"Valorizar" é um verbo adequado para traduzir a essência da iniciativa As Desempregadas, desenvolvida há 10 anos por mulheres artistas, mães, realizadoras e empreendedoras no Distrito Federal. Elas compõem um grupo que incentiva a prática e a criação artísticas teatrais, além da independência financeira, a autonomia sobre os próprios corpos, os saberes e as potencialidades do público feminino.
E como resultado do que elas desenvolvem, o Circuito das Desempregadas oferece ações itinerantes em espaços de acolhimento a outras mulheres em cidades do DF. Esse projeto conta com oficinas vivenciais de autoconhecimento intituladas Mulheres em Roda e apresentações do espetáculo cênico-feminista Pedaços de Maria, atividades ministradas e apresentadas por Maria Tavares, idealizadora do circuito.
"A montagem Pedaços de Maria nasceu ano passado e tem referências a minha biografia, que se entrelaça com as histórias de outras mulheres", explica Maria. A peça incorpora elementos das histórias compartilhadas nos cursos teatrais. A troca de experiências transferida para a atuação é estimulada por outros projetos desenvolvidos pelas Desempregadas.
Esses intercâmbios buscam fortalecer, valorizar, sensibilizar e abrir espaço ao protagonismo de mulheres e suas trajetórias de vida e memórias, além de fornecer mais material para o roteiro de Pedaços de Maria. "É uma troca minha com essas mulheres. E vem muito do desejo de que elas vejam a potência de suas histórias e memórias para que, a partir disso, possam vislumbrar a possibilidade de ter autonomia, em todos os sentidos, e de sonhar, já que muitas acham que perderam essa capacidade. Mas, com as provocações, vão se reconectando com os sonhos", revela a idealizadora.
Um minidocumentário da realização dessa obra, com depoimentos das participantes, deve estar pronto em março. Ele será levado a diversas instituições e entidades que acolhem mulheres dos mais diversos perfis e em situação de vulnerabilidade.
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Valorização
O Circuito das Desempregadas realizou uma de suas atividades, nesta segunda-feira (19/2), no Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, localizado em Sobradinho. Lá, residem mulheres idosas que enfrentam dificuldades econômicas e sociais, como abandono da família, pobreza, doenças crônicas. Angelina Pereira Barbosa, 72 anos, é uma das 15 internas selecionadas pela casa para o projeto. "Foi muito bom porque nos foi dada a oportunidade de falar sobre nós mesmas e dos nossos sonhos", diz ela, residente há seis anos no local.
Nesse primeiro contato, Angelina contou no Mulheres em Roda a dureza e sacrifícios que enfrentou na vida. "Trabalhei desde criança porque fui abandonada pelos meus pais. Trabalhei até os 66 anos, e minha preocupação maior era ter um lugar para ficar depois de velha. Consegui ficar aqui (no lar), onde sou muito bem cuidada e tratada. Gosto muito", revela.
O seu maior sonho é passar um dia em uma creche, mais especificamente uma do Varjão que tem o mesmo nome dela. "Queria passar o dia com as crianças, levar lanche e interagir com elas. Esse sonho vem da falta de uma infância que não tive. Com 10 anos já limpava casa e lavava roupa", lembra a aposentada. "Além disso, tem o fato de eu gostar muito de conversar e contar histórias, então eu sei que vou gostar do projeto. A gente precisa disso também para sair um pouco da rotina", frisa.
No Lar dos Velhinhos, ocorrerão mais duas Mulheres na Roda e o espetáculo Pedaços de Maria será apresentado no domingo (25/2). Neste mês, o circuito ainda passará pelo Centro de Formação e Cultura Nação Zumbi, em São Sebastião, onde haverá apenas a apresentação da peça, neste sábado (24/2); e na Casa Luar, na mesma região, em 28 de fevereiro, com duas rodas de conversa e a encenação do espetáculo.
O projeto deve seguir em março com oito apresentações do Pedaços de Maria e quatro vivências de Mulheres em Roda em cinco cidades do DF (Sobradinho, São Sebastião, Sol Nascente, Estrutural e Paranoá). Elas serão realizadas em associações, beneficentes, espaços culturais, escolas e centros de atendimento públicos. Serão ações gratuitas voltadas para o público feminino, em que essas entidades focam sua atuação.
Kamala Ramers, produtora do projeto, explica que elas visam a instituições que fazem trabalho social no DF. "O critério de escolha dos locais foi social, e a maior abrangência de faixa etária possível e dos diversos perfis sociais", detalha.
O Projeto Circuito das Desempregadas está amparado pelo Termo de Fomento (MROSC) nº 103/2023, celebrado entre a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal e a Associação Cultura Candanga.
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