Saúde pública

Crianças estão entre os mais fragilizados pelos sintomas da dengue

Mais sensível aos sintomas da doença, faixa entre 10 e 14 anos terá prioridade no recebimento da primeira remessa gratuita da vacina Qdenga. O Correio ouviu o relato de pais que estão lidando com filhos sintomáticos

A principal causa do agravamento da dengue é a desidratação. Pessoas que têm mais dificuldades em se hidratar espontaneamente são as que estão mais propensas à evolução da dengue, como é o caso das crianças. A explicação do infectologista André Bon, do Hospital Brasília Águas Claras, da rede Dasa no DF, ilustra a causa da grande procura, nas unidades de saúde, por pais com os pequenos sofrendo de sintomas de doença.

A psicopedagoga Ana Angélica Santos, 39 anos, levou o filho Victor Hugo Santos, 6, ao Hospital de Campanha, ontem, com sintomas de dengue. Ana conversou com o Correio com o filho no colo, chorando de dor. Ela relatou que o menino teve prioridade de atendimento por ser criança. "Nós chegamos aqui antes das 8h e estamos saindo agora às 11h30. Consultamos com o pediatra e ele fez o teste sorológico de dengue. Como o teste ficará pronto em duas horas, eu vou buscar na Unidade Básica de Saúde (UBS). Eles recomendaram um protocolo de hidratação, medicação para a dor", contou.

Ed Alves/CB/DA.Press -
Ed Alves/CB/DA.Press -

O infectologista André Bon explicou ainda que, além das crianças terem mais dificuldade de fazer a ingestão necessária de água, o organismo delas têm maior dificuldade em controlar o equilíbrio de líquido dentro do corpo, o que as torna ainda mais vulneráveis.

Ontem, a faxineira Francenilde de Carvalho, 38, levou o filho Andre Gabriel, 7, ao Hospital de Campanha com febre e vômito. "Nós demoramos menos de uma hora para sermos atendidos. Ele fez o teste sorológico de dengue e o resultado só sai entre duas e três horas. Como moramos longe, no trecho 3 do Sol Nascente, vamos ter que esperar aqui mesmo", disse. "Ele está com os sintomas há três dias. Nos disseram que devíamos esperar entre cinco e sete dias, mas ele só piorava, então trouxemos logo", acrescentou.

Imunização

O Distrito Federal está entre as unidades da Federação que serão contempladas com a primeira remessa de vacinas contra a dengue. O Ministério da Saúde atendeu ao pedido do Governo do Distrito Federal (GDF) de prioridade devido à situação de emergência em virtude do número de casos da doença. O quantitativo destinado à capital federal ainda não foi divulgado pelo governo federal.

A imunização tem como público-alvo as crianças de 10 a 14 anos, que concentram o maior número de hospitalizações por dengue. Na capital federal, a faixa etária equivale a 194 mil habitantes, como informou a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio.

A vacina conta com duas doses. A expectativa é de que a primeira dose seja aplicada ainda em fevereiro, com data a ser definida. A segunda tem um intervalo de três meses para aplicação.

Voluntários

Profissionais de saúde, com nível superior e médio, podem se voluntariar para atuar nas ações de combate à dengue no Distrito Federal. As vagas são destinadas a médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, entre outras carreiras da área de saúde. A atividade é em caráter espontâneo, sem remuneração e sem vínculo funcional ou empregatício. O voluntário escolhe o dia e o horário em que poderá ajudar dentro das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e/ou das nove tendas de hidratação espalhadas pela capital. Não há prazo para o término das inscrições, que ficarão disponíveis até a sazonalidade da dengue no DF amenizar.

 


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Explicando os subtipos

A dengue tem quatro subtipos. No Brasil, tem mais os tipos 1 e 2, que se alternam em predominância em momentos epidêmicos. O primeiro episódio não é necessariamente pelo tipo 1, pode ser qualquer um dos outros que estejam circulando no momento em que a pessoa estiver suscetível. Ter tido dengue previamente é o principal fator de risco para a pessoa desenvolver a dengue grave no segundo episódio.

O principal fator de risco para a dengue grave é ter tido um episódio anterior. Depois do primeiro episódio, a pessoa fica imune contra todos os subtipos por pelo menos dois anos e pelo subtipo que ela teve a doença pelo resto da vida. Depois de dois anos, a pessoa fica suscetível a novos episódios por outro subtipo e tem um risco muito aumentado em relação ao primeiro episódio de ser forma grave no segundo. Não obstante, o segundo episódio, na maioria das vezes, é uma dengue clássica, leve. Mas a ocorrência de dengue grave é muito maior no segundo episódio.

A dengue tipo 2 está sendo mais comum nesse pico epidêmico. O tipo 1 ou tipo 2 vai predominar de acordo com a suscetibilidade da população àquele tipo de vírus e o tipo de vírus circulante no momento. Depois de uma grande epidemia de dengue 1, as pessoas ficam protegidas contra a dengue 1 e não estão protegidos contra a dengue 2. No momento que houver a circulação do 2, o maior número de casos vai ser de 2 e não de 1. Isso depende majoritariamente do bolsão de população suscetível àquele vírus. Os dois vírus estão circulando, só que como existem mais pessoas suscetíveis ao 2, existem mais casos de dengue 2. Isso depende muito da proporção dos suscetíveis na população e da circulação do vírus naquele momento.

André Bon, infectologista do Hospital Brasília Águas Claras, da rede Dasa no DF