Dengue

Boletim da dengue mostra que casos ultrapassam 46 mil

Mortes confirmadas pela doença transmitida pelo Aedes aegypti chegaram a 11. Boletim divulgado ontem afirma que cinco regiões administrativas, lideradas por Ceilândia, concentram quase metade de todas as ocorrências

O Distrito Federal alcançou a marca de 46.298 casos de dengue — aumento de 1.120,6% em relação ao mesmo período do ano passado — e 11 mortes em decorrência da doença desde o começo do ano, segundo o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). A fala ocorreu durante a visita do chefe do Executivo local ao Hospital de Campanha (HCamp) da Aeronáutica, montado em Ceilândia. A unidade, que tratará apenas pacientes com dengue ou com suspeita, iniciou os atendimentos na manhã de ontem.

Os dados constam no boletim epidemiológico divulgado, nessa segunda-feira (5/2), e que consolidam dados de 31 de dezembro do ano passado a 3 de fevereiro deste ano. De acordo com a Secretaria de Saúde, existem, ainda, 45 casos suspeitos de morte pela doença. 

Durante a visita ao HCamp, Ibaneis destacou os dados. "Nós já tivemos aqui no DF mais de 46 mil casos registrados e já estamos com 11 mortes confirmadas. Então, o momento é de emergência e realmente pedimos apoio de toda a população."

Diante da alta de casos de dengue, o governador enfatizou que o governo do DF tem empenhado recursos no combate ao mosquito e na compra de testes rápidos. "Temos condições de dar hidratação à população para que evite o mal maior e, àqueles casos mais graves, nós estamos levando para os hospitais mais próximos. Esperamos dar suporte para toda a população para que a gente tenha o atendimento dentro da necessidade que as pessoas têm", disse o chefe do Executivo local.

Na manhã de ontem, o HCamp, da Aeronáutica, iniciou os atendimentos a pacientes com dengue ou com suspeita da doença. Localizado ao lado da Unidade de Pronto-atendimento (UPA) I, de Ceilândia, a expectativa é de que a unidade atenda 600 pessoas por dia, segundo a SES-DF. A estrutura comporta até 60 leitos e é formada por módulos, onde funcionam áreas para acolhimento, consultas e laboratório, entre outras. O hospital funcionará 24 horas. A triagem das pessoas que chegam à unidade é feita usando parte do Hospital da Cidade do Sol.

A secretária de saúde, Lucilene Florêncio, comentou que, nas primeiras horas de funcionamento, houve uma grande procura pelo atendimento. "Sabíamos da demanda e estamos fazendo o nosso melhor." O brigadeiro Braga, da Aeronáutica, responsável pelo HCamp, explicou que o tempo de atendimento é muito variável. "Por conta dessa classificação que nós estamos tendo vamos ter casos graves e que nem passam pela triagem", explicou o militar.

Sobre os casos graves da doença, Lucilene detalhou que o atendimento pode ser feito no Hospital da Cidade do Sol, que fica ao lado do HCamp, e conta com 40 leitos ativos, no momento. "Precisando de unidade de terapia intensiva, (o paciente) entra numa (lista de) regulação e os pacientes são destinados para as nossas UTIs. Nós temos um atendimento escalonado de A a C. O A é acolhimento, orientação e hidratação oral, o B e C precisam de hidratação venosa, que nós temos aqui nos módulos da Aeronáutica. Precisando ficar mais de 24h, temos o Hospital da Cidade do Sol e continuamos com as nossas UBS com horário ampliado e as 13 UPAs com atendimento. Não há nenhuma barreira para ser acolhido", completou.

Atendimentos

O técnico de celular Paulo César Gontijo, 37 anos, se escorava na parede enquanto aguardava a triagem no HCamp. Morador do Sol Nascente, ele contou que teve dengue e covid-19 ao mesmo tempo, em 2020, e acreditava estar novamente com a doença causada pelo mosquito Aedes aegypti. "Estou com diarreia, dor de cabeça e dor no corpo. A diarreia não para, e estou assim há mais de uma semana", relatou o paciente, que ficou sabendo da unidade militar de atendimento pela imprensa.

Acompanhado da esposa, Elaine Assunção, 35, Paulo não tinha feito o teste para confirmar se estava com dengue. "Vim tentar fazer o teste e ver se tomo algo para a hidratação. Por conta da diarreia, estou me sentindo bem fraco", comentou o técnico de celular. Sobre a primeira vez que teve dengue, ele relembrou: "Foi horrível, fui parar no leito, fiquei uns 15 dias internados". Elaine disse nunca ter tido dengue, mas se mostrou com medo devido a alta de casos. "A situação está muito grave. É preocupante", pontuou a dona de casa.

