DENGUE

A guerra contra o mosquito da dengue não pode parar

A Justiça autorizou, ontem, a entrada de agentes de saúde nos imóveis sem permissão dos proprietários para combate o transmissor da doença. Focos do Aedes aegypti devem ser combatidos diariamente e a responsabilidade é de todos

Um dos maiores desafios a serem enfrentados no combate à dengue é a missão diária de eliminar os focos do mosquito Aedes aegypti. Todos os dias, cerca de 700 profissionais dos 15 núcleos de Vigilância Ambiental fazem visitas a imóveis em busca do transmissor da doença. Eles atuam na inspeção, verificação e eliminação de possíveis criadouros. Além de residências, são verificados terrenos abandonados, borracharias, floriculturas e outros espaços considerados de risco para a proliferação. A 3ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal concedeu, na tarde de ontem, alvará judicial para que agentes de saúde possam entrar em imóveis residenciais e comerciais abandonados e fechados no DF, além daqueles em que for recusado o acesso.

A decisão foi proferida pelo juiz Gustavo Fernandes Sales. O alvará terá validade de um ano, a partir da apresentação de um protocolo de ações, por parte do governo do DF. No período, agentes de saúde, devidamente identificados, com crachá e roupas de trabalho, poderão ingressar nesses locais para combate e prevenção do mosquito.

De acordo com a decisão do magistrado, os agentes deverão apresentar, em até 30 dias após entrar em uma casa, um relatório circunstanciado do local, nos termos do art. 3º da Lei Federal n° 13.301/2016. Nesse documento, haverá anotações dos dados do imóvel vistoriado, o motivo da entrada, a forma de entrada no local, o nome dos agentes e eventuais profissionais que realizaram o serviço.

Para o engenheiro sanitarista e professor associado do Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Adacto Ottoni, o aumento da proliferação do mosquito Aedes aegypti é esperado nesta época do ano, devido ao período chuvoso do verão. No entanto, medidas preventivas tomadas tanto pela população quanto pelo governo poderiam evitar o crescimento alarmante de casos da dengue. "Não há condições adequadas de drenagem na área urbana, além de problemas de ocupações irregulares e falta de orientação aos moradores. A solução para o problema é justamente atacar os focos e evitar a água empoçada", comentou o especialista.

Adacto ressaltou a importância de ter um planejamento adequado para a prevenção da dengue. "É muito mais fácil prevenir do que depois você curar alguém doente. Isso é possível fazer com o trabalho adequado de saneamento ambiental, para evitar a proliferação das larvas de mosquito Aedes aegypti", enfatizou o engenheiro sanitarista. "Primeiro, tem que ter uma população consciente de não deixar água empoçada e estagnada, uma piscina abandonada, por exemplo, que é um ponto de foco enorme, ainda mais no verão. E obviamente, coibir. O governo tem que ter medida preventiva, tem que haver um programa de governo constatando onde tem esses pontos de acumulação de água. Tem que evitar a causa para reduzir sensivelmente a quantidade de casos", completou.

Arma

O proprietário de uma banca na Feira dos Importados Suwei Zheng vende raquetes de matar mosquito há 20 anos. No início de janeiro deste ano, ele adquiriu um estoque suficiente para durar três semanas, mas os produtos acabaram em sete dias. "Geralmente, as vendas aumentam na época de chuva, pois aumenta a quantidade de insetos, mas, neste ano, as vendas dispararam mais do que o normal", detalha Suwei.

O comerciante acabou conseguindo com o fornecedor uma quantidade extra de raquetes para suprir a demanda, mas ainda assim não tem sido suficiente. "A eficiência desta raquete é de 90%", explica.

Focos do mosquito

Em algumas regiões administrativas, moradores têm reclamado da quantidade de lixo e do descaso com terrenos abandonados. É o caso do trecho 2 do Sol Nascente, onde o Correio esteve na tarde de ontem e flagrou uma grande quantidade de lixo e poças de água parada em um terreno localizado em uma área residencial.

José Rodrigues, 65 anos, mora na região e conta que, todos os dias, as pessoas jogam lixo no local. "Para nós que moramos por aqui é ruim demais, porque, por mais que a gente se livre dos focos de dengue em casa, esse tipo de local atrai muito mosquito", declara.

Repelente

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Distrito Federal (Sincofarma), Erivan Araújo destacou que o sindicato tem acompanhado de perto o crescimento de casos de dengue no DF, principalmente nos últimos 15 dias. Segundo ele, o levantamento feito junto com as farmácias e drogarias apurou que houve um crescimento de quase 60% na venda de repelentes. "Isso realmente é um número bem expressivo. O que nós temos orientado para as farmácias e drogarias do DF é para que ajudem atuando como um agente do GDF, orientando a população para aquilo que deve fazer para combater o mosquito da dengue", ressaltou Erivan.

Vacina sem custos

A partir da próxima segunda-feira, a Geap Saúde vai disponibilizar a vacina da dengue, sem custos, para os beneficiários do Distrito Federal. A ação é uma resposta ao surto de casos da doença na capital do país. A campanha de vacinação da operadora se estenderá pelos próximos 30 dias, em Brasília, e está em estudo para ser estendida para outros estados com alta incidência de casos.

Em um evento na sede da Geap, o diretor-presidente da operadora, Douglas Figueredo, disse que o DF será atendido com a vacina, o público de 4 a 60 anos — faixa etária recomendada para receber o imunizante Qdenga. Aqui no DF, a vacinação ocorrerá em parceria com o laboratório Atos, localizado no Setor Hospitalar Sul 716, conjunto A sala 603 e 605, OHB. A vacina será aplicada nos beneficiários da Geap por ordem de chegada e sem necessidade de marcação. O imunizante também estará disponível na Unidade Administrativa da Geap, que fica no Setor Hoteleiro Norte.

"Tivemos um crescimento assustador e ficamos preocupados com isso. Essa é uma ação muito importante que estamos realizando para atender ao nosso beneficiário nesse momento de alerta, ao mesmo tempo em que auxiliamos o Ministério da Saúde na ofensiva contra a dengue", lembrou Figueredo.

A primeira beneficiária a tomar a vacina foi a servidora pública Cinara Wagner Fredo, 48 anos. Antes de tomar o imunizante, ela destacou a importância do ato. "É um momento de alegria, mas de muita preocupação. Precisamos manter todos os cuidados", alertou.

A vacina escolhida, a Qdenga, foi aprovada recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O imunizante é composto por quatro tipos do vírus responsável pela dengue, oferecendo uma proteção abrangente contra a doença e eficácia de 80%. São necessárias duas doses, com um intervalo de três meses entre as aplicações.

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