Saúde

DF conta com a união de esforços na guerra contra o mosquito da dengue

Em Dia D de enfrentamento à doença, no Recanto das Emas, o governador Ibaneis Rocha garantiu que o trabalho tem sido forte no sentido de vencer o Aedes aegypti. Sala de monitoramento que existia no auge da covid-19 foi recriada

O Recanto das Emas recebeu, neste sábado (27/1), o Dia D de enfrentamento à dengue, por meio do programa GDF Mais Perto do Cidadão. Diversas ações foram realizadas por equipes da Secretaria de Saúde, Corpo de Bombeiros, Defensoria Pública, Defesa Civil e outros órgãos do Governo do Distrito Federal (GDF). Na oportunidade, o governador Ibaneis Rocha (MDB) destacou que a capital do país vive uma crise por causa da dengue e confirmou que a vacina chegará no próximo mês

"Nós estamos trabalhando muito forte e queremos mostrar exatamente que estamos junto com a população e vamos combater o mosquito e a doença. Inclusive, decretamos situação de emergência, para poder facilitar o atendimento da Secretaria de Saúde", ressaltou. Sobre o imunizante, o chefe do Executivo local afirmou que está aguardando a determinação por parte do Ministério da Saúde. "A nossa secretária (de Saúde) esteve lá ontem (sexta-feira) buscando mais informações, mas a previsão é para o meio de fevereiro", acrescentou.

Ibaneis também reforçou que a população precisa ajudar no combate ao mosquito transmissor da doença. "É uma questão cultural. Temos que ter a limpeza dentro das casas e a observância da população quanto aos locais abandonados", alertou. "Tivemos uma decisão judicial muito importante, que nos permite acessar locais abandonados que tenham focos da dengue. Com isso, a gente quer fazer um trabalho cada vez mais efetivo", comemorou o governador.

Na sexta-feira, após a exoneração do subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero Martins — que estava à frente das estratégias de combate à dengue — foi recriada a sala de monitoramento que existia na época de auge da covid-19, agora para prevenir e controlar doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. O grupo, que será composto por 11 órgãos do DF, ficará à frente de ações de prevenção ao controle da doença. O decreto saiu em edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) e anuncia que a Sala Distrital Permanente de Coordenação e Controle das Ações de Enfrentamento às Doenças Transmitidas pelo Aedes (SDCC) poderá atuar em conjunto com órgãos do governo federal para atuar nas doenças transmitidas pelo mosquito.

Celeridade nos processos

A secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, afirmou que a sala de monitoramento vem ao encontro de uma necessidade nossa de dar celeridade aos processos administrativos relacionados à dengue. A gestora também disse que as ações, tanto do ponto de vista de vigilância quanto do assistencial, estão sendo feitas. "Ampliamos o acesso, com a extensão de horário de mais três unidades básicas de saúde. As unidades 7 do Gama, e 2 e 5 de Taguatinga funcionarão todos os dias da semana das 7h às 19h para triagem, diagnóstico e acolhimento de pessoas com sintomas da dengue", ressaltou Lucilene.

O Exército Brasileiro também vai apoiar no combate à dengue no DF. Na sexta-feira, o GDF anunciou que 300 militares serão cedidos para apoio nas ruas, além de duas ambulâncias, 15 motoristas e 30 camas de campanha. A secretária de Saúde afirmou que o treinamento começa a partir de segunda-feira, para uma turma de 190 militares.

Os militares destacados para a força-tarefa serão treinados para as visitas domiciliares. "O número de casos é flutuante, diminui em um dia, mas volta a aumentar no outro. É por isso que precisamos ter celeridade, equipe unida, alinhada e cuidando de toda essa demanda, que é urgente", alertou. "Nosso governo também está trabalhando na arrecadação de recursos financeiros para que a gente possa nomear os concursados aprovados em todas as categorias", concluiu a gestora.

Ricardo Daehn/CB/D.A Press -
Minervino Júnior/CB/D.A.Press -
Minervino Júnior/CB/D.A.Press -
Minervino Júnior/CB/D.A.Press -

4 mil imóveis vistoriados

O intuito das forças-tarefas, como a de ontem no Recanto das Emas, tem sido combater a propagação do Aedes aegypti e promover ações educativas. Uma equipe do Corpo de Bombeiros fez o trabalho de vistoria em pouco mais de 4 mil imóveis da região, eliminando possíveis focos do mosquito e orientando a população das quadras 801, 802 e 803. De acordo com a tenente-coronel Lorena Athaydes, comandante do Grupamento de Proteção Civil do CBMDF, foram 327 militares. "Eles orientaram os moradores e fizeram as vistorias dos locais onde pode ter acúmulo de lixo e água parada", comentou. "Naqueles locais onde não podemos descartar, fizemos o tratamento para eliminar as larvas do mosquito da dengue", detalhou a tenente-coronel.

