Aquicultura

Saborosos, saudáveis e lucrativos

Tilápia ou camarão, qual o seu prato preferido? No DF, a piscicultura está a todo vapor e, com a Semana Santa, produtores se animam com os lucros

Hosana Alves se dedica há 15 anos a atender São Sebastião com suas tilápias. Agora quer ampliar suas vendas
 -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Hosana Alves se dedica há 15 anos a atender São Sebastião com suas tilápias. Agora quer ampliar suas vendas - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Com um consumo de 45 mil toneladas de pescado em 2023, a psicicultura se firma no Distrito Federal e, cada vez mais, atrai interessados em atuar numa área que está abrindo caminho, com lucros, na economia regional. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF) oferece um programa de produção de peixes que contribui para o aprimoramento dos criadores e aumento desses resultados. Mas, entre esses empreendedores — que, só entre os auxiliados pela Emater-DF passam dos 700 — há quem considere que a situação poderia estar ainda melhor se houvesse mais acesso a financiamentos.

Uma dessas pessoas é a produtora Hosana Alves, 54 anos. Todo dia, nos tanques onde cria suas tilápias, ela joga a isca. Na balança, pesa cada uma das que pescou. E no prato, aprecia algumas, durante o almoço. Tarefas rotineiras, mas — segundo ela — nem de longe cansativas, na chácara que tem, a Girassol, em São Sebastião. "Hoje foi mais difícil pescar, porque eles (os peixes) ficam agitados com a movimentação do trabalho fora dos tanques", disse enquanto degustava sua tilápia com 600 gramas. "Com 800 (gramas), já podemos vender", explicou.

Hosana se dedica à produção, há 15 anos, que desenvolve em quatro tanques. Cada um gera mil peixes. A água para irrigação vem de uma nascente, utilização devidamente autorizada por órgãos ambientais governamentais.

Tudo começou quando a população de São Sebastião sofreu um surto de hantavirose, em 2004. Foram contaminadas 38 pessoas e morreram 13. À época, Hosana era comerciante e não tinha planos de ser psicultora. Mas, primeiro foi agricultora. "Com a ajuda da administração (regional), iniciamos um projeto de plantio", recordou.

Na Girassol, toda a água dos tanques é reaproveitada nas hortas: as fezes dos peixes e a ração servida, mas que não comeram, contêm nutrientes ótimos ao cultivo. Atualmente, seu maior público consumidor está em São Sebastião, mas ela está trabalhando para atender a mais regiões administrativas (RAs). A elas, além das hortaliças, pretende oferecer as tilápias como seu produto principal.

Expectativas

Além da subsistência e da geração de renda, a agricultora também recebe voluntários que querem ajudá-la com a chácara e estudantes interessados em aprender sobre os peixes. Ela, inclusive, pretende aumentar o número de tanques e produzir 5 toneladas de tilápia por mês. Atualmente, são 3,2 toneladas.

Para tocar seu negócio, Hosana tem como parceiro o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Administração Regional do Distrito Federal (Senar/AR-DF). Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos, vinculada à Federação da Agricultura e Pecuária do DF (Fape-DF) e que presta assistência técnica.

"Apesar desse auxílio, percebo que falta informação para a comunidade da área rural, que tem muito potencial (no DF) — com (acesso) a boa terra e disponibilidade de água, mas recebe pouca assistência financeira", avaliou a empresária.

Para a Semana Santa deste ano, a expectativa é que as vendas cresçam 70%. "Estamos animados, só precisamos tomar cuidado com os predadores inesperados, os gatos e as garças", comentou.

Mercado promissor

Segundo Adalmyr Borges, 56, médico veterinário e coordenador do Programa de Aquicultura da Emater-DF, a quantidade de produtores de tilápia gira em torno dos 750. Deles, cem se dedicam à criação comercial. Paranoá, São Sebastião, Gama, Ceilândia e Brazlândia são as RAs que concentram a maior produção de piscicultura no DF.

Dados da Emater-DF mostram que, em 2022, os criadores que assessora produziram 1,8 mil toneladas de peixes, enquanto que, em 2023, o número chegou a 2 mil toneladas. A maioria deles (90%) se concentraram nas tilápias. Mas, numa estimativa geral, a entidade calcula que o DF, com criadores que ela não assiste, alcançou no ano passado 45 mil toneladas.

"Entre as vantagens da criação de peixes e camarões na região está a proximidade de um grande mercado consumidor, visto que Brasília é considerada o terceiro maior centro consumidor de pescados do Brasil", destacou Borges. Com a demanda alta e a produção ainda pequena, o produtor é beneficiado pela comercialização com preços atrativos.

Do ponto de vista ambiental, a capital federal conta com uma legislação que apoia a atividade com espécies nativas para criação (como traíra, pirapitanga e cará-nativo), em áreas de até 20 mil m²; para espécies exóticas (jacundá, pirá-santana e cascudo, por exemplo), há a possibilidade de 10 mil m², com uma dispensa de licenciamento ambiental. Segundo o coordenador do Programa de Aquicultura, isso estimula novos produtores a entrarem na atividade.

