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Pico da dengue deve acontecer em abril, explica sanitarista

Jonas Brant, sanitarista e professor da UnB informa que o número de agentes disponibilizados para o combate à doença é bem menor que o necessário. Com relação à covid-19, o especialista em saúde pública aconselha manter os protocolos

 15/02/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. CB.Saúde entrevista Jonas Brant ? sanitarista,  professor da UnB e coordenador da sala de situação de saúde da Universidade. Na bancada: Sibele Negromonte e Mila Ferreira -  (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
15/02/2024 Crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. CB.Saúde entrevista Jonas Brant ? sanitarista, professor da UnB e coordenador da sala de situação de saúde da Universidade. Na bancada: Sibele Negromonte e Mila Ferreira - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

A vacina da dengue tem uma alta efetividade, mas os efeitos só acontecem após a segunda dose, por isso as pessoas que receberam a primeira imunização ainda devem se manter em alerta, é o que destaca o sanitarista Jonas Brant, professor da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador da sala de situação de saúde da universidade, durante o programa CB.Saúde — parceria entre Correio e TV Brasília — dessa quinta-feira (15/2). Às jornalistas Sibele Negromonte e Mila Ferreira, ele ressalta que os planos para combater a doença foram feitos tardiamente.

O que precisamos fazer para enfrentar doenças como covid-19 e dengue após o carnaval e na volta às aulas?

É importante entender que, em relação à covid-19, devemos nos habituar. É uma doença que vai conviver conosco, mas podemos adotar medidas no nosso cotidiano para entender o risco que estamos correndo. Vimos um aumento dessa doença desde o início do ano e agora, com o carnaval, quando as pessoas acabam tendo muita interação em ambientes de alta densidade, deve ocorrer um crescimento do número de casos. É importante também que as escolas e os pais estejam atentos a alguns protocolos usados naquele período mais crítico da pandemia, como garantir que todas as janelas estejam abertas para ventilação e certificar-se que nenhuma criança vá à escola com sintomas respiratórios. Se ela estiver com sintomas respiratórios, pode ser covid, então deve ficar em casa e usar máscaras. Tudo isso para que não se propague essas cadeias de transmissões nos ambientes escolares. É importante que as escolas organizem o protocolo de detecção de crianças com sintomas respiratórios para orientar os pais e isolar essas crianças. Com a dengue ainda vamos ver um crescimento importante, provavelmente até abril, que é quando historicamente ela atinge o pico aqui no DF.

O DF é a unidade federativa com maior casos de dengue no país. O senhor acha que o plano de combate à doença é suficiente? Foi a tempo?

A gestão de crise no Brasil, e em Brasília, é uma área que precisamos fortalecer muito, pois havia indícios de que teríamos uma grande epidemia. Quando analisamos o histórico da dengue no DF, observamos que no ano passado, ao redor da semana 26, que é mais ou menos em julho e agosto, existia um número de casos de dengue acima do normal e do esperado para aquele momento. Quando chegou em outubro e novembro, houve um crescimento exponencial dessa epidemia e aumento do número casos, e o plano (de prevenção) não foi acionado. Existiram dois momentos estratégicos em que toda a gestão de risco do DF poderia ter se mobilizado para acionar os planos de contingência e não funcionaram.

Como evitar o pior?

Precisamos rever onde estamos falhando, pois não é só na saúde, é em várias áreas. Esse é um aspecto importante, nós falhamos mais uma vez, aqui no DF, e precisamos tentar aprender onde foram as falhas, para que elas não voltem a ocorrer no futuro. Erramos no passado, agora precisamos pensar na frente e descobrir como podemos dar conta de uma epidemia nessa proporção. Precisaríamos ter cerca de 3.000 agentes comunitários de saúde e pelo menos 1.000 agentes de endemias — aqueles que visitam as casas para encontrar possíveis focos do mosquito e orientam os moradores. Temos um número muito aquém do necessário. O DF fez um concurso para cerca de 100 agentes de endemias, quando nós vamos conseguir organizar um volume de contingente suficiente para um cenário epidêmico? Estou falando de 3.000 agentes comunitários e 1.000 agentes de endemia para um cenário onde não tem uma epidemia. Na epidemia necessitamos de muito mais, quando lemos notícias como essa de o Exército mobilizando 300 soldados para ajudar, é um número muito pequeno. Se estivéssemos falando de 3.000 soldados, teríamos um reforço na capacidade para dar conta de visitar um volume grande de residências. Acho que estamos respondendo de maneira pequena frente ao tamanho da epidemia que estamos vivendo.

