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'O 8 de Janeiro não se repetirá. Foi um dia triste', afirma Sandro Avelar

Delegado afirmou, em entrevista ao CB.Poder, que as forças de segurança são instituições fortes, mas destacou que "não se pode, de forma alguma, negar que houve uma falha grave". Ele confirmou também a indicação da coronel Ana Paula para o comando da PMDF

O secretário de Segurança Pública do GDF, Sandro Avelar, afirmou que a barbárie do dia 8 de janeiro nunca mais vai se repetir e que houve uma série de circunstâncias que devem ser apuradas. Em entrevista aos jornalistas Ana Maria Campos e Roberto Fonseca, no programa CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília — dessa segunda-feira (8/1), o secretário destacou que a Polícia Militar (PMDF) foi a mais criticada, e com razão, em alguns aspectos, mas também tiveram falhas de outras forças de segurança, que devem ser objeto de apuração no âmbito adequado.

O senhor assumiu o cargo no período da intervenção por causa do dia 8 de janeiro, um período muito difícil. Quais foram as lições que tirou do ano passado?

Foi um ano pesado e começou de maneira atribulada, acredito que terminou bem melhor do que iniciou. Quando falamos de segurança pública, tivemos resultados muito positivos em relação a índices. Os números de criminalidade baixaram. Houve um recorde histórico no que diz respeito à redução de homicídios no Distrito Federal. Foi desafiador, mas foi um período em que conseguimos agregar muito às forças da Segurança Pública. Elas são reconhecidamente muito eficientes, sobretudo a Polícia Militar, que estava em uma posição de mostrar que o 8 de Janeiro havia ficado para trás, mostrando que a instituição é maior e mais forte que o problema. Aquele ato não vai se repetir, pois foi um dia muito triste para o país e para o DF. As forças de segurança foram colocadas em uma condição muito difícil. Ao fim e ao cabo, coube à PM retomar a tarefa de voltar à normalidade na Esplanada dos Ministérios e em alguns prédios que foram invadidos.

Um ano depois, o que o senhor acha que aconteceu com uma corporação tão eficiente e treinada para conter manifestações, que permitisse o ocorrido?

Não se pode, de forma alguma, negar que houve uma falha grave. O que está sendo apurado na Justiça pelas vias adequadas é para saber se foi uma falha ou se houve algo mais. Isso ainda está sendo objeto de apuração. Há uma tendência a entender que não foi uma falha. Temos que aguardar o final das investigações. A PM tinha enfrentado momentos de grandes manifestações no DF, como as de 2012 e de 2013 com os black blocs, ou seja, é uma corporação acostumada a fazer esse tipo de evento. Mas o 8 de Janeiro não é só a questão do número (pequeno) de policiais que estava de prontidão, mas também o fato de que as tropas especializadas não estavam à disposição naquele momento. Houve uma série de circunstâncias que devem ser apuradas.

O senhor tomou posse após o ocorrido. Lembrando daquele momento, teria feito algo de diferente à frente da Secretaria de Segurança Pública?

Cheguei em uma condição que devia respeitar as instituições e as decisões que haviam sido tomadas. O interventor (da Segurança Pública) Ricardo Cappelli tinha sido muito feliz nas colocações e decisões que havia tomado. À respeito das forças de segurança, adotou medidas duras, mas respeitosas. Assim como a cadeia hierárquica das instituições. Na minha chegada procurei conduzir as coisas de uma maneira para não quebrar a estrutura das instituições, pois também seguiria o mesmo caminho. É sempre muito importante entender as circunstâncias. Se o tempo voltasse, eu faria da mesma forma.

Como é o sentimento coletivo dos policiais militares esperando o julgamento, como a do coronel Fábio Augusto e do coronel Klepter Rosa, que estão presos?

São duas pessoas muito respeitadas. Fábio Augusto saiu ferido no combate às manifestações. É claro que isso abala as instituições. É interessante como a Polícia Militar, que foi alvo de tantas críticas — e realmente não há como defender muitos dos aspectos que estão sendo tratados, pois como falei, na melhor das hipóteses houve uma falha que deve ser apurada e aqueles que realmente falharam terão que responder por isso. Mas coube à própria instituição Polícia Militar resolver aquela situação. Talvez seja a instituição que tem maior responsabilidade, em razão do seu poder de policiamento ostensivo e seu efetivo ser acostumado a lidar com esse tipo de embate. Ela não está isolada, há outras forças de segurança que devem ser objeto de apuração no âmbito adequado. As investigações continuam, dia 8 de Janeiro ainda não terminou, mas, nesse primeiro momento, coube à PMDF essa maior exposição. Isso por conta de comandantes da instituição terem sido presos, mas, ao mesmo tempo, algumas pessoas foram promovidas por atos de bravura.

Como foram feitos os planejamentos de outros eventos na capital, por exemplo, o 7 de Setembro. E hoje (ontem), os órgãos de inteligência identificaram alguma movimentação aqui na capital?

