O aumento no número de casos de dengue foi observado em outubro do ano passado pelo Ministério da Saúde e, na ocasião, foi enviado um alerta a estados e municípios. A informação é da diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis da pasta, Alda Maria da Cruz, em entrevista às jornalistas Sibele Negromonte e Mila Ferreira, no programa CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília. Segundo ela, não houve falta de planejamento para o combate à doença e foram sendo adotadas medidas para o enfrentamento durante o período normal de sazonalidade. Ela também falou sobre a instalação, nesta quinta-feira (1°/2), do Centro de Operações de Emergência (COE Dengue) no Ministério da Saúde. Por fim, afirmou que o maior problema da dengue está dentro das residências e pediu que a população tenha os cuidados necessários para não proliferar o mosquito transmissor.
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Foi instalado nesta quinta-feira o Centro de Operações de Emergência (COE Dengue). Qual o papel dessa instância no combate à doença?
A ministra Nísia Trindade anunciou a instalação do nosso Centro de Operações de Emergência (COE Dengue), uma instância de atuação onde coordenamos as ações. Estamos trabalhando desde o início de dezembro com a Sala Nacional de Arboviroses. Nela, nós também unimos esforços. São vários grupos, departamentos e secretarias que trabalham conjuntamente nas ações que são necessárias para o controle da dengue. Esse centro de operações é um nível um pouco acima dessa instância que permite que tenhamos uma maior agilidade nas tomadas de decisão. Isso faz com que possamos trabalhar antecipadamente para evitar que tenhamos, então, um aumento dos casos.
A dengue é uma doença que acontece todos os anos. Desta vez, houve uma falta de planejamento? Por que o aumento no número de casos?
Houve um aumento de casos desde o ano passado. Não sei se vocês lembram, mas, em 2023, nós instalamos um Centro de Operações de Emergência. Estávamos começando no governo com uma série de de questões a serem resolvidas. Esse centro durou 91 dias e, desde então, vínhamos nos preparando para um período sazonal normal, que começa mais para o fim de fevereiro e início de março. Nos antecipamos fazendo reuniões com estados e municípios. Além de encontros com o planejamento e introdução de novas metodologias para o controle vetorial, criamos diretrizes de controle com estratégias para além do combate ao mosquito adulto e às larvas. Atualizamos os manejos de controle e clínico, fizemos treinamento de profissionais tanto da vigilância quanto da saúde. Todas essas ações que fomos fazendo foram visando o período normal de sazonalidade, para que tivéssemos uma calmaria. Em um monitoramento que fizemos, começamos a observar que, em outubro, estávamos com o número de casos acima do esperado para o período. Enviamos alerta para os estados e municípios. Desde então, estamos intensificando essas ações.
O excesso de chuva e a seca são fatores que ajudam na proliferação e nós temos ambos no país.
Exatamente. Desde dezembro, estamos fazendo reuniões gerais com estados e municípios. Temos tido uma participação muito maciça nessa iniciativa. As equipes de vigilância estão muito comprometidas, mas o mosquito não é fácil. Se fosse, nós não estaríamos com a dengue há tanto tempo. Nosso lema é "não adianta a gente fazer a mesma coisa que estamos fazendo a todo esse tempo e não tem trazido muito resultado". Por isso, a implementação de novas metodologias. Iniciamos a implantação da Wolbachia, além de adquirir tudo que era possível dentro do mercado para esse período. O que é a Wolbachia? É uma bactéria que fomos introduzindo dentro do mosquito. Esse pernilongo com essa bactéria é solto no meio ambiente e fica incapaz de transmitir vírus. Dessa forma, vamos substituindo o Aedes aegypti. Isso tem dado bons resultados. Os estudos com pesquisa realizada anteriormente mostraram isso.
As pessoas idosas são as mais afetadas, mas a Anvisa não autorizou a vacina para quem tem mais de 60 anos. Por quê?
Não é que a Anvisa não autorizou a vacina. Ela só permitiu para a faixa etária que a empresa responsável pelo medicamento validou. Os estudos foram feitos na faixa etária de 4 a 60 anos. É isso que a empresa submeteu, e é o que tem como faixa de segurança.
Vão chegar pouco mais de 700 mil vacinas. Tem previsão para chegar mais?
Adquirimos tudo o que era possível. Nosso diretor do Programa Nacional de Imunizações, Eder Gatti Fernandes, contou que se tivéssemos 50 milhões de doses disponíveis, teríamos comprado. Mas a empresa tem essa limitação do quantitativo. Só atende a 3,2 milhões de pessoas. Tivemos que fazer um estudo para a seleção dos indivíduos que seriam elegíveis.
O Butantã também está na fase final de testes de aprovação para uma vacina. Só falta a validação da Anvisa?
Tem todo um estudo que a Anvisa vai fazer. Aprovando o produto para o mercado, ele entra em um processo no Ministério da Saúde seguindo os mesmos trâmites das outras.
Qual sua mensagem para a população?
O que eu deixo para a população é que nós sabemos que o grande problema da dengue está dentro das nossas residências. A vacina é importante, mas as estratégias de controle ao vetor são fundamentais. Retirar o lixo do nosso quintal e todas as coleções de água. Qualquer pocinha que possa ser um criadouro do mosquito deve ser removida do seu domicílio. Em caso de sintomas, procurar as nossas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e não fazer medicação por conta própria. Nossos profissionais estão preparados para atender a população.
*Estagiário sob a supervisão de Malcia Afonso
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