A capacitação e o empreendedorismo têm ajudado cada vez mais mulheres a adquirirem liberdade e tornarem-se donas dos próprios destinos. No Distrito Federal, instituições independentes têm se destacado na promoção de atividades que focam na saúde mental, no empoderamento e na autonomia de mulheres. É o caso da Federação Habitacional do Sol Nascente (Fehsolna) e da Ação Social das Caminheiras de Antônio de Pádua (Ascap), que oferecem cursos na área e, com essas atividades, criam elos entre mulheres e as ajudam a saírem de situações de vulnerabilidade.
Presidente da Fehsolna desde 2007, Edilamar de Souza explica que a entidade sobrevive com ao apoio da comunidade. A entidade realiza cursos profissionalizantes e, atualmente, atende 80 alunas. "Hoje, temos uma marca de roupas chamada Raízes do Sol, na qual promovemos a economia circular por meio do jeans e de outras matérias-primas. Recebemos doações de peças que usamos como tecido para produção de bolsas, mochilas e roupas. A renda colabora para manter a instituição", conta.
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A federação também funciona como sede do G10 Favelas no DF e Edilamar é diretora regional da organização, que não tem fins lucrativos e reúne líderes e empreendedores de impacto social. Além da qualificação em costura, a entidade oferece um curso de gastronomia industrial, o que tem auxiliado a inserir mulheres no mundo do trabalho. O último capacitou 60 participantes e, destas, 34 conseguiram emprego na área.
A doutora em Antropologia Social e diretora da iO Diversidade, Rachel Rua, vê como importante e estratégico para o mercado de trabalho esse tipo de iniciativa. "Mulheres, por diversos motivos, saem do mercado de trabalho e, depois, precisam desenvolver alguma atividade para gerar renda. Só que o tempo que ficaram fora do mercado constitui uma barreira significativa para o seu retorno", analisa. A antropóloga elenca algumas razões para esse afastamento, tais como, maternidade, adoecimento de algum parente, casamento, divórcio, experiências negativas de preconceito ou de discriminação de gênero, raça ou idade.
Para Rachel, passar por um curso profissionalizante ou se capacitar para empreender, com um mínimo de estrutura, é fundamental para que elas possam voltar a ter oportunidade e, assim, adquirir autonomia financeira. "Trazer essas mulheres de volta para a atividade geradora de renda, seja um emprego formal, seja uma atividade empreendedora, é um passo para promover equidade", conclui.
Luciana Rocha, 44 anos, é um exemplo de mulher que teve a vida transformada após se engajar nas atividades da Fehsolna. "Quando conheci a instituição, estava desempregada, com depressão e passando por adversidades. Fiz o curso de costura e foi paixão à primeira vista. A Fehsolna me ajudou a descobrir uma força dentro de mim que eu desconhecia. A convivência com outras mulheres faz com que a gente veja que os nossos problemas são superáveis", enfatiza.
Acolhimento
Suzete Cunha é voluntária e uma das lideranças da Ascap há mais de 10 anos. "Cada mulher tem uma história mais marcante que a outra. Tudo isso me afeta como ser humano. A costura as ajuda a enxergarem do que são capazes. Dessa maneira, vão se descobrindo, se fortalecendo e se empoderando", salienta.
Além das aulas de costura, a associação também desenvolveu um curso de terapia comunitária integrativa, em que as alunas realizavam rodas de conversa com outras mulheres acolhidas, o que cooperou para que superassem dificuldades pessoais. Catarina Lima, 42, buscou a Ascap durante uma jornada de busca por uma válvula de escape. "Tinha perdido meu pai para a covid-19 e estava de luto. Meu filho, na época, tinha 12 anos e estava tirando notas baixas, porque estava sem foco e ficava muito no celular. Quando passei a frequentar a Ascap, comecei a trazê-lo. Ele se interessou pelo curso e ajudava sempre por aqui. Isso o tornou mais focado e, inclusive, as notas aumentaram. Aqui, fiz amizades e melhorei como pessoa", relata.
A conexão com outras mulheres contribuiu para que Jeovani Pereira, 61, superasse o luto. "Tinha perdido minha mãe há menos de um ano. Digo que a Ascap salvou minha vida. Me senti abraçada, literalmente e metaforicamente. Para mim, foi transformador. Quando cheguei, não sabia nem pregar botão. Mas, para mim, o melhor presente é a união de nós todas, que viramos uma família", emociona-se.
Maria Lucicleide, 51, diz que estava em depressão antes de conhecer a Ascap, mas, agora, sente-se muito melhor. "Chegava aqui para fazer o curso e, só de receber um abraço das outras mulheres, era um acalento para a minha alma. Fiz amigas para a vida também", relembra, acrescentando que esteve no fundo do poço. "Aprendi a fazer tapetes e, sempre que posso, presenteio minha família. Além disso, faço reparos. Costurar me tira o estresse", completa.
Saiba Mais
FRASE
"Cada mulher tem uma história mais marcante que a outra. Tudo isso me afeta como ser humano. A costura as ajuda a enxergarem do que são capazes. Dessa maneira, vão se descobrindo, se fortalecendo e se empoderando"
Suzete Cunha, Ascap
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