O coronel Jorge Henrique da Silva Pinto, ex-coordenador da Subsecretaria de Inteligência, responsável por confeccionar um relatório que servia para assessorar o então secretário Anderson Torres, no qual apontava o potencial risco das manifestações de 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes, foi exonerado da chefia de comunicação da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).
A exoneração consta em edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) desta sexta-feira (26/1). Jorge Henrique depôs à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa (CLDF), em 30 de março do ano passado. Na comissão, o oficial detalhou que enviou alertas, na véspera dos atos do 8 de janeiro, nos grupos de WhatsApp. Ele confrontou uma versão do depoimento de Torres à PF, quando o ex-secretário disse que a inteligência da pasta o municiava de informações estratégicas, mas que não foi informado dos movimentos para os atos.
"A princípio, ele estava no grupo Difusão. O alcance desse grupo era exatamente o secretário de Segurança Pública. Se ele não estava exercendo (o cargo), o destinatário dessas informações (da inteligência) seria o secretário-executivo", garantiu o coronel.
À CPI, o coronel esclareceu que a inteligência exerce duas funções: suporte ao secretário da pasta para tomada de decisões — no âmbito da inteligência — e assessoramento a todas as outras subsecretarias. Sem acompanhamento de um advogado, o policial pontuou que todos os monitoramentos foram repassados aos superiores. Na data, segundo o coronel, quem respondia pela SSP-DF era o então secretário-executivo Fernando de Sousa Oliveira. O ex-número 2 da pasta foi indiciado no relatório final da CPI.
"Tivemos dois momentos de repasse de informações. O primeiro, quando foi elaborado um relatório de inteligência mais completo e, o segundo, depois da criação da cédula, quando foram estabelecidos os grupos (no WhatsApp). Todo o tipo de conhecimento, dado ou informação relativo aos eventos, foi repassado no grupo. Esse grupo permitiu que elaborássemos essas informações que chegaram ao secretário-executivo. Todas as informações que chegaram a ele (Fernando), também iam para s outros órgãos que faziam parte dos grupos", disse.
CPI
O coordenador de inteligência explicou que, dentro da SSP, não tinha o entendimento do que poderia ocorrer naquele fim de semana dos atos de 8 de janeiro, mesmo com as convocações de apoiadores de Jair Bolsonaro nas redes sociais, para a "tomada do Poder". Ele contou que, até sexta-feira (6/1), havia entre 250 a 300 pessoas e que esse quantitativo não seria suficiente para enquadrar a manifestação como "de risco".
"Não sei de que forma os tomadores de decisão entenderam os meus alertas. A inteligência produz conhecimento e ajuda no processo decisório. Quem decide não é a inteligência", esclareceu. "A inteligência se presta à obrigação de informar ao decisor. Se essa informação chega ao decisor, é o mais importante. No caso da SSP, chegou", finalizou. Em depoimento, Torres negou que tenha recebido o relatório.
O coronel deixou o cargo de coordenador da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) em 1 de março, e assumiu a função de subchefe de Operações, cargo estratégico dentro do Departamento de Operações (DOP) da PMDF — o mesmo setor apontado como crucial para os ataques do 8 de janeiro — em 14 de março. Em 16 de junho do ano passado, o coronel assumiu a função de chefe do Centro de Comunicação Social da corporação, mas deixou o cargo nesta sexta-feira (16/6).
Relatório
Relatório da Subsecretaria de Inteligência da SSP-DF emitido no dia 6 de janeiro — dias antes dos atos golpistas de 8 de janeiro —, apontou que a área da inteligência fez um alerta sobre a convocação dos atos. O documento alertou que Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) queriam “sitiar Brasília”. O relatório, divulgado pelo Correio, foi emitido pela equipe do coronel no mesmo dia em que Anderson Torres viajou aos Estados Unidos.
No documento, elaborado pela Subsecretaria de Inteligência da SSP, responsável por assessorar o então secretário sobre possíveis tomadas de decisões, a área da pasta emitiu alertas sobre os atos do fim de semana de 8 de janeiro.
“Circula divulgação sobre a realização dos atos, em Brasília, entre os dias 6 e 8 de janeiro, com vinda de caravanas de outros estados, em oposição ao atual governo federal. Em desdobramento, a partir do dia 9 de janeiro, estaria prevista a realização de uma 'greve geral'. Entre as eventuais ações estariam invasão a órgãos públicos e bloqueio em refinarias e/ou distribuidoras e combustíveis”, citou o resumo do documento enviado pela inteligência.
A inteligência relatou que, em 5 de janeiro, verificou situações que dariam início ao potencial ataque às sedes dos Três Poderes, como estacionamento de terra com acesso bloqueado e com quatro tendas; recolhimento de material pelos militares em tendas desocupadas; e presença de cerca de 100 pessoas em frente do Quartel-General do Exército. Esses monitoramentos foram feitos por meio de drones. “Em que pese a mencionada desmobilização, nota-se convocação para novas mobilizações pelas redes sociais e previstas para ocorrer em Brasília contra o atual governo federal”, destacou o documento.
Os investigadores apontaram que ocorreriam manifestações de oposição contra o atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre os dias 6 e 8 de janeiro. A convocação, intitulada “Tomada de Poder pelo povo”, previa a invasão, inicialmente, do Congresso Nacional. Os organizadores, segundo o monitoramento da inteligência, eram autodenominados “patriotas”. Além deles, os integrantes do movimento também seriam ligados ao agronegócio e caminhoneiros.
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