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'Estamos vivendo uma epidemia de dengue', afirma secretária de Saúde

A secretária de Saúde do DF, Lucilene Florêncio, informou, em entrevista ao CB.Poder, que foram registrados seis óbitos este ano, e que outras 24 mortes estão sob investigação. Ela reforçou a necessidade de buscar atendimento após os primeiros sintomas para evitar agravamento da doença

O número de casos de dengue no Distrito Federal, este ano, subiu para quase 30 mil até o último sábado (27/1). São seis óbitos confirmados e outras 24 mortes seguem em investigação, destacou a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, durante o programa CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília — dessa segunda-feira (29/1). Às jornalistas Ana Maria Campos e Adriana Bernardes, a chefe da pasta ressaltou que estamos vivendo uma epidemia de dengue, tendo em vista que várias regiões foram atingidas pela doença.

Quais são os números mais recentes da dengue?

O boletim da semana epidemiológica número quatro mostra que 29.500 casos, de 1 a 27 de janeiro. Tínhamos 30 óbitos em investigação, dos quais seis foram confirmados de morte por dengue.

O que estamos vivendo? Um surto? Epidemia?

Estamos vivendo uma epidemia. É um aumento no número de casos dentro de um território, municípios e estados. Podemos dizer que estamos com um surto epidêmico.

Como está a situação da rede de saúde no combate à doença?

É importante orientar os moradores do DF para que, aos primeiros sintomas, procurem uma Unidade Básica de Saúde (UBS) para atendimento. Hoje, o DF tem 176 UBS, desde a nossa chegada tivemos o cuidado de ampliar esse horário, pois, assim, você amplia a possibilidade de dar um diagnóstico rápido e começar o tratamento. Cinquenta e duas dessas unidades atendem também no sábado, até o meio-dia. Outras 11 atendem à noite, até as 22h. Além das UBSs que atendem sábado e domingo até as 19h. Temos nove tendas localizadas nas regiões com os maiores números de casos, como Ceilândia, Pôr do Sol, Sol Nascente, Brazlândia, Samambaia e Taguatinga, nessa sequência. O DF é a quarta unidade da Federação com o maior número de registros de casos. Quanto mais atuamos no fortalecimento da vigilância epidemiológica e do registro dos casos, mais conseguimos tomar decisões certas, sendo proativos e vigilantes. O tratamento e cuidado da dengue não se faz apenas de forma assistencial, é vigilância mais assistência. É uma doença infecciosa viral, que se faz em vários setores, como o Setor de Limpeza Urbana, Novacap, Bombeiros, Defesa Civil, Polícia Militar e Civil, Secretaria de Governo Civil, Secretaria de Cidades. Não há apenas um único agente nesse enfrentamento.

Em relação à medicação, nós temos estoques? Podem faltar remédios?

Minha obrigação, como gestora pública e responsável sanitária pelo DF, é não deixar faltar. Para isso, temos um decreto (de situação de emergência) que dá celeridade às aquisições. Aderimos ao consórcio Brasil Central, que conta com atas de todos os itens, como retratação oral, soro fisiológico, medicação para vômito, dor abdominal, entre outros. Por intermédio desse consórcio, compramos com mais facilidade e menor preço. Trabalhei muito para que estivéssemos aderindo a essas atas. Faço encontro com minha equipe de logística de compra todos os dias. Nós estamos monitorando, mas alguns itens encontramos dificuldades para adquirir.

Em relação ao número de leitos e profissionais? Estamos preparados? Temos leitos suficientes?

Temos um déficit de força de trabalho em categorias específicas. Para essas categorias, temos concursos homologados e vigentes. O nosso governador (Ibaneis Rocha) chamou 78 agentes de vigilância ambiental. Eles estão na fase de entrega de documentos. Estamos com um contrato temporário em curso para padioleiros e motoristas, são 50 motoristas e 80 padioleiros. Existe um concurso homologado de técnico em enfermagem, médicos, administradores, contadores e economistas. O Corpo de Bombeiros trouxe para nós 300 militares que trabalham nas visitas domiciliares detectando focos e observando a existência de criadouros. Muitas vezes, para o morador, é algo inocente (um jarro de planta), mas pode ter larvas ou ovos do mosquito.

Qual medicamento é vital após os primeiros sintomas?

