CB.Saúde

Há risco de epidemia de dengue no DF, alerta infectologista

Distrito Federal tem registro de aumento expressivo de casos da doença entre dezembro e janeiro

Infectologista André Bon em entrevista à jornalista Carmen Souza, no programa CB.Saúde -  (crédito:  Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
Infectologista André Bon em entrevista à jornalista Carmen Souza, no programa CB.Saúde - (crédito: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)

Um pico superior a 115% no número de casos de pessoas infectadas por dengue, no Distrito Federal (DF), entre dezembro e janeiro, foi destacado pelo infectologista André Bon em entrevista, nessa quinta-feira (11/1), ao programa CB.Saúde — parceria entre Correio e TV Brasília. Na entrevista à jornalista Carmen Souza, o especialista admitiu que essa situação pode ser um indício de risco pandêmico na região. Ele destacou que, no mês passado, só na emergência de um hospital brasiliense, houve 570 casos, uma média de 19 internações por dia. E já nos primeiros nove de 2024, o total foi de 370, nesse centro médico. Acrescentou que em breve uma vacina será disponibilizada pelo sistema público nacional, mas ponderou que o imunizante terá restrições de quantidade e de grupo a ser priorizado. Ele ainda alertou sobre a atenção que a população deve ter contra a dengue, pois pode dar a impressão equivocada a alguns de ser algo menos grave do que realmente é.

O governo federal estima cerca de 5 milhões de casos no Brasil este ano. No DF, a situação é mais complicada, com os números recentes tornando esse alerta ainda mais preocupante. Como está a situação em relação à dengue?

Comparando com outras unidades federativas, estamos em uma situação um pouco pior. Ao observarmos as últimas semanas epidemiológicas, percebemos um aumento bastante significativo nos números de casos no DF. No Hospital Brasília, houve um aumento expressivo de dezembro para janeiro em relação ao número de atendimentos. Nossa emergência no mês passado atendeu 570 casos suspeitos de dengue, e nos primeiros nove dias de janeiro já foram 370. Precisamos ficar alertas. Se não me engano, é um aumento maior que 100%, entre 115% e 130%, em relação ao ano passado. É algo muito preocupante.

Devido ao aumento de casos, podemos imaginar uma epidemia no DF?

É muito possível. Devemos analisar as curvas epidemiológicas para ter certeza, mas pode ser que estejamos entrando em uma curva epidêmica. O fato é que estamos diante de um aumento significativo de casos nos pronto-socorros.

Com esse cenário, o risco de reinfecção da dengue é maior? Os reincidentes correm um risco maior em relação aos sintomas?

Exatamente. Após o primeiro episódio (de infecção), o paciente passa quase dois anos com chances baixas de uma nova contaminação, pois a imunidade da primeira o protege. No segundo episódio de dengue, há uma maior chance de contrair as formas graves da doença, entre elas a dengue hemorrágica. Esse não é um nome que dá a real dimensão do problema, devido à quantidade de pacientes que evoluem com formas graves sem apresentar sangramentos. É muito comum na segunda infecção. Por isso, as pessoas devem ficar atentas aos sintomas e sinais de alarme. Além das formas de prevenção da doença, ela não tem tratamento específico.

Você mencionou que existem quatro sorotipos de dengue. Isso quer dizer que é possível ter a doença quatro vezes?

De maneira objetiva, sim. No Brasil, a maioria dos casos são de dengue (tipos) 1 e 2. O 3 e o 4 são muito raros. No DF, de todos os casos da doença que tivemos no último boletim epidemiológico, somente um era de dengue 3.

Houve um caso no DF, mas nos últimos meses ocorreram algumas infecções pelo sorotipo 3 no Brasil, o que tem preocupado especialistas para uma possível disseminação desses casos no país. Qual o motivo do receio?

Como não temos circulação de dengue 3 no país, a população não é imune. Isso faz com que exista um bolsão de suscetíveis a ela. A maioria das pessoas que teve dengue uma ou duas vezes, contraiu os tipos 1 ou 2. Se esse vírus começar a circular entre a nossa população, existe uma chance muito grande de ter uma epidemia ainda maior do que as últimas, devido à introdução de um sorotipo para o qual ninguém tem proteção.

A partir do mês que vem, o Brasil se tornará o primeiro país no mundo a oferecer a vacina contra a dengue no Sistema Único de Saúde (SUS). Ela protege contra todos os sorotipos?

Ela foi desenvolvida para proteger contra todos, com maior eficácia nos sorotipos 1 e 2. A quantidade de doses disponibilizadas e a população prioritária ainda não foram divulgadas. Como não teremos uma quantidade que beneficiará a todos, alguns grupos serão priorizados inicialmente. A vacina requer duas doses separadas por três meses. Por esse motivo, não esperamos uma eficácia imediata em relação ao número de casos. A aplicação começará em fevereiro. Progressivamente, uma população cada vez maior será imunizada. A vacina tem uma redução de óbitos e hospitalizações em torno de 90%.

*Estagiário sob a supervisão de Manuel Martínez

Veja a entrevista na íntegra

 

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postado em 12/01/2024 06:00
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