CELEBRAÇÃO

No Dia de Iemanjá, brasilienses celebram a proteção que vem das águas

Lago Paranoá é cenário de saudação à Iemanjá. Fé, devoção e resistência marcam o dia dedicado à rainha dos mares e padroeira dos pescadores na Praça dos Orixás, local que vem sendo alvo de vandalismo

 O Dia de Iemanjá foi celebrado ontem na Prainha dos Orixás. Programação dedicada à rainha do mar segue hoje  -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
O Dia de Iemanjá foi celebrado ontem na Prainha dos Orixás. Programação dedicada à rainha do mar segue hoje - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Celebrando o dia da rainha dos mares, na tarde dessa sexta-feira (2/2), pessoas de diversas regiões administrativas e do Entorno se reuniram na Praça dos Orixás, às margens do Lago Paranoá, em comunhão, para entregarem oferendas a Iemanjá. A festividade ocorre, pela primeira vez, durante dois dias, seguindo hoje.

Lany Cavalero, moradora de Belém do Pará, estava a trabalho em Brasília no dia de Iemanjá. "Eu sou filha de terreiro há mais de 20 anos e, nesta data, onde quer que eu esteja, procuro uma água para saudar a nossa rainha. Ela significa maternidade e traz essa emoção do amor incondicional, aquela que perdoa tudo, que ensina, que acolhe", declarou, emocionada. "Eu venho buscar, pedir e agradecer por esse amor que recebo dela sempre e que ele se expanda para a nossa família e que as nossas dificuldades diárias sejam acalentadas", concluiu.

Há um ano e meio no candomblé, Paulo Brito, 57, esteve pela primeira vez, ontem, na Praça dos Orixás. "Eu senti uma energia muito positiva neste lugar e temos que respeitar a expressão cultural que faz esta festa tão bonita", celebra.

Mãe Baiana, Yalorixá membra e fundadora do Ilê Axé Oyá Bagan em Brasília, falou que a data é muito significativa porque exalta a mãe de todas as cabeças. "Ela que nos dá muita proteção e, quando temos qualquer problema de saúde mental, a gente recorre a ela. Portanto, a ideia de enaltecer o nome dessa grande mãe é muito importante para nós", explicou. Ela, entretanto, lamentou a existência de pessoas intolerantes. "São racistas religiosos que se dirigem a esta praça e colocam fogo onde a gente vem fazer nossas oferendas e rezar, até mesmo pela humanidade", argumentou, em tom de apelo.

Vestidos de branco, muitos fizeram barcos para colocar as rosas em homenagem à padroeira também dos pescadores. Aline Ferry, 21, conta que a orixá, para ela, tem um significado especial. "O que eu sinto por ela é amor maternal, me sinto cuidada e acolhida, e isso é único", relatou. Além do significado da data, a jovem considera importante mostrar que as religiões de matriz africana existem. "Não é fácil, porque as pessoas tentam derrubar a gente. Como podemos ver aqui, muitas estátuas estão depredadas. Pedir que as pessoas olhem para a gente é um ato de resistência", frisou. 

Tolerância e respeito

Um dos temas frisados durante todo evento foi a preservação da praça e os episódios de vandalismo que ocorreram no espaço nesta semana. A coordenadora-geral do evento, Stéffanie Oliveira, declarou que este momento traz à tona a necessidade de reconstruir o território sagrado. "Pelos ataques que sofremos, este é o momento da nossa comunidade colocar pra fora essa necessidade", disse. "Vamos tocar para Iemanjá e entregar nossas oferendas para nossa mãe com uma programação voltada para a cultura de terreiro", detalha.

O administrador do Plano Piloto, Valdemar Medeiros, afirmou ao Correio que a Praça dos Orixás passará a ter, além das câmeras, vigilantes 24h no local, para inibir qualquer tipo de ação de depredação do patrimônio público. Abner Felipe, 28 anos, veio de Luziânia para a celebração e contou que, além de celebrar Iemanjá, a festa mostra que as religiões de matriz africana não querem ser toleradas, mas, sim, respeitadas. "A nossa religião merece essa visibilidade, e queremos mostrar para a comunidade que a nossa religião vem para o bem, que é o amor e a união", contou.

