Denúncias de acumuladores de lixo, retirada de entulho com retroescavadeira, casas e terrenos baldios vistoriados, amostras de água parada coletadas, e histórias de vida marcadas pelo adoecimento. Esse é o saldo do mutirão de combate à dengue, nessa quarta-feira (13/3), em Arniqueira, amparando cerca de 50 mil moradores do Areal, do Setor Habitacional Arniqueira (SHA) e da Área de Desenvolvimento Econômico (ADE), segundo informações da Administração Regional.
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A mega-operação ocorreu das 8h às 17h, e contou com a atuação de mais de 10 órgãos públicos, entre eles, a Vigilância Ambiental em Saúde, o Comando do 7º Distrito Naval da Marinha, a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF), o DF Legal e o Serviço de Limpeza Urbana (SLU). O grupo contou com cerca de 180 profissionais para fazer uma varredura na região administrativa em busca de focos do Aedes aegypti.
Arniqueira registrou um aumento de 1.502% nos casos de dengue em 2024. São 609 ocorrências apenas este ano, contra 38 em 2023. Além de identificar e eliminar criadouros, conscientizar a população e fornecer orientações de prevenção ao mosquito, a ação também recolheu móveis velhos, ferragens e outros objetos que pessoas quisessem se desfazer deles.
Para Maria da Conceição de Souza, 66 anos, a vistoria ocorre em um momento crítico. "Aqui na minha casa somos quatro pessoas e todo mundo ficou com dengue. No conjunto ao lado, mais quatro pessoas ficaram. O meu genro mora na casa aqui de trás também se infectou", indicou. "Eu acho muito importante o trabalho dos vigilantes. A gente cobra muito as autoridades, mas se cada um não fizer sua parte, não dá certo", conclui.
Na rua onde Maria mora com sua família há um terreno onde vive, de forma precária, Neuza Edilce Jardim, de 64 anos. Em situação de rua, mas sem nunca abandonar o lote, a mulher alega viver ali há 40 anos. Para os vizinhos, o acúmulo de lixo, colchões velhos e material perecível torna quase insuportável a situação. "Teve uma época que ela pegava animais da rua e levava para morar com ela. Já aconteceu de um bicho morrer e ela o deixar dentro de uma sacola. Chegou ao ponto de eu não conseguir cozinhar na minha casa, por causa do mal cheiro e das moscas", contou.
Neuza foi acolhida por uma agente da vigilância sanitária, enquanto os demais vistoriaram o terreno inteiro, onde foram encontrados muitos materiais com água acumulada. Amostras foram retiradas para o exame das larvas. Foram necessários um caminhão, uma retroescavadeira e o trabalho de cerca de 10 detentos do Seape/DF para retirar tudo que estava amontoado. Do terreno foram retirados 3 mil kg de resíduos.
Hérica Cristina Marques, chefe da Vigilância Ambiental na região de Arniqueira, considera que a ação foi um sucesso. "Com a limpeza desse lote já conseguimos eliminar vários focos do mosquito e depósitos em potencial. A população ficou bem agradecida, por ver tantos agentes mobilizados. Ficam mais aliviados ao saber que fizemos um pente-fino naquele local, entramos nas casas, inspecionamos, fizemos tratamento onde houve necessidade", enfatizou.
Segundo a administradora regional de Arniqueira, Telma Rufino, coordenadora da ação na cidade, o envolvimento da comunidade é de suma importância para que os cuidados sejam mantidos a longo prazo, após a ação de hoje (quarta-feira). "Essa ação, para nós do governo e para a população, é muito importante, porque temos de mostrar que a maior parte dos focos de dengue está dentro das casas e que o mosquito mata, porque muita gente ainda não acredita", resumiu.
Acumuladores
Quem passa pela rua da QS 11 Conjunto W não imagina que atrás da parede da casa há uma montanha de lixo, capaz de aguentar o peso de três pessoas em pé. O que é ainda mais improvável, é que naquele terreno vive um homem. "Meu grande amigo, o rapaz acumulador. Ele é maravilhoso, mas ou é ele ou é a gente", relatou entristecida a vizinha Marta Menelau Gracindo, 54.
O lixo acumulado a dois terrenos de distância da casa de Marta contribuiu para agravar a situação de saúde do pai dela, que passou por uma cirurgia para colocar um marco-passo em 7 de janeiro. Pouco mais de um mês após o procedimento, Túlio Malta Brandão Gracindo Filho foi infectado pelo mosquito da dengue. "Na terceira semana que já estava com sintomas (de dengue), meu pai pegou", disse. Apesar de estar de alta hospitalar, o idoso não poderá voltar para casa sem um suporte de oxigênio.
A moradora de Arniqueira informou à reportagem que a vigilância ambiental já havia realizado uma vistoria na casa dela em janeiro, mas que nenhum foco foi encontrado. No terreno ao lado, entretanto, nenhum vigilante havia passado, desde essa quarta-feira (13/3). O homem que habita o espaço se recusava a receber os profissionais e ameaçou envenenar-se caso transgredissem o seu pedido. A abordagem só aconteceu por conta da presença de uma assistente social, que intermediou a comunicação entre ele e os agentes.
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