Em meio aos confetes, espumas e purpurina, tudo indica que o carnaval de Brasília de 2024 terá um colorido diferente. De 10 a 14 de fevereiro, nos blocos oficiais de rua, a tendência é ter fantasias customizadas com uso de papelão, joias, tiaras temáticas, material metalizado e reaproveitamento de materiais têxteis. Além da produção de uma identidade própria, os foliões optam pela economia de mais de 50% no valor de uma roupa pronta. Os especialistas dizem que as vestimentas devem ser pautadas na temática ambiental, com adereços que remetam à estrela, sol ou lua ou de super-heróis ou princesas, principalmente no caso do público infantil.
Na loja infantil Bem Lindinha Fantasias, no Sudoeste, uma das apostas de vendas será a fantasia da Rainha de Copas, vilã do filme Alice no País das Maravilhas. "Tenho notado o pessoal utilizando muitos acessórios como as body chains (joias para o corpo) e tiaras temáticas. Foi o que eu trouxe para a loja pensando no carnaval", afirma Iolanda Martins, 60 anos, dona do estabelecimento.
Os adereços de material metalizado são outra aposta da comerciante para este ano. "O produto teve destaque em 2023 e seguirá presente em bodys e saias. A aparência de sereia também é garantida no carnaval de 2024, mas com peças mais minimalistas", explica a lojista. Iolanda avisa que os valores dos adereços costumam variar de R$ 15 a R$ 35, mas é possível encontrar fantasias prontas com valor médio de R$ 199.
Consumo consciente
Para quem busca customizar as próprias peças de carnaval e compor looks únicos, é possível seguir a tendência crescente do upcycling, termo em inglês utilizado para o reaproveitamento de materiais têxteis na criação de novas roupas ou acessórios. Inspirada no filme Mad Max, que mostra um futuro com recursos de óleo esgotados e um mundo em guerra, fome e caos financeiro, a psicóloga Luana Alcântara, 31, é uma das foliãs que vai apostar em materiais recicláveis na fantasia.
Com o namorado, ela irá curtir o carnaval de Brasília vestida da personagem Furiosa, novo filme da franquia. A ideia é usar referências a um planeta depois do aquecimento global, com terra e pouca água. "Escolhi essa fantasia exatamente por conta do momento que a gente vive, para fazer uma crítica à falta de engajamento dos líderes mundiais na recuperação do mundo", explica Luana. No ano passado, o casal se vestiu de ema e segurou remédios sem comprovação científica feitos de papelão, uma crítica à forma como o governo Bolsonaro lidou com a pandemia de covid-19.
Na roupa para desfilar nos blocos de rua do DF, a moradora da Asa Sul vai usar vários cintos e papelão para colocar carrinhos em volta do corpo, mesma identidade visual do companheiro, que irá se vestir de Max, personagem principal do longa-metragem. Luana conta que prefere economizar com fantasias prontas e produzir algo com a cara dela. "Gosto de fazer os objetos serem ressignificados e terem novas funções. Tem tudo a ver com a forma política que escolhemos nos fantasiar, porque usamos objetos que poderiam ser jogados fora", analisa a foliã.
Segundo a estilista Fernanda Ferrugem, 45, dona da marca de mesmo nome há mais de 20 anos, o consumo consciente terá peso nas festividades. "O reaproveitamento de peças vem de uma consciência ambiental que tem impactado as pessoas de forma positiva. A gente está passando por uma situação complicada com as questões climáticas", afirma. A estilista também apontou como possibilidade as fantasias cósmicas, com as caracterizações de estrela, sol ou lua.
A profissional explica que a customização nada mais é do que decorar o que existe e transformar as peças. Uma das sugestões sugeridas pela estilista é o reaproveitamento do bojo de sutiã para produzir as famosas ombreiras, que serão, nas palavras de Ferrugem, um hit para esse carnaval. "O ideal é ornamentar o par do bojo, fica super anatômico nos ombros. As franjas também estão no auge e podem ser feitas com fitas metalizadas ou coloridas, como as usadas em festas", acrescenta Fernanda. No ateliê da estilista, as peças variam de R$ 100 a R$ 300.
A atriz e modelo Pietra Almeida, 13, costuma frequentar festas de carnaval com a mãe Juliana Almeida, 38. Ela estava à procura da fantasia de Branca de Neve para inovar o visual. No ano anterior, a menina se fantasiou de baiana. "Costumo utilizar apenas alguns adereços de carnaval, como plumas ou glitter. Mas a Pietra adora se fantasiar, ela faz isso todo ano", diz Juliana.
"Ai, que loucura!"
Com objetivo de levar alegria às ruas, o servidor público Leonardo Matos, 39, também pretende economizar com o grupo de sete amigos na montagem de fantasias de influencers famosas por memes na internet, como Narcisa com o bordão "ai, que loucura!" e Inês Brasil com frases icônicas após dizer "mas é aquele ditado". O morador da Asa Sul cita o custo-benefício de personalizar a roupa, que costuma ficar 50% mais barata em relação a uma fantasia pronta. "Produzir o próprio material não é copiar uma fantasia customizada, mas é atualizar as peças do carnaval passado, remodelando e trocando uma cor ou tecido", opina.
Leonardo se diz inspirado pelo carnaval do ano passado em Olhos D'Água (GO), cidade a mais de 100 quilômetros de Brasília. Lá, o grupo de amigos ganhou o prêmio de voto popular de melhor fantasia de carnaval no Bloco das Piranhas. "Para alugar fantasia era muito caro e não caminhava para o bom humor, e vimos que era melhor. Produzir respeita o nosso corpo e deixa a gente mais à vontade para curtir o carnaval alegre e divertido, sem se incomodar com um tecido apertado", compara o folião.
Uma das possibilidades que seguem a linha do consumo consciente é a procura por peças em brechós para as customizações. Morador da Asa Norte, o maquiador artístico Anderson Luiz Martins, 31, diz que, para compor os figurinos, ele recorre à moda circular, que é o reaproveitamento de peças. "Nunca repito minhas fantasias, e não produzo mais lixo. Todos os anos reutilizo o que eu tenho e compro em brechós, para dar mais vida útil para a peça", conta o brasiliense.
Para Anderson, o trabalho manual terá muita força neste carnaval. Ele cita como exemplo o crochê. Segundo ele, as produções vão contar com pérolas e pedraria de chaton, que são brilhosas. Durante os quatro dias de festa, ele trabalha montando os looks de 30 a 50 clientes. "Por começar a fazer as peças em janeiro, vendo muito antecipadamente", finaliza.
*Com Beatriz Mascarenhas, estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti
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