O corretor de imóveis Wilson Lopes, 57 anos, saiu de Samambaia Norte, onde mora, para ir até o HCamp em busca de atendimento. "Vim para cá, porque lá em Samambaia não estava conseguindo atendimento. É tanta gente com dengue que os hospitais não estão dando conta de atender", disse. Após passar pela triagem e ser atendido, ele contou que estava sentindo muita dor no corpo e uma fraqueza enorme. "Eles me atenderam muito bem, graças a Deus, e me passaram medicamentos para tomar em casa", comentou.

Com dengue pela quarta vez, Wilson se mostrou otimista na recuperação da doença. "Vou superar essa vez também", ressaltou o corretor de imóveis. Sobre a alta de casos de dengue no DF, o morador de Samambaia Norte alertou que a população precisa ficar atenta aos pontos de foco do mosquito. "Tem que ter muito cuidado com o lixo, evitar acumular água, olhar para a própria casa, porque a situação está muito séria", pontuou.

Morador de Ceilândia, Anderson Gonçalves, 44 anos, contou que foi pela manhã a uma unidade de pronto-atendimento antes de ir no HCamp. "Estava muito cheio. Conversei com o guarda na portaria e disseram que o hospital abriria hoje, então fiquei esperando para ser atendido." Com dores no corpo, na barriga e de cabeça, ele relatou que os sintomas tiveram início no último sábado. "É a terceira vez que pego dengue", disse o gráfico.

Para Anderson, a consulta no HCamp foi muito boa. "Tudo muito organizado. Acho que o atendimento deles deveria ser exemplo para os outros locais", avaliou. O morador de Ceilândia destacou que a comunidade precisa ficar alerta aos cuidados para combater a dengue. "Essa situação também é culpa da população que deveria cuidar mais e prestar mais atenção com a própria residência. Em Ceilândia, tem muita carcaça jogada", ressaltou.

Edineia Betânia Aragão, 52, foi até o HCamp para acompanhar o marido, que estava com sintomas de dengue. Ela contou que teve dengue hemorrágica e saiu do hospital há uma semana. "Nunca tinha tido, mas lá em casa sete pessoas pegaram desde novembro para cá. A gente toma todos os cuidados dentro de casa. Nem vaso de planta eu tenho. Fiquei muito ruim. Tive muita dor de cabeça e dor no corpo, vômito, fraqueza, queda de pressão. Foi horrível!", recordou a moradora de Ceilândia.

Descarte de lixo

Ainda na manhã de ontem, a vice-governadora Celina Leão (PP) esteve no HCamp para uma visita antes do início dos atendimentos, e depois foi para uma ação de retirada de lixo no Setor H Norte, em Taguatinga. No local, ela comentou que o espaço havia sido limpo há seis dias e estava novamente cheio de entulho. "São em áreas como essa, que a gente acabou de limpar, onde percebe-se uma falta de conscientização da própria população. Vamos fechar essa área aqui e vamos plantar mudas. Pedimos para a população ter esse entendimento. A percepção também é de uma falta de educação mesmo de algumas pessoas que insistem em descartar o lixo de forma irregular", destacou.

Sobre o HCamp, Celina comentou que a unidade militar vai ajudar o GDF a desafogar as UPAs e os hospitais da rede pública para que, nesses locais, sejam atendidos principalmente os casos mais graves da doença. A vice-governadora falou, ainda, sobre as vacinas contra a dengue. "A própria ministra disse que o primeiro lugar a ser imunizado será o DF. Nós estamos aguardando para que nessa semana ainda a gente possa começar a vacinar", ressaltou, completando que não há a informação sobre a quantidade de doses destinada para a capital.

Na visita ao HCamp, Ibaneis também comentou sobre o descarte de lixo e a ação conjunta das secretarias com o Serviço de Limpeza Urbano (SLU). "Tivemos a oportunidade de contratar mais 200 caminhões agora para reforçar essa limpeza. Esperamos com isso ter um combate preciso e essencial para que a população sofra o mínimo possível", disse o governador.

Ibaneis ressaltou que o GDF fez o trabalho de prevenção contra a dengue e está fazendo a limpeza da cidade com os caminhões retirando lixo, mas a população precisa ficar atenta ao descarte. "As pessoas não podem ter dentro das suas casas criadouros do mosquito da dengue. Nós temos que ter realmente a conscientização da população para evitar. Nós sabemos da importância da participação da população para esse combate, então nós apelamos a população do DF para que olhem para dentro das suas casas e olhem para ao redor das suas casas onde tem bastante lixo jogado", apelou.

 

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Boletim de 31/12 a 3/2

- Contaminados — 46.298 (+1.120,6%)

- Mortes: 11

- Mortes sob investigação: 45

- Casos prováveis se concentram entre 20 e 29 anos

 

- Cinco regiões acumulam 43,5% dos casos

Ceilândia — 9.925;

Sol Nascente/Pôr do Sol — 2.704;

Taguatinga — 2.692;

Samambaia — 2.461;

Brazlândia — 2.351