Manter crianças e adolescentes do Riacho Fundo 2 equilibrados psicológica e emocionalmente é uma preocupação de famílias, do governo da capital federal, de moradores e de grupos organizados da sociedade. Diversas ações — algumas com apoio de verbas públicas ou patrocínios privados, mas a maioria, sem — buscam dar apoio. Para cativá-los, eles têm utilizado o esporte ou brincadeiras de rua. Assim, além de exercícios físicos e jogos, são realizados processos de integração e socialização. A meta é afastá-los da criminalidade, das drogas ou da depressão — por vezes originada de agressões físicas ou sexuais, inclusive, em suas própria casa. Agora, uma nova proposta chega a essa região administrativa. O projeto-piloto Psicologia Amiga, que começa hoje, oferecerá apoio psicológico e jurídico (neste caso, a depender do que for verificado junto ao paciente). A meta é que, até maio, 500 atendimentos sejam realizados e 120 menores beneficiados, um trabalho que integrará pais e mães.
A ação tem participação do Conselho Tutelar, da Secretária de Justiça e Cidadania do Distrito (Sejus) e do Instituto de Popularização do Direito (Ipod). Max Telesca, presidente do Ipod, explica que atuarão profissionais no projeto da assistência social, direito e psicologia, e haverá palestras para os menores e seus responsáveis. Os jovens ainda terão, em média, seis sessões com psicólogos, para analisá-los.
"Pode ser que uma dessas crianças vá mal na escola por algum problema de saúde — oftalmológico, por exemplo. O psicólogo constatará e solicitará ao assistente social que a ajude a obter o auxílio. Mas, também, pode ser que isso venha por conflitos em casa ou algo pior — abusos de alguma natureza. Aí, constatando-se necessidade de atuação judicial, o caso vai para advogados", disse Telesca.
O Psicologia Amiga adotará a psicoterapia breve. Esse atendimento — reconhecido por diversas instituições, como a Universidade de São Paulo — otimiza as condições para que pacientes e psicólogos obtenham resultados satisfatórios. "Talvez algumas crianças necessitem de um trabalho de longo prazo. Esse projeto-piloto pretende ser um apoio não só a eles, mas também aos serviços públicos de saúde mental, onde é muito difícil encontrar vagas", comentou Mizael Dias, psicólogo responsável pela equipe que atuará na iniciativa.
Suporte
"As crianças e adolescentes do Riacho Fundo 2 conquistaram o acesso à saúde mental, um direito fundamental. Meninos e meninas vulneráveis enfrentam desafios que podem impactar seus desenvolvimentos emocionais e sociais. Oferecer suporte psicológico é essencial para ajudá-los", destacou a titular da Sejus, Marcela Passamani.
"Vamos ter mais uma iniciativa para evitar que crianças que estejam deprimidas ou sob algum risco caiam no crime ou façam bobagem. E, como é gratuita, será acessível a muitos", comemorou conselheiro tutelar Wallace Maciel. Ele lembrou que a região administrativa tem outras ações, como o La fúria, que usa a brincadeira da queimada para ajudar jovens e mulheres vítimas de agressões domésticas. Mencionou também o Vencer — que com o futsal evita que adolescentes cometam crimes e sejam sedentários — e o Hope, que, entre outras frentes, oferece assistência psicológica a crianças vítimas de violência doméstica, abusos ou têm ansiedade e depressão.
Casos
O Correio falou com duas mães que participam do Psicologia Amiga. Elas inscreveram seus filhos no projeto, que tem 40 pacientes confirmados.
Uma delas, Rosa* (nome fictício), 38, disse estar esperançosa de que encontrará ajuda para que sua filha, de 14, trate um quadro depressivo, iniciado na pandemia. Segundo a mãe, ela via discussões agressivas entre parentes. Paralelamente às brigas, as notícias de mortos por covid-19 a levaram a se isolar socialmente.
Marta*, 39, inscreveu seus dois filhos, com menos de 10 anos, tentando controlar a hiperatividade e a indisciplina em ambos. "Essa ajuda profissional será boa para eles e para mim", considerou a mãe.
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