Investigações da Polícia Federal constataram que o grupo terrorista libanês Hezbollah recrutou brasileiros para tentar atacar a comunidade judaica no Distrito Federal. Alguns dos alvos seriam sinagogas em Taguatinga e Águas Claras, além do cemitério israelista em Brasília.
Em novembro do ano passado, a Polícia Federal deflagrou a operação Trapiche, pois as autoridades do Brasil foram alertadas que terroristas do Hezbollah estavam recrutando brasileiros para a realização de atentados contra judeus no país.
Os mandados de busca, apreensão e prisão temporária ocorreram em três unidades da federação e tiveram como alvos os suspeitos de preparação de atos terroristas e de recrutamento de pessoal, que seriam pagos para a realização de atentados em diversas cidades. As autoridades identificaram a viagem de brasileiros até Beirute, no Líbano, onde o Hezbollah se instalou, para a realização de treinamentos e instruções.
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Na época, o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, comentou a operação da PF. "Os serviços de segurança brasileiros, juntamente com o Mossad e os seus parceiros na comunidade de segurança israelita, juntamente com outras agências de segurança internacionais, frustraram um ataque terrorista no Brasil, planejado pela organização terrorista Hezbollah, dirigida e financiada pelo Irã", dizia a nota.
Presos na operação
Um dos presos na operação foi o músico Michael Messias, suspeito de ter ligações com Mohammad Khir Adbulmajid, sírio naturalizado brasileiro que seria o responsável por estabelecer o contato entre o Hezbollah e os brasileiros recrutados. Lucas Passos Lima também foi preso, junto do técnico em plásticos Jean Carlos de Souza.
Em fevereiro deste ano, a juíza Raquel Vasconcelos Alves de Lima, da 2.ª Vara Federal Criminal de Belo Horizonte, tornou réus dois alvos da investigação. Mohamad Khir Abdulmajid, conhecido como "Habibi", e Lucas Passos Lima agora respondem a ação penal por crimes previstos na Lei de Antiterrorismo.
A avaliação da juíza é a de que a denúncia do Ministério Público Federal contra os dois acusados preenche os requisitos listados no Código de Processo Penal, "uma vez que as imputações abrangem fatos aparentemente criminosos" e são lastreadas "em elementos informativos idôneos". Para Raquel, há justa causa para a abertura de um processo criminal contra os denunciados.
Lucas Passos Lima, que é autônomo e morador de Brasília, está custodiado no Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos, em São Paulo. Ele foi preso em novembro do ano passado, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, quando desembarcava de um voo do Líbano. A audiência de instrução do processo referente a Lima foi marcada para 28 de março. Segundo a decisão, ele "se encontrava no estágio mais avançado do recrutamento".
Mohamad Abdulmajid, sírio naturalizado brasileiro e dono de tabacarias em Belo Horizonte, é considerado foragido. O acusado teria saído do Brasil em outubro do ano passado, com destino a Beirute, sem notícia de retorno ao país. Seu nome foi incluído na Difusão Vermelha da Interpol.
A juíza destacou que, com a prisão de Lima, foi necessário o encerramento da investigação sobre ele, com o oferecimento de denúncia de "maneira célere". No entanto, a magistrada ponderou que foram identificados outros brasileiros alvo de recrutamento pelo Hezbollah, como Michael Messias, Francísio de Souza Batista e Gabriel Paulo Alves.
"O perfil dos recrutados levantou suspeitas pela ausência de vínculos com o país ou condições financeiras para empreender tais viagens ao exterior (alguns por mais de uma vez ou três vezes em menos de 12 meses) e por possuírem antecedentes criminais. Francísio e Gabriel viajaram apenas uma vez cada a Beirute, no Líbano, ao passo que Lucas e Michael voltaram ao mesmo destino no decorrer do ano de 2023", afirmou a magistrada.
O despacho ressalta que, até agora, "não foram encontrados elementos suficientes quanto ao envolvimento dos demais" citados. No entanto, a juíza frisa que há diligências já determinadas que ainda não foram finalizadas, como a expedição de ofícios para as companhias aéreas e agências de turismo responsáveis pela venda de passagens aos investigados. A PF quer saber quem comprou os bilhetes e qual foi a forma de pagamento.
Com informações da Agência Estado
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