DENGUE

Dengue: A peregrinação dos doentes em busca de atendimento continua

Pacientes que recorrem aos sistemas de saúde de regiões com alta incidência de infecção por Aeds aegypti enfrentam longa espera e, às vezes, saem em busca de outra unidade de atendimento para conseguir resolver o problema

Maria Alice Ferreira foi ao HCamp pela segunda vez em duas semanas consecutivas -  (crédito: Giulia Luchetta/CB/D.A Press)
Maria Alice Ferreira foi ao HCamp pela segunda vez em duas semanas consecutivas - (crédito: Giulia Luchetta/CB/D.A Press)

Os sintomas da dengue têm levado centenas de pessoas às unidades de saúde em busca de socorro. Somente este ano, a Secretaria de Saúde realizou 150.043 atendimentos, em um grupo de 87.818 pacientes. Os idosos acima de 60 anos e as crianças acima de 14, representam quase metade de todas as pessoas que passaram, até agora, pelo sistema de saúde com sinais de dengue.

Entre a população, não há dúvidas sobre a gravidade da situação. Na casa de Jennifer Vitória Menezes, de 20 anos, três familiares foram infectados, além dela. A feirante Josélia da Silva, de 45, conhece quatro comerciantes que se contaminaram. O filho da melhor amiga de Luzia Augusto, 62, passou uma semana internado, e deve receber alta até amanhã.

O motoboy Bruno Henrique Rabeiro, de 34 anos, estava acompanhando a esposa, que começou a apresentar sintomas da infecção pelo Aedes aegypti há cinco dias. Então, eles decidiram procurar a UPA 1 de Ceilândia na madrugada de sábado. "Chegamos por volta das 4h da manhã, não estava cheio, mas, simplesmente não estavam chamando (os pacientes). Por volta das 6h, 7h horas, chegou muita gente fazendo retorno, tomando medicação, mas disseram que só atenderiam os pacientes com pulseira laranja ou vermelha", afirmou.

O protocolo da SES/DF indica que a pulseira de Classificação de Risco de cor vermelha sinaliza os casos de emergência e laranja, os muito urgentes. Já as cores amarela, verde e azul, designam urgente, pouco urgente e não urgente, respectivamente.

Perguntado sobre quantas pessoas com dengue ele conhece, Bruno faz uma pausa para contar nos dedos. "No meu trabalho foram sete. A minha vizinha, do lado direito, pegou. Na casa do lado esquerdo, os três moradores tiveram. Minha sogra já 'pegou' duas vezes, inclusive dengue hemorrágica e o meu filho, de 7 anos, também", relatou Bruno Henrique.

Por volta das 11h de domingo, a UPA 1 de Ceilândia ainda apresentava o cenário descrito por Bruno Henrique. A recepção estava vazia mas não enganava Regina Luzia Pereira, 61, acompanhante do filho Gabriel Douglas Pereira, de 18 anos, que usava uma pulseira de cor branca (normalmente destinada aos pacientes da internação).

"A maioria das pessoas que estava aqui já foi embora, porque não conseguiram atendimento. É um entra e sai. Mais cedo, uma moça chegou passando mal de pressão alta e pediram para ela voltar à noite", relatou Regina. Gabriel estava em busca de um teste de dengue, mas não conseguiu realizá-lo na unidade. Pacientes relataram que a sala de medicação estava lotada, porque, além dos enfermeiros, havia apenas um médico de plantão.

Passando álcool em gel nas mãos, Maria Alice Ferreira de Almeida, de 60 anos, aguardava sentada na área externa do HCamp. Esta é a segunda vez, em duas semanas, que ela vai ao local. Na primeira vez, o atendimento demorou 3 horas. Enquanto o estado de saúde da pensionista melhorava, sua filha, Patrícia de Almeida, 39, começou a apresentar sintomas típicos da arbovirose. "Faz 15 dias que tive dengue", recorda Maria Alice, "mas, de vez em quando, sinto muita fraqueza. É como se tivesse ficado uma sequela".

Qdenga

Além de recolher lixo, entulhos e evitar água parada em vasos de planta, outra receita para evitar a dengue é a vacina. Segundo a Secretaria de Saúde, cerca de 17,6 mil crianças tomaram a primeira dose do imunizante entre 9 de fevereiro e a última sexta. Na capital federal, a rede disponibiliza 64 locais de vacinação.

Colaborou Mariana Saraiva

 

Vacinação e repelente

O infectologista André Bon, do Hospital Brasília Águas Claras, da rede Dasa no DF, alerta que é fundamental as escolas cuidarem dos espaços para receber os alunos, garantindo que não tenha água parada. "A falta de cuidado com as dependências pode propiciar a multiplicação do mosquito e o risco de transmissão na área da escola", conta.

Para André, a campanha de vacinação nas escolas pode ser uma estratégia interessante, principalmente, para atender a atual faixa etária de 10 a 11 anos, que vem recebendo o imunizante.

Ainda de acordo com o especialista, os pais devem passar repelente nas crianças antes de levá-las à escola. "Mas vale lembrar que existem repelentes específicos para cada idade. Os pais de um bebê que vai à creche, vão ter um pouco mais de dificuldade porque repelentes em concentrações muito altas não podem ser usados, especialmente, em menores de 6 meses", explica.

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postado em 19/02/2024 06:00
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