DENGUE

Dengue: unidades de saúde lotadas e pacientes esperando até no chão

Casos de infecção pelo mosquito Aedes aegypti segue em crescimento. Militares do Exército foram chamados para auxiliar no combate ao transmissor da doença e passaram por treinamento da Secretaria de Saúde

A situação atual da saúde pública, devido ao aumento expressivo dos casos de dengue na capital do país, é tratada como epidemia pelo Governo do Distrito Federal (GDF), que decretou situação de emergência. O Correio percorreu, nessa segunda-feira (29/1), quatro unidades de atendimento, em Sobradinho e São Sebastião e presenciou pacientes enfrentando lotação e longa espera, especialmente nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) realizou, também nessa segunda-feira (29/1), treinamento para 247 militares do Exército que vão reforçar o combate à dengue no DF. São 176 soldados designados para visitas domiciliares, 30 motoristas de ambulância, 20 motoristas de fumacê, 16 sargentos e cinco oficiais envolvidos na operação.

No treinamento, conduzido na Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs), os militares foram instruídos sobre como realizar visitas domiciliares e identificar focos do mosquito e larvas do Aedes aegypti, transmissor da dengue, febre amarela, zika e chikungunya. Além disso, o Exército também forneceu apoio às ações de saúde com duas ambulâncias e 30 camas de campanha para equipar as tendas de atendimento à população.

O comandante do 32º Grupo de Artilharia de Campanha, tenente-coronel Diogo Kristoschek, que supervisiona o agrupamento, informou que os soldados iniciam amanhã o trabalho de campo em Samambaia e Ceilândia. "Vamos seguir o planejamento da Secretaria de Saúde. Além disso, contamos com equipes de motoristas de ambulância prontas para oferecer todo o apoio necessário", explicou.

Durante o treinamento, o secretário-adjunto de Assistência à Saúde, Luciano Agrizzi, informou que as ações de combate serão intensificadas em áreas de alta incidência de transmissão da dengue. "Serão cerca de 120 dias de apoio, podendo ser estendido", disse o gestor.

Tendas

Os profissionais de saúde que trabalham nas nove tendas montadas nas regiões com maior incidência de casos prováveis e confirmados de dengue são deslocados de Unidades Básicas de Saúde (UBS) e trabalham sob escala. O Correio conversou com profissionais lotados nas tendas, que relataram um estresse ainda maior do que o período da pandemia. "Atualmente, temos mais tensão de porta, mais pacientes para atendimento. A pressão é maior. Até pelo fato da dengue não ser contagiosa, as pessoas não pensam duas vezes antes de buscar atendimento", relatou um profissional de saúde.

A coordenadora responsável pela tenda de São Sebastião no dia de nessa segunda-feira (29/1), Katallini Alves, contou que são 14 profissionais trabalhando no local, entre médicos, enfermeiros, administrativo e bombeiros. Ela explicou que os pacientes que procuram atendimento na tenda são de diferentes faixas etárias e comorbidades. "Hoje, atendemos de puérpera a idoso de 80 anos com hipertensão e diabetes", disse. "Temos removido entre três e quatro pacientes por dia para hospital ou UPA, sendo que o fluxo diário tem sido de cerca de 130 pessoas buscando atendimento com sintomas de dengue", acrescentou.

Em Sobradinho, boa parte da estrutura interna da administração regional precisou ser cedida para os atendimentos dos pacientes com sintomas de dengue. Segundo a coordenadora, Kátia Seibert, são 10 profissionais trabalhando no atendimento da tenda, entre médicos, enfermeiros, administrativo e bombeiros. "Em média, temos atendido entre 70 e 80 pessoas por dia. Fazemos sempre o pedido para que todos procurem atendimento perto de casa, para não sobrecarregar nenhuma unidade", observou.

Peregrinação

O vigilante Josuel Souza, 52 anos, procurou a UPA de Sobradinho com febre, dor no corpo e dor atrás dos olhos. Acompanhado da esposa, Jussara, após perceber a lotação na Unidade de Pronto Atendimento, resolveu ir até a tenda de Sobradinho. Realizado o teste rápido, constatou estar realmente com dengue. "Aguardamos mais de quatro horas entre ficha, triagem, atendimento médico e medicação", revelou a esposa. "Apesar da demora, o atendimento foi atencioso e prestativo", completou.

O marceneiro Mateus Pereira Costa, 22, chegou nessa segunda-feira, às 9h, na UPA de São Sebastião, por onde a nossa reportagem passou por volta de 15h25. "Demorou até para passar pela triagem. Estou com dor de cabeça, nos olhos, febre e dor nas articulações. Me disseram que não era grave e me deram a pulseira verde. Estou aqui sem almoçar, com medo de perder o meu lugar na fila, mas disseram que não tem previsão para atendimento", lamentou.

O autônomo Gustavo Miranda, 25 anos, buscou atendimento na tenda de São Sebastião com muita dor no corpo, na cabeça e nos olhos. Depois da triagem, esperou mais de três horas para ser atendido e precisou deitar no chão enquanto aguardava, pois se sentia muito fraco. "Esperar nesse desconforto aumenta ainda mais o incômodo com os sintomas", ressaltou.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -
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Fotos: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -
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Lotação

O presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (Sindmédicos-DF), Gutemberg Fialho, alega que há um deficit de médicos na rede pública de saúde do DF e isso complica ainda mais o combate à dengue.

O líder sindical alega que é necessário um novo plano de cargos e salários para a categoria. "As condições não são atrativas para os médicos na rede pública. Violência por parte de pacientes devido à demora, excesso de pacientes e pouco médico, além de condições de trabalho precárias. Muitos médicos fazem concurso para a secretaria, assumem, mas depois há evasão", destacou. "Segundo a demografia médica, um estudo que sai a cada dois anos, Brasília tem a maior proporção de médico por pacientes do Brasil. No entanto, a grande maioria está na rede privada", acrescentou.

Gutemberg lembra que a pandemia da covid-19 exigiu muito dos profissionais de saúde da rede pública e que, agora, eles estão vivendo uma realidade parecida. "Estamos saindo do estresse da pandemia para o estresse da epidemia de dengue. A diferença é que a dengue é uma doença sazonal e tem todo ano. A dengue pode ser evitada com prevenção", salientou.

 

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