SAÚDE PÚBLICA /

Pacientes buscam testes rápidos, com medo da forma grave da dengue

Nas unidades hospitalares do DF, não faltam pacientes em busca de testagem e de exames de sangue que acompanhem a evolução da doença. Com alta no número de óbitos, a preocupação também aumenta — 55 pessoas já morreram

À medida que a dengue avança no Distrito Federal, cresce a angústia da população em desenvolver a forma grave da doença. Dessa forma, a busca por testes rápidos que confirmem a infecção e por exames de sangue que verifiquem a quantidade de plaquetas é constante nas unidades de saúde. Na manhã de ontem, a reportagem do Correio esteve na tenda de hidratação e a Unidade Básica de Saúde 1 (UBS) de Samambaia, e também na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Vicente Pires, para acompanhar a peregrinação dos pacientes por assistência médica.

Com pulseira verde no braço, que sinaliza casos pouco urgentes, Ivan Rodrigues, 44 anos, estava com olhos marejados e caminhava com a coluna curvada, enquanto aguardava atendimento na UPA de Vicente Pires. "Sinto muita dor no corpo e mal-estar há nove dias, como pouco e com dificuldade, por esse motivo, perdi oito quilos", contou. Ele, que é mestre de obras, acredita que foi picado pelo Aedes aegypti durante o trabalho na casa de um cliente. "Abri a piscina da residência e me deparei com um bocado de focos do mosquito", recordou.

Na última segunda-feira, Ivan foi à mesma UPA em busca de assistência, mas voltou para casa sem atendimento. "Eu não aguentava ficar em pé e estava com uma febre de quase 40ºC. Quando passei pela triagem, apenas deram a orientação de descansar e me hidratar. Desisti. Mas hoje só saio daqui quando for atendido, fizer um exame de sangue e tomar soro", garantiu. Nesta epidemia, ele perdeu uma amiga, de Brazlândia, para a doença, por isso, o temor em desenvolver a forma grave da dengue o atormenta. "Sabemos o quanto esses serviços (públicos) são difíceis. Então, quando a gente procura, é porque realmente estamos na pior", lamentou.

À reportagem, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF) detalhou que a UPA de Vicente Pires dispõe de um total de nove leitos — seis de observação, um para atendimento individualizado e dois de emergência —, porém opera acima de sua capacidade, com uma taxa de ocupação de 200%. "Para acomodar os pacientes, estamos disponibilizando poltronas que ajudam a otimizar nossos serviços e ampliar nossa capacidade de atendimento", disse a nota do Iges.

A preocupação do mestre de obras Ivan aumentou depois que o DF registrou 55 mortes por dengue entre 1° de janeiro e 24 de fevereiro, conforme dados do último boletim epidemiológico, divulgado na segunda-feira pela Secretaria de Saúde (SES), que ainda investiga 82 óbitos. O número de casos prováveis da doença também é alarmante: 100.558, um aumento de 1.449,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Na prática, esse avanço representa a superlotação de tendas, UPAs, UBSs e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Nessas últimas, a taxa de ocupação total dos leitos é de 96,44%.

Atenção às plaquetas

Na UBS 1 de Samambaia, pouco mais de 15 pessoas aguardavam na fila por atendimento médico, entre elas, o garçom Wilson Barbosa, 24, que precisava realizar um exame de sangue para garantir que as plaquetas não estavam abaixo do normal. "Como estou há seis dias com os sintomas, não me sinto tão mal quanto no início da infecção, mas ainda apresento fraqueza, coceira e dor no corpo", disse, enquanto segurava o receituário prescrevendo sais de hidratação e dipirona. Na tenda, onde realizou o teste para a doença, todo o processo foi mais rápido que ele esperava. "Aqui (na UBS), acredito que só serei chamado à tarde, pois está mais demorado e cheio", observou.

Ed Alves/CB/DA.Press - Wilson Barbosa buscou UBS de Samambaia para realizar exame de sangue

Quem também estava na fila era a cuidadora de idosos Denise Oliveira, 36, que levou a filha Lorena, de 5 anos, para fazer o mesmo exame de sangue. "Fico preocupada, porque ela está sem apetite, com febre alta e olhos avermelhados. Os sintomas começaram na quinta-feira passada", relatou. Na UBS, esperava havia quatro horas. "Entraram 29 pessoas para o atendimento e até agora estou sem senha. Acho que só vão distribuir mais à tarde", lamentou.

Denise, que está grávida, também teve dengue na semana anterior e temeu que a infecção pudesse resultar em um parto prematuro. "Mas consultei com meu obstetra e está tudo bem", disse. Em sua casa, os cuidados relativos à água parada são constantes. "Não temos plantas e meu marido sempre limpa a calha para evitar qualquer acúmulo de sujeira. De toda forma, não sabemos como está a casa do vizinho, não é?".

