O jornalista Carlos Henrique de Almeida Santos faleceu ontem, aos 75 anos, em sua casa, em decorrência de um câncer no pulmão. Foi um dos mais talentosos jornalistas de sua geração. Atuou como repórter político do jornal O Estado de São Paulo e da revista Veja nos anos mais duros da ditadura militar. A cobertura política na TV deve muito a sua passagem como chefe de redação da Rede Globo em Brasília, quando a emissora líder de audiência triplicou o número de profissionais encarregados de registrar o processo de abertura política do regime militar. Também implantou e dirigiu, por muitos anos, o telejornalismo do SBT na capital federal.
Foi porta-voz do governo José Sarney, função que exerceu simultaneamente à tarefa de mediar as relações do governo com a imprensa, num momento ainda conturbado da transição à democracia, com milhares de greves, tensões militares e uma Constituinte em pleno funcionamento.
Radicado em Brasília há 62 anos, Carlos Henrique era baiano e formou-se em direito na UnB. Colecionou amigos: autoridades, executivos, trabalhadores, políticos, artistas e intelectuais, que reunia em longas e memoráveis rodas de conversa. Poeta, autor do livro Bloco de Rascunho, era um homem culto e preocupado com os destinos do país. Como destacou seu irmão Henrique Lima dos Santos Filho, o Reco do Bandolim, "sabia unir elegância e senso crítico, bom humor e boa convivência".
"Alguém que teve com a vida um caso de amor correspondido, e que soube desfrutar na plenitude do que conquistou pessoal e profissionalmente, fará imensa falta, sobretudo por ter sido essa coisa cada vez mais rara nos tempos que estamos vivendo: um homem de verdade", destacou Reco, que além de músico virtuoso também é jornalista. Carlos Henrique era casado há 52 anos com a socióloga Renata Braga Santos, pai de Gabriela, Pedro e Joana, avô de cinco netos. Seu funeral será na segunda-feira, na capela 3 do Campo da Esperança da Asa Sul, das 13h às 15h, e o enterro será às 15h30.
O andarilho das noites estreladas
Jorge Oliveira, escritor, jornalista e cineasta
"O jornalista e poeta baiano Carlos Henrique não resistiu a um câncer traiçoeiro que ceifou a sua vida e o retirou de maneira brutal e surpreendente do convívio de seus amigos brasilienses. Como um guerreiro, recolheu-se no silêncio de um leito cercado do carinho da mulher, dos filhos e dos irmãos. Recusou-se a terminar suas horas no CTI assumindo o comando da própria morte, a quem não deixou dominá-lo até no último suspiro. Foi-se com dignidade um dos mais completos profissionais do jornalismo. Mas se foi, sobretudo, o gentleman das madrugadas de Brasília, que misturava a sabedoria de degustar um bom uisquinho com a paciência de um monge e a virtude de um bom gourmet, enquanto surpreendia os amigos mais próximos com uma poesia aqui e acolá escrita no velho e, muitas vezes, lambuzado guardanapo de pano. O Brasil perde um grande jornalista e a cidade que o adotou, o seu principal andarilho das noites estreladas, sempre curtas para um boêmio amante das madrugadas. Adeus, companheiro CH! Até outro dia."
Professor de detalhes
Luis Turiba, poeta e jornalista
"Carlos Henrique nos ensinou a não ter medo de coisas simples: uma garrafa de uísque, por exemplo. Ao abrir uma segurava sua tampa no meio da mão e (prazerosamente) a arremessava longe. “Não é uma garrafa que vai humilhar esse grupo de amigos que se reúne todas as sextas para passar a vida a limpo”, anunciava antes de brindar o amor, a paz, o trabalho, a poesia, a boa música e os amigos que faziam parte da sua família planetária."
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br