O evento é promovido pelo Instituto Rosa dos Ventos de Arte, Cultura e Cidadania e pela Odoyá Produção Cultural e Audiovisual. A festividade faz parte do Circuito Candango de Artes Populares e é fomentado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF e pelo Ministério da Cultura. Em sua quinta edição, a Festa das Águas também homenageia as mulheres. 

Entre as atrações musicais confirmadas para o encontro deste sábado (3/2), estão artistas como Karynna Spinelli, Tia Surica e Mateus Aleluia Filho. O evento também receberá a Feira de Artesanato Tradicional e a Feira Gastronômica Afro, com comidas ancestrais.

  • A paraense Lany Cavalero  estava em Brasília a trabalho
    A paraense Lany Cavalero estava em Brasília a trabalho Minervino Júnior/CB
  • Mãe Baiana, Yalorixá membra e fundadora do Ilê Axé Oyá Bagan em Brasília
    Mãe Baiana, Yalorixá membra e fundadora do Ilê Axé Oyá Bagan em Brasília Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  O Dia de Iemanjá foi celebrado ontem na Prainha dos Orixás. Programação dedicada à rainha do mar segue hoje
    O Dia de Iemanjá foi celebrado ontem na Prainha dos Orixás. Programação dedicada à rainha do mar segue hoje Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  O Dia de Iemanjá foi celebrado ontem na Prainha dos Orixás. Programação segue hoje
    O Dia de Iemanjá foi celebrado ontem na Prainha dos Orixás. Programação segue hoje Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  02/02/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Dia de Yemanjá na Prainha dos Orixás.
    02/02/2024. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Dia de Yemanjá na Prainha dos Orixás. Fotos: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • Ontem foi dia de ofertar flores à Iemanjá. Celebração para a rainha das águas marcou a sexta-feira às margens do lago Paranoá
    Ontem foi dia de ofertar flores à Iemanjá. Celebração para a rainha das águas marcou a sexta-feira às margens do lago Paranoá Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  •  Abner e Luana Felipe vieram de Luziânia para festejar a fé
    Abner e Luana Felipe vieram de Luziânia para festejar a fé Minervino Júnior/CB/D.A.Press

 


Pré-carnaval

Em contagem regressiva, o final de semana do brasiliense será marcado pelos blocos de pré-carnaval, que estão a postos para colorir as ruas da capital do país. Para este ano, os organizadores garantem uma grande festa que vai deixar gostinho de quero mais para os quatro dias oficiais de carnaval — de 10 a 13 de fevereiro.

Hoje, o tradicional Suvaco da Asa começa os festejos no Eixo Cultural Ibero Americano, ao lado da Torre de TV. O bloco  vai homenagear e celebrar a vida do artista pernambucano Reginaldo Rossi. O presidente do bloco, Pablo Feitosa, contou que, nesta reta final, as expectativas vão se tornando ansiedade e nervosismo. "Você vai vendo tudo ser montado, as tendas subindo, as coisas saindo do papel e o palco sendo montado... É um misto de alegrias", declarou.

Amanhã, o Cafuçu do Cerrado dá largada no mesmo local, com concentração a partir das 15h. Em grande estilo, a festa vai receber o artista paraibano Chico César, em comemoração aos 10 anos de existência. "Foi uma festa preparada para ser a maior de todos os tempos. O bloco começou como uma brincadeira de amigos e se tornou o que é hoje e estou muito feliz com isso, com tanta história, uma década,
espero que supere todas as edições",
estimou Lucas Formiga, diretor do bloco.

Também no domingo, na Galeria dos Estados, a festa será garantida pelo Beco Elétrico, a partir das 17h, com a proposta diferenciada de trazer música eletrônica para o carnaval, com vários DJs,
atrações e performances para o público. (MS) 

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postado em 03/02/2024 06:00
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