Desolada, Ana Lúcia Coelho, 53 anos, abriu as portas de casa e mostrou os estragos do alagamento provocado pelas tempestades de quarta-feira (3/1). "Não tive tempo de pegar nada, apenas corri para a parte mais alta da rua. Perdi roupas e móveis, e minha casa está cheia de lama", desabafou.
Na parede, a auxiliar de limpeza apontou a altura em que a enchente chegou: na cintura dela. No chão, havia marcas de lama. "Nem sei por onde começar a limpeza", disse. "Eita, a chuva começou de novo. Deus tenha misericórdia de nós", ouviu-se alguém comentar ao fundo.
Outra moradora, que não quis se identificar, destacou que essa foi a maior enchente da região, entre as três que já ocorreram anteriormente. Em sua casa, conseguiu salvar a máquina de lavar roupas e um colchão. "Minhas coisas não tinham nem um ano de uso e agora perdi quase tudo", lamentou. Ela mora a poucos metros do córrego e só não teve o lar mais atingido devido à elevação do piso. Agora, cogita se mudar da casa própria e pagar aluguel em um lugar mais seguro. "Gosto muito daqui, mas é uma área esquecida", destacou.
Na região, localizada no Núcleo Bandeirante, a ponte da Rua Seu Adelino, a Rua Professora Maira Marques, a ponte Azulão e a Rua da Glória, foram atingidos. Com isso, profissionais do SLU trabalham, desde as 7h, na remoção de entulhos.
Foi estabelecido um posto de comando na entrada da Vila Cauhy, visando o planejamento das ações integradas com os órgãos envolvidos: CBMDF, Defesa Civil, Novacap, Administração do Núcleo Bandeirante, PMDF, Detran-DF. Nesta madrugada, a equipe permaneceu de prontidão na região, monitorando a situação, juntamente com outras agências concentradas no posto de comando e ponto de apoio.
Foi destinada uma viatura com características apropriada (4x4) para adentrar em locais de difícil acesso, caso seja necessário algum atendimento na localidade. Por volta das 3h, foi realizada uma verificação na região, que constatou que as águas estão abaixando.
Estado de alerta
Em razão dos temporais, a governadora em exercício, Celina Leão, assinou, na tarde de quarta, um decreto que colocou o Distrito Federal em estado de alerta, após reunião com secretários no Salão Nobre do Palácio do Buriti. A progressista afirmou que o Governo do Distrito Federal está mobilizado desde o início das chuvas e que houve a percepção da continuidade do acúmulo e do aumento delas.
“Estamos fazendo um decreto de alerta, para que as secretarias e os órgãos de prevenção estejam sob alerta e mapeando as regiões onde tivermos mais danos”, destacou.
Segundo a governadora em exercício, o objetivo maior de todos os secretários que fazem parte do grupo de trabalho é preservar vidas. “O GDF, depois, faz as intervenções, mas, no momento da chuva, às vezes, há um desespero e um descontrole, e é por isso que a gente está mapeando, área por área, e colocando as equipes em pronto-atendimento”, ressaltou Celina.
O documento foi publicado em edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). O texto traz uma força-tarefa de 19 secretarias de governo, que estarão empenhadas para articular, coordenar e atender situações emergenciais, impulsionadas com a forte chuva. Os órgãos ficarão sob alerta, 24 horas por dia, enquanto durar o período de chuvas mais intensas.
Mapeamento
De acordo com a chefe interina do Executivo local, o levantamento feito pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), pelo Corpo de Bombeiros e pela Defesa Civil aponta que cerca de 60 famílias estão desabrigadas, em todo o DF, por conta dos temporais. “Estamos mapeando e esse número pode crescer ou pode se estabilizar. Mas o governo do Distrito Federal está preparado”, reforçou.
Além da Vila Cauhy, as regiões de Arniqueira e Ceilândia também sofreram com enchentes. A ponte do Córrego Riacho Fundo, conhecida como ponte Canarinho, é a principal conexão de pedestres entre a Rua da Glória e o Núcleo Bandeirante, e ficou submersa com a água da chuva represada.
A marquise da entrada de um prédio em Águas Claras caiu e assustou moradores do Edifício Concept Boutique, localizado na Avenida Jacarandá. A queda da estrutura ocorreu por volta das 4h.
A estrutura foi abaixo após dois dias de forte chuva, acompanhadas de rajadas de vento. O porteiro que estava no plantão noturno acionou a administração do condomínio residencial, que vai pedir à Defesa Civil do Distrito Federal (DCDF) que investigar o ocorrido e faça uma inspeção.
Funcionários do edifício isolaram a área para garantir a segurança dos condôminos e pedestres. A entrada e saída dos moradores está sendo feita pela garagem.
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