Foi o último dia de folia. Mas nas ruas do Distrito Federal, não teve lugar para a desolação. Ontem, foi a vez dos blocos Pacotão, Medida Provisória, Portadores da Alegria e Bloco do Seu Júlio (que teve um imprevisto para sair) colocarem os foliões para dançar. E a festa se encerrou com uma ótima notícia. De acordo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), do início do carnaval até o fim da tarde de ontem, não houve nenhuma ocorrência de violência sexual (assédio, importunação sexual e estupro).
Conhecido por ser um dos blocos mais engajados politicamente, o Pacotão teve a aparição do ex-presidente da República Jânio Quadros. Ou melhor, a presença do estudante Antônio Davi, 23, que decidiu ir caracterizado de ex-chefe do Estado. "O Pacotão é um dos blocos mais clássicos de Brasília. O grupo sempre leva muitas pessoas às ruas. Pena que é o último dia, vai deixar saudade", disse o morador de Taguatinga Sul.
Estamos no século 21, é verdade. Mas, houve uma foliã que decidiu voltar quase 100 anos no tempo. A professora Clarisse Silva, 22, se caracterizou de Mulher dos anos 1930. Naquele ano, em 24 de fevereiro de 1932, foi concedido o direito ao voto às mulheres. "O Pacotão tem essa questão política muito forte. Fico feliz porque escolhi a fantasia certa", disse a jovem, moradora do Recanto das Emas.
Em meio à explosão de casos de dengue no DF, a atriz e moradora da Asa Sul Lilian de Alencar, 51, estava fantasiada de Aedes aegypti e pediu que pais e responsáveis levassem as crianças, de 10 e 11 anos, para se vacinar. "O carnaval é alegria e muita diversão. É uma forma de soltar tudo o que está dentro de você, principalmente depois do período de pandemia que nos assombrou", disse. "A fantasia é para conscientizar a população a acabar com os focos do mosquito. Precisamos levar nossos filhos para se vacinar, pois é uma das saídas para nos protegermos", completou a atriz.
Tia de Lilian, a aposentada Jussara de Alencar, 64, foi fantasiada de enfermeira que aplica doses da vacina da dengue. Ela explicou que, para ela, o carnaval é uma das festas mais importantes do ano, mas que o momento requer, também, cuidados da população. "Acabamos de sair de uma pandemia de dois anos e, agora, estamos em um momento difícil da dengue aqui na nossa cidade. Eu e ela viemos para conscientizar a população de que temos que acabar com esse mosquito. Vamos nos cuidar, gente. Xô, mosquito", brincou.
Interdição
A interdição do Bloco do Seu Júlio, em Planaltina, deixou diversos foliões aflitos na entrada. Quem estava dentro do bloco também ficou ansioso pela liberação, como foi o caso da estudante de enfermagem Ana Carolina Teodora, 20, que passou o carnaval pela primeira vez com a namorada, a promotora de vendas Maria Eduarda Lira, 21. "É uma questão muito chata porque decidiram interditar em cima da hora, com todo mundo esperando no sol. É uma sacanagem muito grande com quem se organizou, porque estamos vendo que tem estrutura. Tem ambulância, tem polícia. Não tem necessidade disso", desabafou Anna Carolina.
O bloco foi liberado para a festa por volta das 18h40. Após contratar mais uma ambulância, exigência da Vigilância Sanitária, o evento pôde, finalmente, começar. Durante a confusão, o fundador e presidente do bloco, Júlio Paixão Castelo Branco, 62, se emocionou e chegou a chorar. "Sou amigo de todo mundo. Não quero briga com ninguém. A gente tinha UTI, UTE, aí depois quiseram posto médico e um monte de exigências. A gente está dentro das normas todas", desabafou.
Animação
O bloquinho Portadores da Alegria fez a festa no Estacionamento 12 do Parque da Cidade, com muita diversão e inclusão. O clima no espaço montado para receber a festa era de folia e muita tranquilidade, contando com camas elásticas, shows de mágica, pinturas de rosto e muita música. O bloco, que sai desde 2015, fez a festa da criançada até as 20h30.
