Suor, tremor, taquicardia, sensação de pânico e choro. Bastava entrar no carro e sentar-se ao volante para que Rosemeire Sandrão, 61 anos, sentisse o medo de dirigir. Ao longo de quase 18 anos, ela conviveu com a angústia de realizar uma atividade que, para muitos, é praticamente automática.
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Conduzir um veículo se tornou um pesadelo após um acidente em 2003. Foi em um cruzamento que o carro de Rosemeire chocou-se contra a lateral de outro veículo. Com a batida, os dois carros ficaram inutilizáveis, mas os condutores saíram ilesos — fisicamente. "Tinha seguro na época, estava abalada, mas me sentia bem, aparentemente. Quando fui comprar outro carro, saí da concessionária e não tirava o velocímetro dos 30 Km/h", relata. "Eu me sentia incapaz de dirigir."
É preciso diferenciar o medo, que precede a precaução, do medo que paralisa. De acordo com o Conselho Federal de Psicologia, quando o medo de dirigir se caracteriza por "ideias persecutórias (de perseguição) ou fatalistas, que interferem na tranquilidade de circular no carro", ele se torna uma fobia chamada de amaxofobia.
O medo de dirigir não tem sintomas diferentes de outras fobias, explica Cecilia Bellina, psicóloga cognitivo-comportamental especializada em psicologia do trânsito. "A grande diferença é que, no carro, o indivíduo precisa continuar desempenhando uma função apesar do desconforto, o que torna o medo de dirigir mais difícil de ser superado", aponta a psicóloga, que também foi conselheira do Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Ela afirma que a amaxofobia não está necessariamente atrelada a um trauma. A insegurança pode ser uma consequência da insuficiência de aulas práticas durante o processo de obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). "Os acidentes não são a principal causa do medo, mas sim a falta de seriedade com a aprendizagem do candidato ao tirar carteira de motorista", constata. "Muitas pessoas saem da autoescola porque aprenderam a passar no exame, mas não sabem dirigir. A depender das características da personalidade de cada um, há quem deixe para aprender depois por insegurança", observa.
Medo de não voltar
No caso de Rosemeire, a questão não era falta de técnica para dirigir. Anos após o acidente, ela dirigia diariamente 80 quilômetros para ir e voltar ao trabalho. "Nas primeiras vezes, saía de casa e deixava coisas como o plano funerário e senhas dos cartões de crédito. Tinha certeza de que não voltaria", lembra. "Na época, meu marido disse para eu avisar no trabalho que não conseguia, mas tinha medo de ser mandada embora. Foram onze anos nesse emprego", resume.
Em fevereiro de 2022, Rosemeire começou a se consultar com Cecilia, que atualmente se dedica a sessões individuais e conduz sessões on-line de terapia em grupo. A psicóloga afirma que a maioria das pessoas que buscam seu trabalho são mulheres. "Quando comecei este trabalho em grupo descobri que elas se sentiam pertencentes a um espaço. Percebi que o medo de dirigir não é entendido socialmente, há muitas cobranças", diz.
No método aplicado por Cecilia, cada paciente deve estabelecer 10 objetivos, ou seja, 10 destinos que deseja alcançar dirigindo, que são elencados por ordem crescente de dificuldade. Antes da lista, o percurso é simples: dar uma volta no quarteirão. "A volta no quarteirão é pra baixar a ansiedade, não para treinar. O ganho prático é mostrar que ela dá conta", comenta Bellina.
Para Rosemeire, o acompanhamento da psicóloga ao longo de oito meses foi transformador. "Comecei a tratar de um quadro depressivo, e ela me deu coragem para não desistir. Hoje, quando entro no carro e saio para qualquer lugar sem sentir esse aperto no peito é uma benção", finaliza.
O Detran-DF oferece cursos de iniciação à superação do medo de dirigir na Escola Pública de Trânsito. As aulas retornarão em fevereiro, mas ainda sem data prevista.