Morreu na madrugada desta quinta-feira (25/1), aos 85 anos, a educadora Maria Inês Fontenele Mourão. Nascida em Ipueiras (CE), em 11 de agosto de 1938, a professora chegou a Brasília quase junto com a inauguração da capital, em 1960, e participou da construção da educação pública no DF.
Maria Inês fez curso de normalista ainda na cidade natal, no Ceará, e se mudou para o Rio de Janeiro (RJ), onde lecionou no Colégio Sacre Coeur de Mari. Aos 24 anos, recém-casada com o jornalista e comerciante Antonio Lisboa Mourão e empolgada com a nova cidade que estava a nascer, mudou-se para Brasília pouco antes da inauguração oficial, em 21 de abril. Na capital que ainda se assemelhava a um canteiro de obras, a educadora participou dos primeiros passos da educação distrital e construiu o nome na história do quadradinho.
Sem família ou conhecidos além do esposo, a normalista de formação fez concurso para a rede pública de educação. Maria Inês foi professora de geografia na Escola Industrial de Taguatinga (EIT), onde deu aulas durante 15 anos.
Paralelamente ao trabalho na escola, a pioneira do DF também conquistou espaço no comércio e abriu caminho para que outras mulheres pudessem ser mais vistas no cenário. Com o marido, a comerciante construiu a Loja Cegonha, varejista de roupas infantis.
Em um cenário predominantemente masculino, Maria Inês começou a assumir papéis de destaque e se tornou a primeira mulher a fazer parte da diretoria da Associação Comercial do Distrito Federal (ACDF). Em 28 de abril de 1980, ela fundou a Federação das Associações de Mulheres de Negócios e Profissionais em Brasília, além de participar da fundação da representação nacional da Federação, em 1987.
O trabalho pela equidade no cenário comercial esteve presente em praticamente toda a vida de Maria Inês. Já em 2018, ela ocupou a presidência da Associação dos Lojistas da Galeria dos Estados (Apluc).
Família
Maria Inês observou Brasília crescer e se desenvolver ao passo em que a própria família aumentava. A educadora deixou quatro filhos, Tânia, Sandra, Vanda e Diuk, e quatro netos. A filha mais velha, a cineasta Tânia Fontenele, que viu na mãe um retrato da potência feminina na história da capital, é uma das autoras do projeto Poeira & batom (2010), que conta com exposição e documentário sobre mulheres que chegaram a Brasília entre 1956 e 1960.
“Para mim, ela é uma fonte de inspiração, de dedicação à educação, de formar cidadãos éticos”, destaca a filha. “O legado dela, principalmente para as mulheres, é de abrir perspectivas de que você pode alcançar os seus objetivos. Ela sempre foi muito otimista, muito valente”, completa.
Em carta comemorativa aos 60 anos de Brasília, Maria Inês relatou que foi testemunha e personagem da história local. Assistiu à inauguração da cidade, viu a população se expandir, participou de campanhas de arrecadação para a construção da Catedral, viveu o período de ditadura militar e pôde acompanhar a democracia se instalar de novo no país.
Maria Inês faleceu em decorrência de um tumor no estômago, descoberto em estágio avançado. Nos últimos momentos de vida, esteve junto à família sob cuidados paliativos. Descrita pela filha como “encantada por Brasília”, ela deixou o nome registrado como uma referência para muitas mulheres na capital e, claro, muita saudade.
O velório será nesta sexta-feira (26/1), das 9h às 11h, e o sepultamento às 11h30, no Cemitério Campo da Esperança, da Asa Sul.
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