Vale lembrar que, segundo o infectologista Henrique Lacerda, do Hospital Brasília, pacientes diagnosticados com dengue não têm indicação de coletar exames laboratoriais regularmente para avaliação de contagem de plaquetas. "O paciente deve saber reconhecer os principais sinais de alerta da doença: dor abdominal intensa, vômitos persistentes, pressão baixa, sangramentos, sonolência ou irritabilidade. Na presença de algum desses sintomas, deve procurar assistência médica imediatamente, pois os exames laboratoriais isoladamente não definem quais são as medidas e cuidados para o manejo da forma grave da dengue", explicou.

Ed Alves/CB/DA.Press - Denise de Oliveira (mãe) e filha Lorena em fila por exame de sangue na UBS de Samambaia

Testes e hidratação

Na tenda de Samambaia, o pouco movimento durante a manhã surpreendeu até a coordenadora do espaço, Leuda Rodrigues. "Estranho, não é? Ontem (segunda-feira) foi um caos. Estava bastante cheio e tivemos cerca de 300 pessoas atendidas. Os dias de maior movimentação são segunda e quarta-feira", contou. Segundo a enfermeira, são raros os casos de pacientes que chegam em estado grave. "A maioria procura por testes e hidratação." A profissional reforça que o espaço funciona das 7h às 19h, sem interrupções.

Bastante debilitada, a aposentada Maria Zenaide de Almeida, 63, contou com a ajuda da ex-nora Kátia Lamounier, 44,  para chegar à tenda. Em frente à triagem, ela sentia moleza, calafrios, um pouco de falta de ar e suava frio. Com a fala arrastada, disse que tentou atendimento na UBS de Samambaia, mas os profissionais só retornariam ao trabalho durante a tarde. "Estou com sintomas desde ontem (segunda). Acredito que seja dengue, mas preciso fazer um teste para confirmar e receber alguma medicação, pois me sinto fraca", comentou.

Sentada em uma cadeira, Reijane da Silva, 46, tomava soro para remediar a fraqueza decorrente da infecção. "Disseram que meus sintomas — enjoo, tontura e dor de cabeça que não passa — se devem à falta de hidratação. Realmente, tenho dificuldade em tomar água e não aguento mais sentir o gosto do soro caseiro", relatou. Quando os primeiros indícios da doença apareceram, a suspeita dos médicos foi infecção urinária. Como os incômodos não cessaram, consultou novamente e veio o resultado: dengue.

"Há nove dias me sinto assim, não dou conta de fazer nada", lamentou a psicóloga. A suspeita é que a picada do Aedes aegypti tenha ocorrido próximo a onde mora. "Tem uma área verde, com arranjos de flores feitos com pneus, em frente à minha casa. Acredito que, por conta da chuva, possa haver acúmulo de água", analisou.

Ed Alves/CB/DA.Press - Devido à fraqueza, Reijane da Silva precisou tomar soro na tenda de hidratação de Samambaia

CB. Debate

Amanhã, às 9h, o Correio Braziliense realizará o evento "Dengue, uma luta de todos", no formato de CB Debate, com o intuito de conscientizar autoridades sobre as suas responsabilidades e, também, promover um diálogo com a sociedade acerca da importância do envolvimento da população para o enfrentamento da epidemia.
O CB Debate é o ponto de encontro das maiores autoridades no assunto, reunindo renomados doutores, políticos de diversas tendências, governantes, representantes das principais entidades e associações. O evento presencial será realizado no Auditório do Correio, e com transmissão ao vivo neste site e nas redes sociais do jornal. 

Seis perguntas para Henrique Lacerda, infectologista do Hospital Brasília, da rede Dasa, no DF

Como o vírus age no organismo?

Quando uma pessoa é picada por um mosquito infectado com o vírus da dengue, ele entra na corrente sanguínea e se desloca para dentro das células de defesa e musculatura esquelética. Lá, multiplica-se e suas cópias são liberadas na corrente sanguínea novamente, espalhando-se por todo o corpo. Isso desencadeia uma resposta inflamatória, levando à inflamação, que, por sua vez, afeta a parede dos vasos sanguíneos. Assim, o aumento da quantidade de vírus no sangue faz com que os sintomas da doença apareçam.

Por que é tão importante repousar e se hidratar?