É uma doença infecciosa que causa uma hemoconcentração, ou seja, o sangue fica espesso. Quanto mais rápido chega hidratação com o soro de via oral, água potável, chás, suco e etc, é melhor. Após percebermos algum sinal de alarme, devemos partir para a hidratação venosa. Ambiente hospitalar é um local que devemos estar quando realmente for necessário. Nossa intenção é que haja realmente essa procura precoce, para que o usuário do SUS (Sistema Único de Saúde) ou rede suplementar fique no seio da família, se hidratando e observando alguns sinais de alarme, como manchas no corpo, dor no abdômen, na barriga e vômitos que não cessam.

Quais são as pessoas com mais facilidades no agravamento? São os jovens?

O Ministério da Saúde recebeu 750 mil doses de vacina, elas estão passando por uma avaliação de qualidade e controle para serem entregues à população. Depois vamos ter um total de seis milhões de doses. O Brasil é o primeiro país do mundo a implantar a vacina contra a dengue. Por que elas estão destinadas de 10 a 14 anos? Porque foi observado que nessa faixa etária tiveram mais internações, por isso a prioridade são crianças de 10 a 14 anos. Não foi um uma escolha aleatória. O DF tem 194 mil habitantes nessa faixa etária. Ainda não sabemos a quantidade de vacinas que vamos receber. O Ministério da Saúde está aguardando a liberação desse primeiro lote, para fazer a distribuição. Entre os critérios que serão usados — conversei com nossa ministra (Nísia Trindade) e com a secretária de Vigilância em Saúde Ambiental e Ambiente, a dra. Ethel Leonor Maciel — estão o aumento de registro de casos nos últimos seis meses e a série histórica dos últimos 10 anos.

Essa vacina que chegará à rede pública é a mesma que encontramos na rede privada?

É a mesma vacina, o fabricante é um só. O governo federal adquiriu todas que podia adquirir. Nós entendemos que essa fatia ofertada à rede privada foi uma decisão de laboratório comercial. Nós temos o Butantã, que está trabalhando (numa vacina) e esperamos que, no fim de 2024 ou em 2025, tenhamos a nossa produção.

Quem não deve tomar vacina?

A bula do fabricante não autoriza idosos e pacientes com imunossupressão, pois é um vírus vivo atenuado.

Após os primeiros sintomas, como devemos agir?

O que peço a todos é celeridade na procura da rede pública. Se está com dor de cabeça, no corpo e teve febre no dia anterior, procure um médico. Não espere os sintomas aumentarem para poder procurar, quanto mais precoce melhor. Dessa forma podemos dar o diagnóstico clínico, realizar o teste rápido. Fazer o IgG e IgM, testes que fazemos. Ainda temos o RT-PCR, que descobre o sorotipo que está circulando. O DF tem o sorotipo DENV-2 circulando, isso é graças à sorotipagem que temos no nosso laboratório público Lacen, que faz essa sorotipagem. Sentiu dores? Procure uma de nossas UBSs ou alguma das nove tendas. Elas estão com uma unidade de resgate do bombeiro. O Exército está disponibilizando mais duas ambulâncias tripuladas para a remoção dp paciente até a UPA. Em relação ao número de leitos, é uma preocupação. De quinta-feira (25/1) até hoje (29/1), aumentamos em oito o número de leitos de UTI. Precisamos ser proativos e não posso esperar o aumento da gravidade. Tivemos a semana epidemiológica três com 9 mil casos e esta com 7.040, uma redução de 23%, mas ainda não se apresenta como sustentada essa queda. Essa diminuição é fruto da comunicação, do nosso caminhar com o fumacê e visitas domiciliares do agente de vigilância. O DF tem 3.600 leitos de enfermaria e 560 leitos de UTI, entre contratados e próprios.

O que podemos identificar como foco de dengue e de proliferação?

Primeiramente, os descartáveis: um copinho de café ou uma de garrafa pet pode ser usado pelo mosquito. Eu peço à nossa população atenção. Pelo menos 75% dos nossos mosquitos e larvas estão no domicílio ou em volta deles. Com o descarte de alguns itens de forma errada e a chegada da chuva, eles se tornam ambientes favoráveis para reprodução do mosquito. Se visualizarmos carcaças de carro (e entulhos), temos o telefone 199, que trata das demandas específicas da dengue. Pelo número 162, podemos pedir coleta de lixo.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

Veja a entrevista:

 

 

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