O Dia Mundial da Paz, celebrado no primeiro dia do ano, sempre inspira a população a ter um olhar mais sensível às mazelas do mundo e à fraternidade humana. Mensagem do papa Francisco divulgada nesta segunda-feira (1º/1) faz súplica pela paz e por um mundo mais justo. O pontífice demonstrou ainda preocupação com o advento das tecnologias de inteligência artificial.
"Que o rápido desenvolvimento de formas de inteligência artificial não aumente as já demasiadas desigualdades e injustiças presentes no mundo, mas contribua para pôr fim às guerras e conflitos e para aliviar muitas formas de sofrimento que afligem a família humana", disse Francisco.
"Espero que esta reflexão encoraje a fazer com que os progressos no desenvolvimento de formas de inteligência artificial sirvam, em última análise, à causa da fraternidade humana e da paz. Não é responsabilidade de poucos, mas da família humana inteira. De fato, a paz é fruto de relações que reconhecem e acolhem o outro na sua dignidade inalienável, e de cooperação e compromisso na busca do desenvolvimento integral de todas as pessoas e de todos os povos", continuou a mensagem do pontífice.
O padre Roger Araújo, da Arquidiocese de Brasília, reforçou a importância da cultura da paz. "A superação de todo e qualquer conflito é mensagem essencial do evangelho. Jesus veio para nos dar a paz. A Igreja trabalha para que haja entendimento conciliação entre as pessoas e povos", disse o religioso. Sobre a inteligência artificial, padre Roger reforçou que deve ser utilizada como instrumento de promoção da paz. "Mal usada, ela se torna um perigo muito grande, principalmente ao considerarmos o contexto de polarização que a população vive atualmente", ponderou.
O pároco falou também sobre a importância de superar desigualdades para evitar violências. "O feminicídio é um retrato fiel de uma sociedade machista. Repudiamos veementemente toda e qualquer forma de violência contra o ser humano. Acentuamos a violência contra a mulher porque ela se faz presente na sociedade em vários aspectos, como violência emocional e psicológica. Precisamos trabalhar para que a cultura de paz ajude a diminuir os números drásticos de casos de violência contra a mulher", destacou. "Paz significa reconciliação e respeito com o outro. Desejo ainda que trabalhemos mais intensamente para que tenhamos saúde mental, pois é disso que precisamos para construir a cultura da paz", concluiu.
Mensagens de fiéis
A aposentada Mônica Libardi, 58 anos, aproveitou o primeiro dia do ano para ir à missa na Paróquia São Pio de Pietrelcina, no Sudoeste, para agradecer pelas bênçãos alcançadas em 2023 e pedir por coisas boas para o ano que se iniciou. "Com as guerras que nós temos e com a pandemia que mudou completamente as pessoas, eu penso que, em primeiro lugar, a gente tem que ter fé para que possamos ter esse alicerce para a vida. Com isso, a gente consegue construir alguns objetivos", destacou a moradora do Sudoeste.
Para Mônica, é importante iniciar o ano tendo mais amor e empatia pelo outro. "Infelizmente, a violência em Brasília é muito grande. Temos que fazer o bem e amar os nossos irmãos como a nós mesmos. Estar sempre disponível a ajudar e não ser tão egoísta. Devemos ofertar o ombro, às vezes um abraço e até um bom dia. Não é só dinheiro. Temos que agradecer pela vida, saúde, moradia, alimentação", ressaltou a aposentada.
Assim como Mônica, a contadora Nathiele Esvicero, 28 anos, também foi até a missa, ontem. A moradora do Guará comentou sobre a importância de refletir sobre o lado espiritual, não pensar só no corpo. "Muitas vezes, nós fazemos apenas exercícios físicos ou deixamos de comer alguma coisa ao longo do ano, esquecendo desse lado espiritual. Em 2024, eu espero que as pessoas também tenham essa conscientização do nosso lado espiritual", comentou. "É preciso amar mais, principalmente o próximo", finalizou a contadora.
Compaixão e graça
"Estamos precisando de encontros, conversas e escuta." Assim, Mannix Robson Pacheco, 46 anos, pastor da Igreja Batista Viva, em Samambaia, descreveu algumas das principais demandas para o ano que se inicia. O descanso da mente, segundo defendeu, traria paz e leveza às relações, contribuindo, por exemplo, para contextos de adoecimento mental.
Em 2023, a congregação organizou uma campanha chamada "Avante, Igreja", com a finalidade de abordar temas associados à saúde mental entre os fiéis, oferecendo mensagens e orientações sobre como lidar com as frustrações. Além disso, a instituição difundia possibilidades de tratar a depressão, encaminhando aos psicólogos aqueles que necessitassem de ajuda profissional.
De forma semelhante, a Igreja acolheu e encorajou mulheres vítimas de violência a denunciarem as agressões dos parceiros, conforme destacou o pastor. "Acredito que recentemente têm surgido políticas muito boas de combate ao feminicídio, como o botão do pânico (aplicativo que aciona a polícia em caso de ameaça), mas ainda há muito o que ser feito e isso é responsabilidade de todos nós", afirmou.
Sobre as guerras que se prolongam no mundo, entre Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas, Mannix trouxe à tona um pensamento de Santo Agostinho de Hipona — importante teólogo cristão —, que compreende serem alguns conflitos necessários para se restabelecer a ordem; outros, não, considerando valores como justiça. "Partindo desse princípio, entendo que essas guerras que subjugam o outro não são legítimas e afetam a todos", defendeu.
Para 2024, a ênfase da congregação será aproximar o relacionamento dos fiéis com Deus, de forma que haja uma procura profunda, real e verdadeira por viver esse encontro com o senhor, exigindo, sobretudo, fé. "Será o ano do sobrenatural, no qual buscaremos compaixão e graça", concluiu.
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