OBITUÁRIO

Morre Maria Raimunda Macedo, a Raimundinha, aos 91 anos

A aposentada do Banco Central morreu em decorrência de câncer no intestino, após passar 14 dias internada

Morreu, na madrugada desta quinta-feira (8/2), Maria Raimunda Macedo, 91 anos. Conhecida carinhosamente como Raimundinha, a aposentada do Banco Central faleceu em decorrência de câncer no intestino, após passar 14 dias internada. O velório e enterro de Maria Raimunda ocorrerão a partir das 13h de sexta-feira (9/2), no cemitério Campo da Esperança, na capela especial 3.

Raimundinha tinha superado um câncer no intestino há cinco anos. De lá para cá, ela atravessou o Oceano Atlântico e passou quase um mês entre as duas cidades da Europa que mais amava: Paris e Lisboa. No entanto, nos últimos dias, começou a sentir dores no pé da barriga e foi encaminhada ao hospital Santa Lúcia. Os médicos constataram que o câncer havia voltado. A maranhense passou por uma cirurgia de quatro horas no domingo (4/2) e não resistiu às complicações.

 

Divulgação/Marcelo Abreu - Para os familiares e amigos, o principal legado deixado por Maria Raimunda é o de ter vivido intensamente

Miss Maranhão e leitora do Correio Braziliense, Raimundinha já estampou a capa do jornal no dia 12 setembro de 2000, em reportagem escrita pelo jornalista Marcelo Abreu sobre 18 mulheres do grupo Soroptimistas que faziam trabalhos sociais para ajudar outras mulheres. O tempo juntou Maria Raimunda e Marcelo e eles passaram a conviver. Inclusive, o jornalista foi "adotado" como sobrinho pela maranhense e moradora da Asa Sul — fato que demonstra que Raimundinha tinha o coração grandioso.

 

Cedoc/D.A Press -
Cedoc/D.A Press -

Gosto pela vida

Raimundinha não teve filhos, mas deixou sobrinhos, como o servidor público Paulo Eduardo, a jornalista e editora do Correio Ana Paula Macedo, a aposentada Conceição Avelar e a nutricionista Renata Avelar. "Titia, tia Munda, tia Maria de todos os sobrinhas e sobrinhos netos e também sobrinha bisneta que tanto a emocionou quando carregou no colo. Se contentava com nossas conquistas e se orgulhava do êxito. Sorriso largo, voz firme, lutou com bravura em todos os momentos que precisou com a garra de quem sabia que era um exemplo", afirma Conceição Avelar, primeira sobrinha que veio junto com o marido Stênio para Brasília acompanhar o crescimento da nova capital.

 

Arquivo pessoal - Registro de Raimundinha na juventude, no Rio de Janeiro

Para os familiares e amigos, o principal legado deixado por Maria Raimunda é o de ter vivido intensamente. "Garra de viver, que ela tinha muito, e a fé inabalável. Era muito católica e devota de Nossa Senhora. Perdeu quatro irmãs. Uma delas a minha mãe, que era a única irmã dela que morava aqui. Eram vizinhas de quadra. Superou um câncer há cinco anos. Viveu intensamente. Minha tia gostava da vida", relata o sobrinho Paulo Eduardo.

Fonte inesgotável de inspiração para todos que a rodeavam, Raimundinha era alegre e forte. "Tia Munda era presença marcante onde chegava. Autêntica, obsevadora, vaiodosa, sedenta por conhecer o mundo, provar e degustar os melhores sabores. Vivia intensamente cada momento com a fé da presença de Deus e Nossa Senhora na devoção da oração que tanto me inspirava", declara a sobrinha Renata de Avelar.

 

Arquivo pessoal -
Arquivo pessoal -
Arquivo pessoal -

O jornalista Marcelo Abreu, que conviveu 24 anos com Raimundinha e passou o último Réveillon com ela, lembrou que a maranhense teve uma vida cheia de histórias. "O tempo nos juntou de vez. Fomos ao Rio e à ilha juntos. Ouvia histórias. A gargalhada gostosa dela ecoará. Falávamos por telefone toda semana. Só não nos vimos durante o horror da pademia, mas o contato era frequente. Fui a todos os almoços especiais na casa dela. E a todos os seus aniversários. Estivemos juntos em alguns Natais e ano-novo", destacou o jornalista.

Raimundinha também será lembrada pela generosidade e cumplicidade. A jornalista Ana Sá, editora do Eu Estudante do Correio, a descreve como "protetora". "Perdi minha protetora neste plano, uma pessoa que torcia por mim, pelos meus filhos e minha neta. O que mais me impressionava nela era sua fé inabalável e o gosto pela vida", disse.

Marcelo Abreu/Arquivo pessoal - Raimunda Macedo, a Raimundinha, deixa legado de carinho e alegria

Em postagem recente nas redes sociais, Marcelo Abreu relembrou o primeiro encontro e a amizade que nasceu entre os dois. Leia o depoimento completo:

A PROVA QUE FALTAVA

A história foi contada nesta última sexta-feira (12/01). Foi o aniversário dela. Revelei como conheci Tia Raimundinha Macedo, uma mulher além do tempo, determinada, de opiniões concretas e, acima de tudo, que adora GENTE REAL. Ela me "adotou". Me apresenta a todos como "meu sobrinho".

Ela é a tia de @anape27 e @paulomacedosouza e irmã da mãe deles, a saudosas Concita, e de Marçalina Macedo, que estavam juntinhas nesse dia, um distante 12 de setembro de 2000.

Mas não havia imagem delas. Nem a prova. Não havia. Agora há. E a recebi há pouco. Uma viagem. Voltei àquele dia único e emocionante. Chico Lima, o Chiquinho, a memória VIVA do Correio Braziliense, achou nos arquivos do jornal.

E me enviou pelo zap. PUTZ!!! A reportagem começou na capa do Caderno Coisas da Vida (não existe mais) e foi para a outra página.

Eram 18 mulheres do Grupo Soroptimistas, num dia pra lá de especial, na Chapada Imperial, uma fazenda ecológica distante 50km só Plano Piloto.

E lá fui eu, para ouvir e contar essas histórias. Um dia inteiro com elas. Pra não esquecer. Foi aí que conheci Tia Raimundinha Macedo, a eterna Miss Maranhão.

A foto da capa, de Carlos Moura, foi incrível. Todas elas em cima de um "caminhão-jardineira". O JORNALISMO serve pra isso. Histórias caminham sozinhas e não morrem.

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