Letícia Menezes, 42, mãe de Mateus Menezes, 3, que estava no bloco fantasiado de Buzz Lightyear, revela que, apesar de ser uma criança, ele apresenta sinais de ser um excelente explorador espacial, assim como o personagem escolhido para se fantasiar. "Foi ele quem escolheu a fantasia. O Mateus adora astronauta, Lua… Tudo que tem essas coisas espaciais ele gosta", revelou.
Com muita animação e acompanhado de muita música, o bloco Pega Ninguém movimentou o Setor Comercial Sul. Marcando presença no carnaval do DF pela sexta vez, a tradição foi mantida, e quem enviava foto tinha a imagem projetada em um telão no palco. Os shows ficaram por conta das bandas Me deixa Sambar e Thiago Berdah.
Ao falar sobre a importância do carnaval em sua vida, Pedro Henrique Mendes, 20, que estava no bloco, abriu seu coração. "Acredito que o carnaval seja para a gente se soltar, para aproveitarmos o que não podemos aproveitar o ano inteiro. Estamos aqui justamente para ficar mais leves e soltos, fazer o que não podemos fazer no trabalho, na escola ou na universidade", desabafou. "Uma das coisas que eu mais fiz foi dançar. Fiquei mais tranquilo, conversei mais com as pessoas e acredito que isso é importante", avaliou.
Balanço
Desde o início do carnaval, houve um total de 245 furtos, sendo 211 casos de furtos de celulares, segundo a SSP-DF. Em relação aos casos mais graves registrados desde o primeiro dia de festividades até o final desta tarde, houve nove casos de roubos — sendo um em estabelecimento comercial e o restante a transeuntes.
Além disso, houve uma tentativa de homicídio, que ocorreu aproximadamente às 4h de segunda-feira, durante o término de um evento que ocorria sem autorização do poder público nas proximidades de uma distribuidora de bebidas, na Estrutural.
A vítima foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros (CBMDF) e levada ao Hospital de Base de Brasília. O evento foi interditado pela Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal).
O balanço apontou ainda um total de dois casos de tráfico de drogas e sete casos de porte de entorpecentes, além de cinco de lesão corporal, relacionados aos eventos carnavalescos. Bom ressaltar que, desde sexta, não houve nenhum registro de ocorrência de desaparecimento de pessoas.
A Polícia Militar (PMDF) registrou até o fim da tarde de terça (13), 31 termos circunstanciados de ocorrência (TCOs), sendo 22 de uso e porte de substância entorpecente, oito de porte de arma branca e um de porte de arma de choque. A PMDF atuou ainda combatendo furtos e roubos nos eventos, conduzindo três flagrantes por roubo de celular.
CB Folia
Hoje é o último dia para participar do CB Folia 2024. A equipe do Correio Braziliense percorreu as ruas da capital para premiar as melhores atrações do carnaval e os nossos leitores podem participar do prêmio, votando no Melhor Bloco de Rua, além de concorrer na categoria Melhor Fantasia.
Na edição deste ano, serão premiados ainda o Melhor Momento e a Melhor Fantasia Infantil. Você também pode enviar fotos da sua fantasia para concorrer. Para participar, é só preencher as informações no site do CB Folia e enviar uma foto do seu look carnavalesco. Os vencedores serão escolhidos em um evento que ocorrerá na próxima sexta-feira. https://www.correiobraziliense.com.br/carnaval2024
*Estagiário sob a supervisão
de Adriana Bernardes
Tema
A marchinha ET Ladrão de Jóias foi a escolhida pelo Pacotão para o carnaval deste ano. O tema da canção, de composição de José Edmar Gomes, faz alusão a manifestantes e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que pediam socorro a extraterrestres, em um acampamento do Exército, em Porto Alegre, antes do fatídico 8 de janeiro de 2023. A canção também brinca com a situação que envolveu o advogado do ex-presidente Frederick Wassef, no caso das jóias dadas de presente pela Arábia Saudita ao governo brasileiro, em 2019.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br