INVESTIGAÇÃO

Amizades e mentiras: entenda a dinâmica do assassinato de policial penal

À polícia, Manelito de Lima, que era amigo próximo do agente, confessou o crime e deu detalhes do crime

Da amizade ao assassinato, Manelito Júnior (camisa vermelha) confessou ter matado o policial penal José Françualdo -  (crédito: Material cedido ao Correio)
Da amizade ao assassinato, Manelito Júnior (camisa vermelha) confessou ter matado o policial penal José Françualdo - (crédito: Material cedido ao Correio)

Manelito de Lima Júnior era uma pessoa acima de qualquer suspeita. Amigo há mais de 15 anos de José Françualdo Leite Nóbrega, 36 anos, o servidor público do Estado de Goiás orquestrou todo o plano para executar o policial penal. Françualdo ficou desaparecido por mais de um mês e teve o corpo encontrado na tarde desse sábado (6/1), em uma área de mata, entre Cocalzinho de Goiás e Padre Bernardo (GO).

Ao ser preso, na noite de sábado, o homem confessou o crime e deu detalhes à Polícia Civil sobre toda a ação, que ocorreu em 27 de novembro do ano passado, mesmo dia em que Françualdo desapareceu. Naquela noite, o policial convocou uma reunião em casa, em Águas Lindas, para tratar sobre questões financeiras da empresa que era dono, uma loja de aluguel de materiais de construção. Os encontros eram de praxe, ocorriam todo final do mês e só participavam os funcionários mais próximos e de confiança.

Manelito era um deles. Braço-direito de Françualdo, ele era o responsável por todo o controle financeiro da empresa. Além dele, Daniel Amorim Rosa e Felipe Nascimento trabalhavam na loja e também eram tidos como empregados de confiança. A família da vítima conta que a auditoria a ser realizada em 27 de novembro trataria sobre um suposto desvio de dinheiro. “Meu irmão desconfiou que os funcionários estavam roubando ele. A gente acredita que eles souberam da desconfiança e decidiram matá-lo”, contou José Wagner, um dos irmãos do policial.

Antes mesmo da reunião começar, Françualdo foi surpreendido e assassinado covardemente, com quatro tiros, no próprio sobrado de casa. A partir dali, iniciou-se uma força-tarefa por parte dos executores para desovar o corpo e limpar a chácara. Segundo as investigações, Daniel e Felipe levaram o corpo até a região de mata, uma antiga cascalheira, e, lá, atearam fogo no cadáver. Manelito, por sua vez, organizou toda a residência, lavou o imóvel e saiu levando o colar, a pulseira de ouro e a pistola do amigo.

Um dia depois do crime, os assassinos levaram a caminhonete de Françualdo até uma estrada de chão, no Paranoá, e queimaram o veículo. Dias depois, “plantaram” o boné do policial com a logo do sistema prisional em um córrego de Planaltina. A intenção era despistar a polícia. Os investigadores trabalham com outros dois suspeitos: Deivid Amorim Rosa, irmão de Daniel, e Marinalda Mendes, esposa de Manelito. A mulher teria auxiliado na queima do veículo da vítima.

Desconfiança

Não bastasse o crime premeditado, Manelito continuou a trabalhar normalmente junto a Daniel e Felipe. O irmão relata que, enquanto familiares e amigos faziam buscas, os três ficaram indiferentes com a situação e diziam a todo momento que Françualdo estava vivo.

Manelito chegou a prestar depoimento na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) no começo das investigações. Em interrogatório, disse que o policial havia saído de Águas Lindas para Brasília para buscar R$ 140 mil com uma pessoa, mas não deu mais informações. “Eles colocaram gente de outros estados, como Rio Grande do Sul, para falar que tinham visto o Françualdo lá. Mas era tudo mentira”, disse José Wagner.

A família passou a desconfiar da atitude dos três. Outro motivo que levou os parentes a acreditar no envolvimento dos funcionários seria o fato de Manelito ter se mudado para Brasília de forma repentina. Após quebras de sigilo, a Polícia Civil do Estado de Goiás comprovou a participação dos criminosos no assassinato. Delegado à frente do caso, Vinícius Máximo, relata que outras prisões foram requeridas à Justiça e aguarda a resposta.

Na delegacia, Manelito confessou o crime e disse ter matado o amigo em momento de ira, pois Françualdo seria uma pessoa nervosa, que o humilhava. No entanto, não demonstrou nenhum tipo de arrependimento ou comoção, afirmou o delegado.

Na noite deste sábado, o Correio ouviu a defesa de Manelito Júnior. A advogada Tereza Cristina se limitou a dizer que tentará fazer uma defesa justa para que a pena seja menor.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

postado em 07/01/2024 15:08 / atualizado em 07/01/2024 15:12
x