A chegada do período de chuvas neste início de ano, no Distrito Federal, trouxe velhos conhecidos dos motoristas: os buracos. De um dia para outro, após algum temporal, eles surgem e infestam as vias brasilienses. O problema, que prejudica a mobilidade urbana local, é dor de cabeça também para pessoas sem veículos, como o Correio constatou. A reportagem ouviu moradores sobre os prejuízos causados pela situação. A falta de uma manutenção preventiva é apontada como o problema.
Na Cidade Estrutural, foram identificados pelo menos cinco grandes falhas no asfalto. Indignado, o eletricista Domingos Ribeiro, 59 anos, diz que precisa fazer manutenção frequente no seu Palio 2001. "Meu carro é velho, mas cuido dele. Fiz alinhamento e balanceamento em dezembro, antes do ano-novo, para poder viajar. Agora está parecendo uma carroça, rangendo direto, por causa desses buracos", reclama.
No setor oeste da Cidade Estrutural, em frente à oficina de Alex Camilo Alves, 25, há uma dessas "boconas". "Ela era bem mais funda. A administração veio, deixou mal tampada e continua estragando todos os carros (que passam por ela). Os meninos ficam caindo de bicicleta", relata.
Para ele, a Administração Regional da Estrutural e a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) deveriam unir forças e fazer um trabalho preventivo nas pistas."É uma luta esse buraco. Quando enche de água, os carros passam e sai lama para todo o lado. Quando chove, vem a enxurrada desde lá de cima e nem dá para ver", afirma o mecânico.
Paliativo
A administração da Estrutural assegura que executa mensalmente a Operação Tapa-Buraco. A ação mais recente aconteceu terça-feira passada, há sete dias. Acrescenta que depende da massa asfáltica fornecida pela Novacap e que tem mão de obra disponível.
Na Avenida Hélio Prates, em Taguatinga Norte, a situação é bem parecida. Em frente a um ponto de ônibus, há dois buracos na faixa exclusiva para os coletivos. Dona de uma loja de motopeças próxima, Daiane Mércia, 33, testemunha os inconvenientes trazidos por esse problema no asfalto para quem aguarda na parada. "Quando está chovendo, passa um ônibus e molha todo mundo que está ali. Já vi várias pessoas se molhando da cabeça aos pés", lembra.
Daiane afirma ser difícil passar um ônibus que consiga desviar da cratera. Não dá para aceitar que numa avenida importante tenha um buraco desse tamanho", critica.
Em nota, a Novacap explica que não contabiliza os atendimentos por quantidade de buracos. Mas, informa que, durante 2023, aplicou mais de 137 mil toneladas de massa asfáltica nos serviços de tapa-buraco. Ceilândia foi onde isso mais ocorreu, segundo a companhia.
Solução
Especialista em segurança viária, a professora de engenharia civil da Universidade de Brasília (UnB) Michelle Andrade ressalta que as chuvas evidenciam o problema da falta de manutenção preventiva. "Se tivéssemos (essa conservação), quando viessem as chuvas, os buracos não se abririam. Existe um procedimento teórico denominado de Sistema de Gerência de Pavimentos (SGP), e os órgãos têm o conhecimento suficiente para fazer a gestão da infraestrutura. O custo da via fica muito mais baixo ao longo dos anos e não precisamos reconstruir", informa.
Michelle acrescenta que os buracos expostos são uma ameaça à segurança da população. "Se um motociclista for desviar de um buraco, pode ter uma colisão lateral com outro veículo, principalmente em Brasília com vias de trânsito muito rápidas", adverte. Ela ainda cita que condutores e passageiros de ônibus e caminhões podem ter dores nas costas por dias, quando um desses transportes passa por algum buraco. A força do impacto resultante é muito forte.
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