Mais com menos

Os empresários criam os peixes em tanques escavados na terra, sem revestimento e que podem ter aeradores para melhorar a qualidade da água e sua oxigenação. Esta técnica está em conformidade com o projeto Aqua , da Emater, que visa ampliar entre três e quatro vezes a produção do criadouro, sem a necessidade de aumentar o fornecimento de água e nem a área dos viveiros.

"O que mais tem motivado a produção de pescado é o mercado crescente, com as pessoas procurando por alimentos mais saudáveis, e a disponibilidade de água e área para a atividade. O Programa de Aquicultura da Emater visa o desenvolvimento regional da aquicultura, aproveitando o mercado local e oferecendo mais uma alternativa de exploração econômica para os produtores da região", resumiu o coordenador.

Pioneirismo

De acordo com a Emater, a produção de camarão ainda é muito pequena no DF, Há apenas uma propriedade, em Brazlândia, que trabalha o marisco com fins comerciais. O responsável é Renato Ferreira, 41, que há um ano se dedica ao vannamei, a espécie mais vendida no mundo.

Ferreira, que cultivava cítricos, manga, milho e mandioca para consumo próprio decidiu alçar voos mais altos e ir para o mercado. Para essa mudança, pensou em investir em tilápia, mas após estudos e análises, decidiu se juntar a outros agricultores interessados em camarão marinho. Assim nasceu a Maré 61.

Entre as dificuldades iniciais que enfrentou estava o desconhecimento dos órgãos ambientais regionais sobre a produção de crustáceos. "Agora, percebo que essa demanda tem sido sanada com a oferta de cursos e maior divulgação sobre o assunto", declarou o empresário. Ele contou que buscou tecnologias para garantir uma boa qualidade na água em seus tanques diminuindo sua renovação.

"Hoje conseguimos produzir o mesmo camarão que é comercializado na praia, usando água salinizada. Não colocamos conservantes e nem aditivos, e contamos com um sistema 100% sustentável. Temos o sabor e o frescor do camarão aqui em Brasília", garantiu.

Em seu criadouro, além, de reaproveitar a água, há a captação da chuva e o controle é feito com produtos naturais, decisões que, segundo Ferreira, ajudaram a conquistar clientes.

Porém, ele lamenta o preconceito. "Quando falamos que o camarão é de Brasília, as pessoas acham que a qualidade é baixa. Se fossem vários produtores, acho que uniríamos forças e seríamos mais reconhecidos. De toda forma, vamos fazer da região uma referência no assunto", assegurou.

 

Ranking das espécies produzidas no DF

1º lugar: tilápia-do-nilo, que contempla mais de 90% da produção local);

2º lugar: tambaqui da amazônia e seus híbridos (conhecidos como peixes redondos);

3º lugar: camarão gigante da malásia, de água doce; e

4º lugar: camarão cinza do pacífico, que é marinho

Sabor e saúde

O consumo de peixes e de camarão, segundo o nutricionista Eduardo Lustosa, por ser uma fonte de proteína e de gordura boa, ajuda na prevenção de doenças neurológicas e na melhora da memória. Em crianças, pode contribuir para o crescimento, prevenir tumores e auxiliar no tratamento de problemas cardiovasculares.

Entre as melhores opções de peixes estão o salmão, rico em ômega 3; o linguado; a sardinha; a anchova; e a tilápia, campeã em proteína. "Todos têm selênio, iodo, vitaminas D e B12, ferro, fósforo, zinco. Fazem muito bem para a imunidade e para o coração", detalhou. O consumo ideal fica entre 100 e 150g por refeição, de duas a três vezes por semana, disse o especialista.

No entanto, vale estar atento a alguns pontos antes de comê-los. "Observar o olho do peixe, por exemplo, serve para avaliar se o alimento está fresco ou não. Olhos opacos indicam ser um peixe mais velho. Assim, o ideal é optar por aqueles com olhos mais vivos, melhores para o consumo", explicou Lustosa. Além disso, caso não seja consumido na hora, o peixe só deve ser guardado e congelado após ter as vísceras retiradas. Para descongelar, deve-se usar o refrigerador; para assar, o forno tem que estar em 60º C.

Em relação ao camarão, a fim de evitar a ingestão de metais tóxicos, é importante retirar a cabeça e o hepatopâncreas — órgão responsável pela absorção de nutrientes — do animal antes do consumo. Por fim, o especialista sugere que estes alimentos, principalmente o peixe, sejam consumidos à noite, em vista da sua fácil digestão.

Eduardo Lustosa

nutricionista

  • Produção de peixes no DF tem crescido consideravelmente. Tilápia é quem lidera
    Produção de peixes no DF tem crescido consideravelmente. Tilápia é quem lidera Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Emater-DF que a produção de pescado em 2023 foi de 45 mil toneladas
    Emater-DF que a produção de pescado em 2023 foi de 45 mil toneladas Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Camarão vannamei, um dos mais consumidos no mundo, é produzido na Maré 61
    Camarão vannamei, um dos mais consumidos no mundo, é produzido na Maré 61 Foto: Arquivo pessoal
  • Ferreira, pioneiro na produção de camarão, lamenta que ainda haja preconceito em Brasília contra seu marisco candango
    Ferreira, pioneiro na produção de camarão, lamenta que ainda haja preconceito em Brasília contra seu marisco candango Foto: Arquivo pessoal
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postado em 16/02/2024 00:01 / atualizado em 28/02/2024 15:00
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