Mais propensos a comorbidades e com a imunidade fragilizada, os idosos têm maior probabilidade de apresentar a forma mais grave de dengue. A quantidade de idosos que morreram por conta da doença este ano comprova que essa parcela da população está mais vulnerável à doença. De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (Ses-DF), das 38 pessoas que morreram de dengue em 2024, 20 têm acima de 60 anos. O número representa 52% dos casos que evoluíram para morte. A pasta investiga outras 66 mortes. De acordo com a SES, em 2024, o sistema público de saúde do DF realizou 150.043 atendimentos a pacientes com sintomas de dengue. Destes, 23.920 tinham mais de 60 anos.
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A médica intensivista do Hospital Santa Marta, Adele Vasconcelos, explica que a dengue causa a queda dos leucócitos, que é um grupo de células que têm a função de proteger o organismo contra infecções. Quando isso acontece com idosos, a situação se torna mais crítica. "Quando a gente tem a queda de leucócitos, que é a chamada leucopenia, significa que a imunidade está comprometida. A dengue piora a imunidade do paciente, principalmente no caso dos imunossuprimidos, os pacientes oncológicos que estão fazendo quimioterapia, daí fica mais fácil ter complicações infecciosas por cima da dengue, por exemplo, infecção urinária, pneumonia, amigdalite, infecções em qualquer lugar do corpo por causa da imunidade devido à doença prévia", esclarece.
As tendas da dengue e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) têm recebido pacientes idosos com sintomas da dengue. O morador de Taguatinga Norte Geraldo Moura, 86, chegou à unidade de Vicente Pires, na quinta-feira, sem conseguir andar e com fortes sintomas de dengue. O filho que o acompanhava Josias Alcântara, 42, procurou uma cadeira de rodas no local para o pai, mas não havia nenhuma disponível. "Ele está há quatro dias com sintomas, sem conseguir se alimentar direito, então resolvemos vir aqui", conta.
Vacina
Neste momento, receber o imunizante contra a dengue não é uma opção para os idosos. A vacina Qdenga, a única aplicada no Brasil, só está disponível na rede pública do Distrito Federal para crianças de 10 e 11 anos. O coordenador da Infectologia do Hospital DF Star, Gilberto Nogueira, afirma que a vacina da dengue não foi testada em idosos por ser um imunizante de vírus vivo atenuado. "Sabe-se que o idoso apresenta o que chamamos de imunossenecência, que nada mais é que uma pior resposta do sistema imune. Em tese, vacinas com vírus vivo em quem possui uma imunossupressão têm dois problemas fundamentais: o primeiro é que a resposta vacinal costuma ser pior, menos efetiva. O segundo é que há uma chance maior desse perfil de paciente apresentar a doença pelo vírus vacinal", detalha.
Maria Martins, 76, foi diagnosticada com dengue na última quarta-feira. Ela conta que, desde então, a situação fica cada vez pior. "Não estou me alimentando, estou com disenteria, sempre com a pressão baixa", enumera. "Tenho diabetes, pressão alta, e isso me preocupa muito", relata. Elaine Mendes, 48, levou o pai, Manoel Ferreira, 82, que estava muito debilitado, na UPA de Vicente Pires. "Tem três dias que ele está com sintomas. Fizemos exames e as plaquetas dele estão em 44, muito baixas. Viemos buscar atendimento novamente porque ele está muito cansado, com dores, sem conseguir se alimentar, e a família está desesperada", admite.
O infectologista Gilberto Nogueira explica que o ideal é que os idosos foquem no uso de repelentes, preferencialmente aqueles com maior duração de ação, como os que são à base de Icaridina. "Além disso, tentar priorizar roupas que cubram as pernas e os braços, principalmente no início e final do dia. E não podemos deixar de reforçar a necessidade do cuidado com o ambiente próximo, evitando os focos de dengue", orienta.
O médico falou também sobre o impacto da dengue grave, popularmente conhecida como hemorrágica, nos idosos. "Nesses casos, o tempo médio de recuperação vai variar de 10 a 20 dias, porque requer hospitalização e cursa com algumas complicações que, no idoso, irão naturalmente exigir um tempo mais prolongado para que ele retorne à vida normal", esclarece.
Os idosos, de forma geral, são mais sensíveis a todos os sintomas. O oftalmologista Adelmo Jesus, do Visão Hospital de Olhos, explica que o incômodo nos olhos, no caso dos idosos, precisa ser avaliado de forma mais cuidadosa. "A chance de desenvolvimento de quadros graves é maior. Não é via de regra, mas pode acontecer de casos de dengue serem mais delicados para os idosos, causando dores oculares mais intensas ou até mesmo uma sensação de piora visual", salienta. "Quando um idoso for diagnosticado com dengue, é preciso redobrar os cuidados com os olhos e procurar um atendimento oftalmológico, para que a visão seja avaliada de forma geral e para evitarmos agravamento dos problemas oculares", acrescenta.
Covid
Com uma nova morte por covid-19 registrada em 2024, o vírus volta a acender o alerta no Distrito Federal. Apesar de a vítima não ter sido uma pessoa idosa, os médicos alertam para os cuidados necessários, uma vez que esse público tem mais comorbidades e é grupo de risco. Patrícia Mendonça de Melo Azzi, geriatra do Instituto de Neurologia de Goiânia, explica que, ao pegarem qualquer doença, as pessoas acima de 60 anos têm a possibilidade maior de evoluírem para um quadro grave. "A covid, que é uma virose, pode evoluir para uma pneumonia bacteriana. A dengue, que é uma hepatite, pode evoluir para uma insuficiência hepática. O idosos têm o coração mais fraco, e o rim já funciona com menor filtração. Caso o paciente pegue qualquer uma das patologias, o indicado é beber bastante líquido para hidratar o corpo e, assim, o organismo conseguir reagir melhor", alerta a especialista.
A médica orienta ainda evitar aglomerações e fazer o uso de máscaras, quando precisar estar em um lugar com muitas pessoas. "Isso é válido principalmente para os idosos, para pacientes imunodeficientes", disse. "Tanto para covid quanto para dengue, é importante a vacinação para evitar quadros graves da doença", concluiu.
Adele Vasconcelos, médica intensivista do Hospital Santa Marta, tem observado um aumento na procura pelo pronto socorro por pacientes com suspeita de covid-19. "São sintomas gripais que vêm com as chuvas de verão. Nesse período, acaba tendo uma circulação de vírus respiratórios. Os idosos são grupos de risco da covid. A taxa de transmissão tem aumentado, mas, por enquanto, não tivemos impacto grande nas internações por covid", pontua.
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