Não, os órgãos não identificaram nenhum movimento que seja preocupante. Essa é a dificuldade de lidar com segurança pública, você nunca está 100% seguro de que não vai haver algum ato, feito por exemplo, aquele chamado lobo solitário. Onde o cidadão atua isoladamente e, às vezes, com um grau de radicalismo e impetuosidade. Tivemos casos de pessoas que atearam fogo em si mesmas, ou seja, são coisas que você não imagina a que ponto podem chegar. No que diz respeito a grandes manifestações, conseguimos controlar e temos feito um trabalho muito forte de inteligência, sobretudo no acompanhamento das redes sociais e outros métodos existentes para pessoas se organizarem. Se for o caso de errar, que erremos pelo excesso e supervalorização do evento. Se tiver que colocar uma quantidade (de efetivo) maior que o necessário, será feito.

Irá ocorrer uma troca no comando da Polícia Militar. Entrará a coronel Ana Paula, que hoje é subcomandante geral. O que levou à decisão de alterar o comando?

A coronel Ana Paula é uma oficial muito respeitada e admirada pelos colegas. Tem um histórico de serviços prestados à instituição e ao Distrito Federal. Conversei com o governador Ibaneis Rocha (MDB), que concordou ser uma boa indicação. É um bom nome e temos feito uma política muito forte no sentido de prestigiar as mulheres ligadas à Segurança Pública. Uma das nossas pautas primordiais para este ano é o combate à violência contra a mulher. Vamos ter, pela primeira vez na história do país, duas comandantes mulheres das corporações militares. A Ana Paula na Polícia Militar e a permanência da coronel Mônica (de Mesquita) no Corpo de Bombeiros. Será uma situação interessante e tenho certeza que vai ser muito profícua. Vai ao encontro do nosso desejo de prestigiar a mulher. Além de colher essa competência e olhar feminino para áreas específicas, sobretudo no combate à violência contra a mulher.

Toda troca de comando normalmente é seguida de algumas ações. Em relação ao policiamento ostensivo, está previsto algo diferente do que está sendo adotado?

Desde que chegamos, estamos conseguindo fazer um trabalho muito bom nesse aspecto de policiamento ostensivo. Enfrentamos vários momentos muito difíceis. O carnaval do ano passado é um exemplo, com blocos que tradicionalmente buscam confrontos e combinam pelas redes sociais. Vários jogos importantes de cunho nacional aconteceram aqui, como a final da Supercopa, com torcidas grandes de estados que são rivais. Estamos conseguindo colocar o efetivo adequado e as respostas têm sido dadas muito a contento. No âmbito operacional, o ano de 2023, a partir do lamentável 8 de janeiro, obteve um tratamento muito adequado por parte da Polícia Militar à respeito da disponibilização do efetivo operacional.

Além dessa crise que a Polícia Militar passou por conta do 8 de Janeiro, no final do ano passado houve um problema com a Polícia Civil, devido à denúncia e prisão do ex-delegado-geral Robson Cândido. Existe uma garantia para a sociedade de que esse episódio é isolado?

Tenho muita segurança disso. Foi algo realmente isolado, ainda está sendo apurado. Esperamos o término das investigações para ver o que efetivamente vai ser comprovado e aquilo que não vai. O fato é que a Polícia Civil se autorregulamenta de maneira muito eficiente. É uma corporação em que seus membros são notoriamente competentes. A PCDF é, sem dúvida, a melhor polícia judiciária do país. O índice de solução de criminalidade dela é algo extraordinário. Temos policiais eficientes e que estão vigiando e cuidando da instituição. 

Está em andamento a Operação Lesa Pátria e estamos na 28ª fase. Há algum trabalho da PCDF e da PF em relação ao ocorrido em 8 de janeiro?

Há trocas de informações de inteligência, alguns aspectos que estão dentro de determinada investigação que são aproveitadas pela Polícia Federal ou pela Polícia Civil. Temos uma proximidade muito grande. O fato de eu ser delegado da Polícia Federal ajuda bastante. Essa soma de esforços é algo muito desejável e estamos fazendo com muita naturalidade aqui no DF. A Polícia Federal conta com apoio da Polícia Civil em diversos momentos.

Em relação à questão do feminicídio tem alguma diretriz para combatê-lo?

Devemos entender que a questão do feminicídio envolve diversas áreas. Muitas vezes extrapolam a capacidade governamental. Na área de Segurança Pública, posso garantir com 100% de certeza que estamos fazendo tudo o que é possível. Estamos agilizando os atendimentos, tratando com prioridade e disponibilizamos dispositivos para que as mulheres vítimas de violência saiam das nossas delegacias sendo monitoradas. Na secretaria, recebemos rapidamente informações quando uma dessas mulheres está sendo ameaçada. Não existe caso de feminicídio não solucionado no DF. O governador Ibaneis criou uma uma bolsa (auxílio financeiro) para aquelas vítimas que são os órfãos dos feminicídios, para que esses jovens possam, de alguma forma,se manter.

*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira

Veja a entrevista na íntegra

 

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