Justiça

Criador da 'BolsoCoin' tem redução de pena ao ler livros que homenageiam Lula

Extremista que planejou massacre na UnB, em 2012, além de ser criador de uma criptomoeda que homenageou Bolsonaro, Marcelo Valle leu dois livros na cadeia que contam a história de Lula

A Justiça reduziu em 181 dias a pena do extremista e ex-estudante da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Valle Silveira Mello, por ter trabalhado na cadeia e feito a resenha de livros, entre eles dois que homenageiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Preso na Penitenciária Federal de Campo Grande e condenado a 41 anos de prisão por racismo, terrorismo e coação, Marcelo já leu 33 livros na prisão. Entre eles, “Lula, o Filho do Brasil”, dos autores Denise Paraná e Antonio Candido. O livro narra a trajetória de vida de Lula até a cadeira de presidente da República.

O outro que faz referência ao atual presidente é “Lula, volume 1: Biografia”, do autor Fernando Morais, que relata a história de Lula desde a infância até o anulamento de suas condenações, em 2021. Ao ler os dois livros e preparar uma resenha deles, Marcelo teve 12 dias de pena abatida. 

Outros livros lidos pelo ex-estudante da UnB, como “O que sobra”, do Príncipe Harry; “Querido John”, de Nicholas Sparks; e “O Iluminado”, de Stephen King, também ajudaram o réu a abater a pena das condenações.

Em janeiro de 2018, Marcelo, que já era conhecido por ter planejado uma chacina contra estudantes do curso de ciências sociais da UnB, em 2012, voltou ao noticiário, agora, como desenvolvedor da moeda virtual chamada de “BolsoCoin”. A criptomoeda foi inspirada, à época, no candidato a presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

A BolsoCoin estava sendo utilizada em fóruns anônimos como forma de pagamento para usuários que fazem doxxing ou swatting em favor da causa do grupo. O primeiro termo faz referência à prática de conseguir e transmitir dados privados a terceiros. Geralmente, leva a crimes de chantagem ou a tentativas de destruição da reputação da vítima.

Já o swatting é uma tática que consiste, basicamente, em passar um trote às forças de segurança. O hacker aciona os serviços de emergência e os envia à casa de uma pessoa onde não há ocorrência, com o objetivo de causar constrangimento.

Os livros foram solicitados pelo próprio ex-estudante. A diminuição de pena mediante trabalho ou estudo é autorizado pela Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, também conhecida como Lei de Execuções Penais (LEP). O Correio não conseguiu localizar a defesa de Marcelo.

Condenação

Em dezembro de 2018, a Justiça Federal condenou Mello a 41 anos, seis meses e 20 dias por racismo, coação, associação criminosa, incitação ao cometimento de crimes, divulgação de imagens de pedofilia e terrorismo cometidos na internet.

Marcelo Mello, de acordo com a sentença, também costumava denunciar às autoridades postagens anônimas produzidas por ele mesmo, a fim de tentar de manter longe de suspeitas. A Justiça ainda determinou que ele pagasse R$ 1 milhão, além de mais 678 dias-multa (sendo cada um deles no valor de um décimo de salário mínimo em vigor em dezembro de 2016).

Na tentativa de chacina contra estudantes da UnB, policiais federais em buscas em endereços ligados a Marcelo, encontraram um mapa apontando uma casa de festas frequentada pelos universitários no Lago Sul, local no qual, segundo a Polícia Federal, poderia ocorrer a matança.

Por esses crimes, ele foi condenado a seis anos e sete meses de prisão em regime semiaberto. A Justiça do Paraná entendeu que ele havia praticado os crimes de indução à discriminação ou preconceito de raça; incitação à prática de crime; e publicação de vídeos e fotografias de crianças e adolescentes em cenas de sexo.

Recentemente, a Justiça do DF absolveu Marcelo da acusação de ofender e ameaçar de morte o ex-deputado federal Jean Wyllys.

Mais Lidas