"Viver é ter histórias para contar", escreveu Paulo Pestana em sua última crônica, publicada na Revista do Correio, no último domingo (10/2). O jornalista, que sabia como ninguém contar boas histórias, morreu na madrugada dessa segunda-feira (11/3), aos 66 anos, deixando familiares e amigos consternados, mas também o legado de leveza e excepcionalidade. Não por acaso, colegas e autoridades se referiram ao cronista como intelectual, versátil, sensível e prestativo, em inúmeras das homenagens compartilhadas nas redes sociais.
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Paulo Pestana assinava crônicas, como colaborador, em dois suplementos do Correio Braziliense, na Revista do Correio e no caderno Divirta-se mais. No jornal, onde trabalhou por anos, passou por diferentes editorias, ora como repórter especial, ora como editor-executivo. Em seu blog hospedado no portal do jornal — o Blog do Pestana — se definia como um insistente torcedor do América, "mostrando que é possível viver sem alegrias", brincou. O bom humor, aliás, era marca registrada, compartilhada com os leitores de suas crônicas.
Paranaense de Ponta Grossa, viveu em Brasília desde 1973, trabalhando em alguns dos mais importantes órgãos da imprensa brasileira, como a Rádio Nacional, a Rede Globo e o jornal O Estado de S. Paulo. Zelinda Lucca, esposa do jornalista, descreveu Paulo como o amor da sua vida. "Pai afetuoso dos meus filhos, vovô querido dos meus netos, amigo sincero dos meus amigos. Está há mais de 40 anos na minha vida e, para sempre, guardado no meu coração, nas mais felizes recordações", destacou, emocionada.
Pestana também foi mentor das campanhas vencedoras de Ibaneis Rocha (MDB) ao governo do Distrito Federal, em 2018 e 2022. Em decreto publicado em edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), o governador decretou luto oficial por três dias no DF. "Uma perda muito grande. Um excelente articulador, profissional excepcional. Perco um dos meus principais mentores políticos", afirmou Ibaneis, ao Correio. No rede social X, o governador completou: "Era um profissional genial, profundamente comprometido com o Distrito Federal, com o destino de uma cidade com a qual se identificava. Deixa uma saudade difícil de preencher. Somos todos eternamente gratos a Paulo Pestana".
O presidente do Correio, Guilherme Machado, destacou a importância de Paulinho para a imprensa. "Um jornalista nato, tratava com genialidade e sutileza, os mais diversos temas de nosso cotidiano. Conhecia como poucos a política e as peculiaridades do nosso DF. Abrilhantou durante muitos anos a redação do nosso jornal. Uma inestimável perda!", lamentou.
O jornalista passou mal na noite de domingo e foi levado para um hospital da Asa Norte, falecendo com suspeita de dengue. O velório será realizado nesta terça-feira, às 9h, na Capela 1, do Campo da Esperança em Brasília. O corpo dele será cremado em Valparaíso, no Entorno, às 16h. Paulo Pestana deixa esposa, dois filhos e dois netos.
Cultura
Conhecedor profundo de jazz, do pop e da melhor música brasileira, Paulo Pestana, o nosso Paulinho, foi também um dos primeiros jornalistas da capital do país a pautar aqueles meninos rebeldes, de roupas pretas e cheios de espinha que criavam bandas de rock pelo DF... Aborto Elétrico, Legião Urbana, Plebe Rude e Detrito Federal estão entre elas.
Era um brasiliense por adoção, amava a cidade, curtia as noites, as músicas e tinha grandes amizades entre os artistas da cidade, como Tiãozinho, do Squema Seis. Era um boêmio que dormia cedo, que bebia pouco, mas circulava com desenvoltura nos bares humildes da Asa Norte e nas altas rodas da sociedade. Culto, sem ser pedante; avançado, sem ser radical, fez parte da geração de grandes jornalistas brasilienses.
Como cronista do Correio, sabia mapear com leveza, refino e humor a rotina brasiliense. Em meio a articulações de Estado, embates políticos e projetos pessoais, Pestana encontrava na crônica seu retiro espiritual, sua conexão com Brasília. Desde os simples garçom de boteco ao canto de um sabiá em busca de uma parceira, o coração de Pestana estava sempre pronto para fotografar com belas palavras a capital do país.
Mesmo com agenda atribulada, sempre participava como colaborador de grandes reportagens culturais do Correio — era nosso editor de Cultura emérito —, não negava escrever uma crítica musical, contar uma história para valorizar a edição do jornal, como fez nas coberturas das mortes de Michael Jackson e de Belchior, por exemplo. Estava sempre à disposição, principalmente quando o amigo/jornalista Irlam Rocha Lima pedia um "textinho crítico" sobre lançamento de determinado cantor ou cantora. Pestana morreu jornalista até o fim, um conhecedor da alma brasiliense...
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