CB. Folia

Blocos adequam festas para que o carnaval 2024 seja inclusivo

Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília exige das oito agremiações associadas cartilhas em Braille, espaços para PCDs e adaptados para pessoas com deficiência auditiva, intérpretes de libras e audiodescrição

O Bloco Portadores da Alegria produz uma festa dedicada ao público com deficiência e é símbolo de inclusão -  (crédito: Fotos: Arquivo Bloco Portadores da Alegria )
O Bloco Portadores da Alegria produz uma festa dedicada ao público com deficiência e é símbolo de inclusão - (crédito: Fotos: Arquivo Bloco Portadores da Alegria )

Todo mundo sabe que o carnaval é a mais democrática das festas. Basta colocar a fantasia e ir para a rua, onde os bloquinhos fazem a festa acontecer. No entanto, a celebração que deveria ser para todos pode ser cheia de obstáculos para pessoas com deficiência (PCDs) curtirem a folia. No Distrito Federal, as agremiações têm se adaptado para que o carnaval seja verdadeiramente para todos.

A Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília tem oito associados. São agremiações que agitam a folia de momo da capital há décadas. Paulo Henrique Nadiceo, presidente da entidade, informa que são exigidos dos associados cartilhas em Braille, espaços para PCDs e adaptados para pessoas com deficiência auditiva, intérpretes de libras e audiodescrição.

Um dos maiores símbolos do carnaval inclusivo do DF é o Bloco Portadores da Alegria, que produz uma festa dedicada ao público com deficiência. "Os autistas, que geralmente se incomodam com som, brincam. No bloco, é como se não houvesse barulho", diz Paulo Henrique, que também é da diretoria da agremiação.

No ano passado, o Portadores da Alegria contou com 75 mil foliões, de acordo com os organizadores. A expectativa para este ano é ainda maior: 80 mil, entre pessoas com deficiência, amigos e familiares. Neste ano, os participantes vão brincar na terça-feira (13/2), entre às 13h30 e às 20h30, no estacionamento 12 do Parque da Cidade.

"A importância do Portadores da Alegria é saber que as PCDs podem interagir normalmente com a sociedade, nos lugares onde a magia do carnaval faz com que qualquer limitação vire brincadeira", reflete Nadiceo. "Estamos preparados para receber todo esse público. Além da música animada e de toda a estrutura adaptada, teremos mágicos fazendo apresentações em meio aos foliões", antecipa Paulo Henrique.

O diretor relembra que a ideia do bloco, criado em 2015, nasceu a partir do Baratinha, que é voltado para crianças que não têm condições de participar da festa em bailes de clubes particulares. "O Portadores atende a esse público que tem a chance de pular carnaval com toda uma estrutura. Tem gente que espera o ano inteiro para brincar conosco."

Folia

A festa dos Portadores da Alegria é comandada pelos pickups do DJ Daniel Víctor, 43 anos. Ele é tetraplégico incompleto. "Tenho o movimento dos braços, mas não dos dedos", explica. "O bloco é muito bom pelo fato de ter a acessibilidade que não tinha no carnaval de rua. Era muito complicado para pessoas com dificuldade de locomoção. A maioria dos cadeirantes não ia para o carnaval. Hoje, já aproveitam bastante", destaca o DJ.

Pelo som de Daniel passa de tudo. "Axé, funks, eletrônico, sertanejo, piseiro… Só evito colocar músicas de cunho sexual, já que tem muita criança acompanhada de suas famílias", afirma. "O carnaval, para mim, além de uma fonte de renda, também é um momento de diversão, onde vejo pessoas que passam pelo mesmo que eu podendo curtir confortavelmente, uma multidão curtindo o que eu toco", enfatiza.

Diálogo

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) disse ao Correio que tem discutido com os blocos de carnaval de Brasília sobre acessibilidade, por meio de um guia que visa garantir a participação plena de todos os cidadãos nas festividades carnavalescas.

O documento, segundo a Secec, oferece sugestões de ações para os produtores dos blocos, abordando temas relacionados a banheiros acessíveis, vagas preferenciais, acessibilidade arquitetônica e inclusão produtiva, entre outros.  

Aos foliões são fornecidas orientações, como a quantidade mínima de banheiros para PCDs e a escolha adequada de sua localização; vagas preferenciais nos estacionamentos; práticas, atitudes e comportamentos que promovem a participação de pessoas com deficiência nas equipes dos blocos; rampas, elevadores, pisos táteis, plataformas, corrimãos e outros elementos que garantam mobilidade. A pasta afirma que também há orientação para que os blocos ocorram em localizações próximas a paradas de ônibus e estações de metrô.    

O órgão conclui assinalando que os blocos também são incentivados a praticar a inclusão produtiva ao abordar a diversidade, contemplando pessoas com deficiência, não brancas, de baixa renda e membros da comunidade LGBTQIAPN+.

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postado em 07/02/2024 06:00
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