Em entrevista ao programa CB.Agro — pareceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília —, a diretora-executiva da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) Loiselene Trindade falou às jornalistas Ana Maria Campos e Mariana Niederauer sobre as dificuldades que as mulheres enfrentam, em especial a violência de gênero no campo. A gestora destacou, ainda, as medidas tomadas pela Emater para inseri-las cada vez mais elas no meio de produção rural.
Como vocês percebem, estando em contato diariamente, a violência contra a mulher no campo?
O trabalho da Emater-DF tem sido identificar essa violência, trabalhar junto com outros órgãos para que a gente consiga oferecer uma rede de apoio. No campo, existem tantas dificuldades quanto na área urbana. Como você vai ligar pedindo socorro se não tem internet? Os dados não retratam a violência sofrida pela mulher na área rural. A Emater trabalha junto a outras instituições como Secretaria da Mulher, Tribunal de Justiça (do DF e dos Territórios — TJDFT) para que a gente possa levar informação, orientação e formas de defender essa mulher no campo.
Como seria essa rede de apoio em termos de estrutura estatal de governo?
Estamos discutindo isso, principalmente, com a Secretaria de Desenvolvimento Social. Trabalhamos com o Cras móvel (Centro de Referência e Assistência Social) e, agora, também, com as famílias. Juntamente com o Tribunal de Justiça, queremos levar a Maria da Penha para o campo. A gente está trabalhando agendas para que possamos sensibilizar a parte técnica, mas também colocar à disposição dos produtores esse tipo de serviço. Entendemos que esse tipo é um trabalho de várias instituições, apoiadas pela Emater DF.
Pode explicar os desafios das mulheres nesse trabalho no agro e o trabalho que a Emater faz para ajudá-las?
Sabemos que hoje o mundo rural é um meio muito masculino. Como executora de política pública, a Emater-DF traz para o campo políticas públicas. Hoje a gente tem os programas de compras governamentais, em que temos como prioridade a mulher que está à frente. Então, ela recebe e fica posicionada à frente. Nas questões das terras rurais, o documento já sai no nome dessas mulheres. Isso tem sido tema de discussão, não só relacionada a essas políticas públicas, como, também, o empoderamento da mulher. Temos buscado empoderar essas mulheres para que realmente elas se sintam as donas, as provedoras do lar.
Regularizar a terra registrando-a no nome da mulher significa que ela ficará realmente na família?
Isso é um grande avanço, porque a gente tem visto ao longo do tempo diversos estudos que têm mostrado o quanto é importante. Isso traz mudança até de cultura no campo, para que, em momentos de violência, ela possa pensar que tem atitudes a tomar e não se sentir refém, garantindo a ela uma segurança patrimonial que é muito importante para que ela possa reivindicar seus direitos. Hoje, em torno de 30% dos nossos produtores são mulheres. Elas emitem nota fiscal, recebem o cartão isso é muito importante. É uma forma de evolução das políticas públicas colocando as mulheres como prioridade. Esperamos que isso tenha uma redução de todos os tipos de violência, mas a rede de apoio precisa chegar ao campo.
Como é o trabalho de levar novas tecnologias?
Fazemos esse trabalho de assistência técnica, onde buscamos aumentar a produtividade. O Distrito Federal é conhecido pelas altas colheitas de alguns produtos, que superam a média nacional. Nosso trabalho com agricultores familiares é levar novas tecnologias, formas novas de produção que melhorem e garantam a sustentabilidade da produção do DF. Esse é um trabalho importantíssimo dos nossos técnicos no campo.
A Emater possui política de incentivo para pessoas seguirem a carreira de produtores rurais?
A Emater se preocupa muito com a presença do jovem no campo. Temos um programa chamado Filhos desse Solo, específico para o jovem voltado para o empreendedorismo rural, gestão, para que a gente possa ter a presença desse jovem no campo. São várias formas de buscar essa fixação do jovem no campo, pois a cidade é muito atrativa. O empreendedorismo, a questão digital, o uso de ferramentas digitais, isso atrai mais o jovem no campo. Temos uma parceria com o Instituto Federal de Brasília, Secretaria de Educação, fazemos cursos para esse jovens prioritariamente da área rural com o foco no empreendedorismo.
*Estagiário sob a supervisão de Suzano Almeida
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