A tenente-coronel lembrou que o GDF disponibiliza o telefone 199, da Defesa Civil, para receber denúncias e informações. "Se a população souber de algum vizinho ou terreno baldio que possa ter focos, pode entrar em contato que estaremos fazendo o levantamento e visita nessas residências", comentou. Em relação às negativas de moradores e terrenos abandonados, porém fechados, a militar disse que a orientação é para identificar e repassar para a Subsecretaria de Vigilância à Saúde. "A gente vai fazer um levantamento desses endereços (das negativas) para que a gente possa fazer a notificação e, durante a semana, teremos uma equipe que volta ao local", afirmou. "Os que estão fechados, a gente está fazendo imagens aéreas e, se foi identificado acúmulo de lixo, teremos o apoio da Novacap e do SLU, com uma operação conjunta para retirada", reforçou. 

Participação de todos

A população também é parte relevante, de acordo com Lorena Athaydes. "É importantíssimo que somem forças com a gente nesse combate à dengue. Os números são muito alarmantes aqui no DF, então, precisamos da participação de todos, mantendo suas casas limpas e fazendo vistorias em piscinas, calhas, e poços", alertou. "Às vezes, temos a impressão de que só pneu pode acumular água, mas até uma sacola com água que está jogada no seu terreno, pode estar juntando larvas", reforçou a militar.

Vizinha a um terreno abandonado que foi vistoriado pelos bombeiros, na Quadra 801, a servente Karla Rodrigues, 35 anos, agradeceu o trabalho das equipes de militares. "Tem muita gente que não tem consciência e mantém a água parada. Aqui mesmo, por causa desse terreno baldio, tem muito mosquito. À noite, está difícil para dormir, porque eles estão incomodando. Por isso, é importante a conscientização da população", lembra.

"A maioria só se conscientiza quando o 'bicho pega', realmente. Então, tem que ter alguém para orientar", afirma Karla. "Aqui em casa, tomo todos os cuidados, inclusive, acabei de lavar o pratinho em que está minha planta e coloquei terra, para não acumular água", garante. Ela afirma que grande parte da família e dos vizinhos estão ou tiveram a doença recentemente.  

Preocupação

A auxiliar de serviços gerais Rosiele Pompeu da Silva, 33 anos, foi uma das pessoas que visitou a carreta da Defensoria Pública, montada para fazer testes de dengue e orientar aqueles que forem positivos. Ela conta que pegou a doença pela primeira vez. "Fico bastante preocupada, porque a dengue hemorrágica é muito forte. Estou sentindo febre, dor de cabeça, atrás dos olhos e nas costas, por isso, vim fazer o teste da dengue", desabafa.

A moradora do Recanto das Emas lamenta a falta de cuidado por parte da população em geral. "A gente toma todos os cuidados, mas não depende só do nosso esforço. Tem vizinhos que não fazem o mesmo", lamenta. Sobre o atendimento, Rosiele elogia a iniciativa. "A carreta foi importante, porque a gente sabe que as upas e os hospitais estão cheios e, aqui, consegui fazer o teste em menos de 20 minutos", avalia.

Longas filas

Com cerca de 180 atendimentos efetivados pela manhã e no começo da tarde de ontem, a dinâmica da tenda montada no Recanto das Emas prometia se estender, já que a fila ainda contabilizava mais de 60 pessoas. "Os casos predominantes têm sido os moderados, quando temos como carro-chefe solução pela reidratação oral, sendo os quadros mais leves", explicou Andréa de Sousa, gerente de Unidade Básica (região Sudoeste). Cerca de 20 profissionais foram destacados para atuar no sábado, com atendimento estendido até 19h.

Ainda que com todos os esforços das equipes, o descontentamento e aflição tomaram conta da recepcionista Vanessa da Silva, 33. Com o pai, o servente Wagner Silva, 59, prostrado para o atendimento desde as 8h, foi somente por volta das 17h20 que conseguiu o deslocamento para o Hospital de Samambaia, dada a suspeita do quadro mais agravado da dengue (a hemorrágica). "A febre está alta, tem sangramento no nariz e há muita fraqueza", descreveu. As mudanças vão tomar conta da casa do servente, sempre relutante. "Ele é muito teimoso, e não usa repelente", comentou. Em menos de 15 dias, foi o segundo susto para a recepcionista: o filho, de 14 anos, deixou recentemente o hospital. "Foi um susto enorme, as plaquetas dele estiveram muito baixas", sintetizou.

Colaborou Ricardo Daehn


 

Mais Lidas