Um paciente, de 35 anos, com sintomas da dengue, se rastejou em busca de atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia Norte. O caso ocorreu na noite desta quarta-feira (31/1), quando Ailton da Silva Costa, 35 anos, chegou acompanhado de dois amigos. "Eu vou invadir", disse o rapaz antes de implorar por atendimento.
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Segundo os amigos, já havia três dias que Ailton vinha tendo vômitos e dores atrás dos olhos. Antes de chegar a UPA, ele tentou atendimento no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde apresentou febre alta. Na unidade, pacientes relatam que é comum o encaminhamento a uma UPA da região.
Após pedir para ser atendido na recepção, vigilantes da unidade deixaram o rapaz passar na frente de outros pacientes e receber atendimento na triagem. Entretanto, os funcionários pediram para ele ficar sem o cobertor — mesmo com calafrios — para poder ser examinado.
Paciente "pouco urgente"
Em nota, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) informa que o paciente, ao buscar a UPA de Ceilândia, foi inicialmente classificado como pouco urgente às 20h45, quando apresentou sinais vitais estáveis e sem gravidade evidente. Mas, o órgão diz que às 23h40, ao ser chamado para atendimento médico, não estava mais na unidade.
O Iges-DF argumenta que o aumento no tempo de espera é resultado da significativa demanda enfrentada nas unidades devido ao aumento sazonal de casos de dengue em todo o DF e Entorno. "Esse cenário contribui para o aumento da procura por atendimento em todas as Unidades de Saúde. Adicionalmente, os pacientes diagnosticados com dengue tendem a permanecer mais tempo na Unidade devido ao processo de reidratação", diz um trecho.
Por fim, o Iges destaca que segue a nota técnica da dengue e aplica o protocolo de classificação de risco do Ministério da Saúde (MS).
O Iges-DF administra todas as Unidades de Terapia Intensiva do Distrito Federal, além do Hospital de Base do DF (HBDF) e o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM).
Moradora da Guariroba, bairro de Ceilândia, a produtora de eventos Pâmela Farias, 25, estava ajoelhada no chão próxima de Ailton. Agasalhada e com dores no corpo, ela não hesitou em sair de casa e ir direto à UPA por saber que não conseguiria atendimento no HRC.
"Estou com calafrio, muita dor no corpo, e tive febre de 38,7ºC. Estou aqui desde as 19h. O governo não se organiza para poder atender a demanda de mosquito da dengue, porque sabem que vai estar chovendo nesta época e não vi ações na minha rua no fim do ano passado, só agora em janeiro", desabafa a jovem. Danúbia diz que por volta de 0h saiu da UPA após ter sido atendida. O teste rápido deu positivo para dengue.
A reportagem procurou o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), que administra as UPAs do DF, para se posicionar diante do caso e explicar como é feito o atendimento a pacientes com sintomas da dengue. Assim que houver uma resposta, esta matéria será atualizada.
Cinco dias com dor de cabeça
A técnica de enfermagem Danúbia Gomes, 42, é uma das pacientes sentadas na fila de espera que se esquentava com agasalho devido a calafrios, sintomas que ela vem sentindo há cinco dias. Com dores atrás da cabeça e febre de 38,5ºC, ela foi direto à UPA para tentar atendimento ainda durante a noite. "Estou com os olhos praticamente fechados de tanto que está ardendo de dor", detalha.
Em casa, ela mora com meu marido e dois filhos, mas questiona se os vizinhos praticam o mesmo cuidado que ela tem com a limpeza dos possíveis focos do mosquito Aedes aegypti. Na família ela tem ciência de duas pessoas que foram internadas na unidade de terapia intensiva (UTI) devido ao baixo nível de plaquetas no sangue. "O governo tinha que prestar mais atenção antes. Tiraram os agentes de saúde das casas e aconteceu isso tudo", desabafa Danúbia.
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