camila.
Camila conta que, em 13 de novembro, a filha fez um hemograma por conta própria, pois suspeitava que a menina estivesse com bronquite. "Pietra não aceitava nenhum tipo de comida e tinha febre alta chegando a 39,9ºC. Ela só aceitava água", lembra.
Em 14 de novembro, véspera do aniversário de Pietra, a mãe da menina a levou ao Hospital Daher, do Lago Sul, onde o médico escutou o coração da menina, que fez um raio-x do tórax. O primeiro diagnóstico foi de bronquite e virose, mas segundo a mãe, a menina foi medicada e voltou para casa.
O exame não apresentou alterações, mas a menina se queixava de dores nas costas e amanheceu com febre. Para melhorar o ânimo da filha, Camila chegou a comprar um diário com chave de presente. "Ela escreveu no diário 'a Pietra quer melhorar'. Estava um pouquinho mais disposta, mas reclamava de dor no abdômen", conta.
Preocupada com a filha, Camila voltou ao hospital do Lago Sul. Uma médica a atendeu e confirmou que os sintomas eram de dengue. Foi quando a profissional de saúde prescreveu o relatório de internação de Pietra com encaminhamento ao Hmib.
Na troca de plantão, outro médico pediatra disse à Camila: "Mãezinha, sua filha está dengosa duas vezes, dengo e dengue, e dengue se trata em casa. O remédio e repouso absoluto é hidratar com soro, água de coco e suco". A mãe, então, foi para casa. Mas, após uma hora vendo a filha gritar de dor, foi ao Hmib em busca de atendimento.
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