A dengue pode causar febre alta, vômitos e diarreia, o que leva à desidratação. Por isso, manter-se hidratado ajuda a evitar complicações graves. Além da água, os pacientes podem tomar soro caseiro, que pode ser feito misturando 1 litro de água filtrada ou fervida com 1 colher de chá de sal e 6 colheres de chá de açúcar. Essa solução ajuda a repor os eletrólitos perdidos durante a doença e a prevenir a desidratação. O repouso é importante porque permite que o corpo combata a infecção de forma mais eficaz, reduzindo o risco de complicações.

Por que é necessário procurar atendimento médico no início da infecção?

Para garantir um diagnóstico precoce e um tratamento adequado. A dengue pode evoluir rapidamente para formas mais graves, como as manifestações hemorrágicas, e o acompanhamento médico pode ajudar a evitar complicações.

No caso de gestantes, a infecção gera risco a mais?

Gestantes com a infecção pelo vírus da dengue podem ter aumento do risco de parto prematuro e de baixo peso do bebê ao nascimento. Por isso, é necessário acompanhamento médico precoce.

A dengue pode deixar sequelas?

A dengue normalmente não deixa sequelas, mas sintomas residuais como fadiga, dores articulares e musculares podem persistir por aproximadamente duas semanas.

Regiões rurais estão mais expostas ao vírus?

As regiões rurais podem estar mais expostas ao vírus da dengue devido à presença de condições favoráveis para a reprodução do mosquito transmissor, como áreas com água parada e falta de saneamento básico adequado. No entanto, a dengue pode ocorrer em qualquer área onde o mosquito Aedes aegypti esteja presente. Daí a importância de medidas preventivas como o controle dos vetores (mosquitos), o uso correto de repelentes e a vacinação.

 

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Seis perguntas para | Henrique Lacerda, infectologista do Hospital Brasília, da rede Dasa, no DF

Como o vírus age no organismo?

Quando uma pessoa é picada por um mosquito infectado com o vírus da dengue, ele entra na corrente sanguínea e se desloca para dentro das células de defesa e musculatura esquelética. Lá, multiplica-se e suas cópias são liberadas na corrente sanguínea novamente, espalhando-se por todo o corpo. Isso desencadeia uma resposta inflamatória, levando à inflamação, que, por sua vez, afeta a parede dos vasos sanguíneos. Assim, o aumento da quantidade de vírus no sangue faz com que os sintomas da doença apareçam.

Por que é tão importante repousar e se hidratar?

A dengue pode causar febre alta, vômitos e diarreia, o que leva à desidratação. Por isso, manter-se hidratado ajuda a evitar complicações graves. Além da água, os pacientes podem tomar soro caseiro, que pode ser feito misturando 1 litro de água filtrada ou fervida com 1 colher de chá de sal e 6 colheres de chá de açúcar. Essa solução ajuda a repor os eletrólitos perdidos durante a doença e a prevenir a desidratação. O repouso é importante porque permite que o corpo combata a infecção de forma mais eficaz, reduzindo o risco de complicações.

Por que é necessário procurar atendimento médico no início da infecção?

Para garantir um diagnóstico precoce e um tratamento adequado. A dengue pode evoluir rapidamente para formas mais graves, como as manifestações hemorrágicas, e o acompanhamento médico pode ajudar a evitar complicações.

No caso de gestantes, a infecção gera risco a mais?

Gestantes com a infecção pelo vírus da dengue podem ter aumento do risco de parto prematuro e de baixo peso do bebê ao nascimento. Por isso, é necessário acompanhamento médico precoce.

A dengue pode deixar sequelas? 

A dengue normalmente não deixa sequelas, mas sintomas residuais como fadiga, dores articulares e musculares podem persistir por aproximadamente duas semanas.

Regiões rurais estão mais expostas ao vírus?

As regiões rurais podem estar mais expostas ao vírus da dengue devido à presença de condições favoráveis para a reprodução do mosquito transmissor, como áreas com água parada e falta de saneamento básico adequado. No entanto, a dengue pode ocorrer em qualquer área onde o mosquito Aedes aegypti esteja presente. Daí a importância de medidas preventivas como o controle dos vetores (mosquitos), o uso correto de repelentes e a vacinação.

Convocação

Foi publicado na edição de ontem, do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), o resultado final, a homologação e a convocação de candidatos para o provimento de vagas e formação de cadastro de reserva para os cargos de condutor de veículo de urgência e Emergência e técnico de apoio operacional - padioleiro da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). O processo foi regido pelo edital nº 26, publicado no DODF em outubro de 2023, que ofertou 50 vagas para condutor, além de outras 80 para o cargo de padioleiro. A contratação é em caráter temporário, com prazo inicial de seis meses, podendo ser prorrogado por igual período. A jornada de trabalho é de 40 horas semanais, com remuneração de R$ 3.679,26 para condutor e R$ 3.600,72 para padioleiro