Em relação ao fumacê, existem poucas divulgações de onde ele passará. Como funciona essa questão?

O fumacê era uma medida emergencial, eu só vou lançar a mão dele quando já perdi o controle da epidemia e não tenho capacidade operacional para visitar com um inseticida-costal cada casa de um bairro. Ou seja, nosso caso. Temos que usar o fumacê, mas é preciso também visitar aquele mesmo bairro antes ou em concomitância para remover os criadores. Por quê? Se eu vou lá e passo inseticida e mata os mosquitos, no dia seguinte irão nascer outros mosquitos. Também precisamos remover os criadores. Primeiro devemos acabar com os focos, só então aplicarei o inseticida. O DF tem tido uma dificuldade muito grande, pois o número de agentes é pequeno para fazer as visitas antes do uso do fumacê. Além disso, fazem a aplicação sem uma ação fundamental, o engajamento comunitário. Precisamos que a comunidade saiba que o fumacê vai passar na rua, só assim os moradores podem abrir as janelas e portas das casas. Dessa forma a fumaça entrará na residência e terá uma eficiência maior. Por isso é importante que se desenhe uma estratégia que envolva a mobilização social.

Os pais mostram uma preocupação com a dengue devido ao início das aulas. Alguns recomendam os filhos a usarem roupas que cobrem muitas partes do corpo, isso funciona? Já que a dengue não é transmitida de pessoa para pessoa.

A transmissão da dengue é feita por intermédio do mosquito, um vetor que leva o vírus de uma pessoa para outra. Esse inseto fica dentro das nossas residências, em ambientes de trabalho, escolar e debaixo de móveis. O uso de sapatos fechados, meias e calças, são formas de criar barreiras para que esse mosquito não pique. Por isso, vemos alguns cenários que o número de casos de dengue em mulheres é maior do que em homens, pois elas tendem a usar sapatos mais abertos e saias, o que acaba facilitando o acesso para esse inseto se alimentar e transmitir o vírus da dengue.

A Fiocruz divulgou essa semana que pelo menos 50% dos casos são assintomáticos. Por conta disso, o número de casos pode ser muito maior que o imaginado? Pode haver contaminação silenciosa?

Na nossa vigilância, partimos do pressuposto que não vamos detectar 100% dos casos, por isso, a detecção dos sintomáticos é tão importante. Assim sabemos que para cada infectado sintomático que eu tenho, vou ter um volume de casos assintomático. É por isso que temos que desencadear as ações chamadas de bloqueio. Ou seja, a partir de um caso de dengue, vou fazer ações para diminuir a transmissão naquela comunidade. É algo que já estimamos do ponto de vista da vigilância, mas é importante na escala da epidemia que estamos vivendo. Hoje o DF, provavelmente, tem de cinco a 10 vezes mais casos do que é enxergado, pois estamos falando de casos assintomáticos, sintomáticos, sintomáticos que buscaram atendimento e os que conseguiram atendimento após a testagem e foram notificados. Provavelmente o tamanho dessa pirâmide é muito maior… Essa é a maior epidemia de dengue da história do DF.

Como funciona a vacina da dengue? Após a primeira dose a pessoa está imunizada?

Os estudos têm mostrado a proteção duradoura, mas é preciso tomar as duas doses. Em geral, essa primeira é uma apresentação do agente do vírus ao nosso sistema imunológico e a segunda é para criar memória. Então só estaremos realmente protegidos contra a dengue, quando tiver tomado as duas doses da vacina. Por isso é importante entender que essa vacinação que nós começamos no Brasil com crianças, não é uma estratégia para enfrentamento dessa epidemia, é para longo prazo. Quando nós conseguirmos vacinar um volume muito grande de pessoas, ela vai começar a contribuir na redução da transmissão dessa doença.

Isso significa que a pessoa que tomou a primeira dose da vacina da dengue deve continuar com todos os cuidados?

Os pais das crianças que receberam a vacina da dengue devem ficar atentos. Não há uma proteção efetiva nesse momento, devem continuar o uso de roupas compridas, como meias, sapatos fechados e uso de repelente. Além da mobilização da comunidade ao redor das residências, ambiente de trabalho e estudo. Tudo para que não exista criadouros do Aedes aegypti que mantém essa alta infestação nesse momento.

Até porque a vacina não chegou para todos e a segunda dose é só após três meses...

Exato, a proteção individual vai se dar a partir da segunda dose que é daqui a três meses para quem recebeu agora. A proteção de grupo e efeito de rebanho só ocorrerá quando atingirmos um grande número de pessoas vacinadas.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

Veja a entrevista:

 

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postado em 16/02/2024 06:00
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