Dengue/

Medo de casos graves e queixa de superlotação; o que sentem os pacientes nas filas

Em Ceilândia e na Estrutural, pacientes se preocupam com dengue hemorrágica e relatam atendimento demorado na Unidade de Pronto Atendimento do Gama, onde faltam enfermeiros e assistentes de enfermagem

Atendimentos na UPA de Ceilândia -  (crédito: Carolina Braga/CB/D.A.Press.)
Atendimentos na UPA de Ceilândia - (crédito: Carolina Braga/CB/D.A.Press.)

A cozinheira Lena Pinheiro, 35 anos, teve alta da internação por dengue hemorrágica na manhã desta terça-feira (12/3). A moradora da zona rural de Samambaia passou 12 dias internada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Gama. Quando conversou com a reportagem do Correio, ela estava no Hospital de Campanha da Aeronáutica (HCamp), em Ceilândia, para onde havia sido transferida há três dias. Além da unidade de saúde, estivemos na manhã de ontem na UPA de Ceilândia e na tenda de hidratação da Estrutural.

"Apesar de estar passando muito mal, eu precisei ficar por dois dias sentada em uma cadeira na UPA do Gama. A sala estava tão lotada que eu não conseguia levantar para ir ao banheiro, porque acabaria pisando nas pessoas que estavam no chão. Me deu uma crise de choro por estar naquela situação", relatou a moradora do Assentamento Nova Jerusalém, em Samambaia, onde, segundo ela, o abastecimento de água é feito por meio de poço artesiano e não há esgotamento sanitário.

A cozinheira relatou demora para tomar a medicação devido à pequena quantidade de enfermeiras e assistentes de enfermagem. "Tá muito triste a situação lá", concluiu, ao afirmar ter sido transferida para hospital de campanha por falta de leitos. Lena teve um quadro de dengue hemorrágica sério, comprometendo o fígado e os pulmões. Ela precisou fazer drenagem por acúmulo de líquido nos pulmões e precisará tomar antibiótico por mais uma semana.

Seguindo o protocolo da dengue, a paciente irá até o posto de saúde mais próximo à casa dela durante três dias para a contagem de plaquetas. Na zona rural onde vive, não há visitas periódicas de agentes comunitários de saúde, tampouco de agentes de vigilância ambiental. De acordo com a cozinheira, praticamente todas as pessoas de onde mora estão ou estiveram com a arbovirose. 

Em nota, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF), gestor da UPA do Gama, informou que a unidade está operando 200% acima da capacidade, com quatro médicos prestando atendimento. "Diante da atual situação, implementamos salas extras de hidratação e consultórios exclusivos para pacientes com dengue, para agilizar os atendimentos e permitir uma rápida reavaliação médica", afirmou a pasta. O IgesDF negou a informação de que pacientes estão deitados no chão. 

A capital segue em primeiro lugar quando falamos de incidência de casos prováveis de dengue: são 4.918 a cada 100 mil habitantes. De acordo com a última atualização do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, houve 109 óbitos por dengue e 138.543 casos prováveis no DF.

Hoje é o último dia que a diarista Maria Antônia Rodrigues, 47, precisará ir até a UPA de Ceilândia, onde está fazendo o acompanhamento do número de plaquetas. Os sintomas da dengue começaram há 10 dias, com vômito, dor de cabeça e febre. Depois, se intensificaram e ela passou a sentir também dores no corpo, fraqueza e sangramento na boca. Ela foi até o Hospital da Cidade do Sol, em Ceilândia, onde ficou internada por três dias e recebeu transfusão de plaquetas. "Eu não conseguia nem levantar da cama, nem andar sozinha", contou a trabalhadora autônoma, moradora de Ceilândia Norte. De acordo com ela, ninguém da família ficou doente, mas na rua dela havia muitas pessoas contaminadas com a arbovirose.

A diarista contou também que foi bem atendida no HCamp. "Estava cheio, mas não havia superlotação", esclareceu. Segundo o major João Luiz, comandante do hospital de campanha pela parte da aeronáutica, a demanda de pacientes segue constante. "Continuamos com o foco em pacientes que chegam precisando de hidratação. Aqui, verificamos a necessidade ou não de internação", explica. Depois disso, a pessoa pode ser transferida à UPA, hospitais especializados ou seguir o tratamento em casa.

A operadora de caixa Rejane de Souza, 42, estava com sintomas da arbovirose desde a semana passada. Na manhã de ontem, não conseguiu ir ao trabalho e foi pela segunda vez à tenda de hidratação da Estrutural. "Já se passaram 10 dias, mas eu ainda estou sentindo calafrios e muito cansaço", falou. A recomendação médica foi de repouso e beber muita água.

Reforços

A Secretaria de Saúde (SES-DF) publicou no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) ontem a convocação de processo seletivo para a contratação de 61 profissionais, sendo 42 padioleiros, pessoa encarregada de carregar feridos, e 19 condutores de ambulância. Os convocados devem entregar a documentação até o dia 15/3 na sede da SES-DF. Aqueles que não comparecerem ao local perderão as vagas.

 

 

  • Maria Antônia Rodrigues aguarda resultado de exames
    Maria Antônia Rodrigues aguarda resultado de exames Foto: Carolina Braga/CB/D.A.Press
  • Lena Pinheiro após receber alta no HCamp
    Lena Pinheiro após receber alta no HCamp Foto: Fotos: Carolina Braga/CB/D.A.Press.
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postado em 13/03/2024 06:08
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