O que um centenário tem em comum com uma jovem de 19 anos? O amor pelas letras. O pioneiro Arnaldo Júlio Barbosa, 105 anos, e Luísa Fragelli são escritores e se conheceram graças à literatura. Com 14 filhos, 48 netos, 85 bisnetos e 20 tataranetos, Arnaldo inspira não apenas os familiares, mas toda uma geração de novos escritores.
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Luisa e Arnaldo se encontraram em fevereiro, no lançamento dos livros dos dois. Com a novela A Jovem Margarida e as Proezas do Amor, o pioneiro aborda a luta das mulheres por liberdade. Já a jovem Luísa, com a obra Layla Evans e um Novo Mundo, apresenta um lugar de magia e de aventura. Ambos encontraram na escrita uma forma de ser e de estar no mundo, e compartilham o desejo de incentivar outras pessoas a mergulhar no universo literário.
A obra escrita pelo pioneiro é uma novela em formato de cordel lançada no fim do ano passado, composta por 143 estrofes estruturadas em sextilhas e versos metrificados em redondilha maior — fato que impressiona a neta dele e professora Andreia Barbosa. A obra foi escrita à mão em 1947 e lançada como comemoração dos 105 anos de Arnaldo Júlio. "Seu Arnaldo traz vida. Ele é uma enciclopédia ambulante e nos ensina a não desistir do que fazemos de melhor", diz Andreia.
Natural de Pedro Avelino, no Rio Grande do Norte, Arnaldo chegou a Brasília em 1959 e ajudou na construção da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima e da Escola Parque 308 Sul. Por suas contribuições, o pioneiro Arnaldo Júlio Barbosa receberá o título de Cidadão Honorário de Brasília ainda neste mês, a convite do deputado distrital Gabriel Magno (PT).
O poeta e cordelista escreve desde a juventude e não pensa em parar. Ele relata se sentir feliz e satisfeito escrevendo. "Tenho prazer de apresentar o talento e faço de uma forma que agrade a todos", pontua Arnaldo. A família pretende organizar e lançar outras obras do centenário.
Luísa, que também deseja escrever mais livros, relembra o encontro com o escritor. Para ela, a literatura une gerações. "Quando o senhor Arnaldo chegou ao evento, estava acompanhado de uma parente. Caminhou sem pressa até a sua mesa e acomodou as coisas. Assim que percebi que ele também era um escritor, não fiquei surpresa por isso, mas intrigada com tamanha diversidade de autores presentes. Em dado momento, o senhor Arnaldo foi de mesa em mesa tirar foto com cada um dos escritores. Eu me senti lisonjeada. Mais tarde, ele autografou seu livro para mim e eu, o meu para ele. A literatura une gerações, o amor pelas palavras é o que nos conecta", celebra a jovem.
Exemplo em casa
O amor que Luísa sente pela literatura vem desde pequena, e por influência dos pais. "Passávamos um bom tempo dentro das livrarias de Brasília, apreciando os exemplares e lendo as sinopses. Então, desde pequena, gosto de ler. Lia um livro atrás do outro. Quando aprendi a escrever, inventar personagens e histórias não parecia algo complicado. Gostava de criar narrativas, quando brincava, principalmente. Só precisava de um lápis, um papel e logo tinha uma historinha. A escrita e a literatura sempre foram para mim um conforto, como um porto seguro", relata a escritora.
A estudante Sara Tesser, 14 anos, também se encontrou com Arnaldo em uma feira de livros. A adolescente conta que se emocionou e se sentiu inspirada a escrever. "Tenho o sonho de ser jornalista ou até mesmo escritora. Quando eu era mais nova, sempre escrevia histórias em folhas e 'minilivros' nos quais eu usava todos os meus conhecimentos da época. Hoje, adoro fazer redações na escola e, de vez em quando, escrevo cartas e biografias sobre mim. O senhor Arnaldo me ajudou muito em tudo isso, pois vi que suas obras, apesar de serem muito bem trabalhadas e caprichosas, tinham também todo o apoio e carinho de sua família, e para mim saber que a família e os amigos o apoiam, me deixa mais esperançosa e feliz", afirma.
A Jovem
Margarida
e as proezas
do amor
Por Arnaldo Júlio Barbosa. Editora BIP R$ 39,40
Layla Evans
e um Novo
Mundo
Por Luísa Fragelli. Editora da autora.
255 páginas.
R$ 54,99
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