Mais um espaço de voz e representatividade LGBTQIA+ se cala no Distrito Federal. O Vale Lounge, um dos principais destinos drags da capital, irá encerrar as atividades no próximo sábado (30/12). O estabelecimento, localizado na quadra 40 do Guará II (Polo de modas), ganhou notoriedade por contratar pessoas trans e enaltecer a arte do movimento Drag Queen na região. O anúncio do fechamento ocorreu no início deste mês por meio de nota divulgada no instagram da casa noturna. O último evento será o “Vale Awards”, que irá relembrar os melhores momentos.
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Muitos frequentadores do bar lamentaram a notícia do fechamento. O engenheiro civil Daniel Amaral, 22, disse que o bar foi o primeiro lugar onde se sentiu acolhido no DF. "As apresentações sempre memoráveis e o atendimento eram maravilhosos. Lá não tinha como me sentir sozinho, sempre frequentado de pessoas muito simpáticas, vou sentir muita falta e espero que isso não seja um adeus mas sim um até logo. Sentirei saudades."
A enfermeira Fernanda Aguiar, 27, também demonstrou tristeza ao saber do encerramento. “Eu gostava tanto do bar, que até comemorei o meu aniversário lá. Agradeço o acolhimento e fico muito triste ao saber que mais uma casa de promoção à diversidade é fechada no Distrito Federal. Diante de tantos casos de violência, espaços como esses nos traziam sensação de segurança.”
Falta de público
O principal motivo do fechamento foi a evasão do público nos últimos quatro meses. “Da mesma forma que ele veio inovador e explosivo, com o passar do tempo, o público começou a evadir, não resistimos e decidimos fechar. O público é o que faz qualquer negócio ter vida. Na região existem outros bares que também estão passando pelo mesmo processo de ausência de público, principalmente durante os dias de semana”, revelou a fundadora e empresária Vanilla Jezz.
Outro fator que acarretou na quebra financeira foi a organização do evento Dragoween, que também sofreu com a ausência de público pagante. “No dia, ocorreu outro evento com grande atrações e acabamos ficando sem público. Para a gente foi uma pancada forte e que desgastou tudo."
Oportunidade de emprego para público LGBTQIA+
Cerca de 30 pessoas compõem o quadro de funcionários da casa noturna. Todas são LGBTQIA+. Vanilla ressaltou que o trabalho, além de trazer dignidade para as pessoas do movimento, traz vida. “Enquanto pessoa preta e LGBT, sei o quanto temos que correr para ocupar locais. Quando você tem consciência de classe, você passa a entender o mundo e criar oportunidades para pessoas que estão no mesmo corre que você. Estamos em um país que mais mata travesti e transexuais. A realidade que essas pessoas passam é de falta de dignidade. Enquanto empresa, decidimos estender as mãos, trazendo não só emprego, mas dignidade. Somos uma família que compartilha histórias e vida. Me dá uma dor ter que fechar o vale e deixar essas pessoas sem trabalho”.
Noites memoráveis
Brilho, paetês, apresentações temáticas, batalha de dublagens e karaokês embalaram as noites do Vale. Foi no pequeno palco central do bar onde muitas drags nasceram, cresceram e se firmaram no movimento. No total, foram mais de 300 apresentações. Além dos artistas locais, a casa recebeu personalidades nacionais e chegou a ser sondada por assessoria de muitos famosos.
“A primeira vez que eu tive contato com algo LGBT foi quando estive em um bar de drag em Nova York. Quando voltei ao Brasil, me interessei em abrir um negócio voltado para a comunidade que juntasse também gastronomia e arte. Por Brasília ser um celeiro de arte drag e casa de algumas das maiores do Brasil, decidi apostar no empreendimento”, contou Vanilla.
Cena drag pede socorro
Vanilla alertou que a cena drag vem perdendo espaço na noite de Brasília. “Eu acho que o público jovem de Brasília está tão focado em consumir apenas funk que o restante da arte drag, da arte pop, está perdendo palco. Acho isso preocupante e triste de verdade. Falando enquanto uma pessoa que contrata drag todos os dias, sabemos quão escasso está sendo”.
Não é um adeus
Vanilla pretende continuar investindo arte e no movimento drag e demonstra esperança em voltar com o projeto do Vale. “Foram várias coisas nos últimos dias que me levaram à exaustão. Pra mim é muito difícil negligenciar o local de fala. É engraçado porque agora eu estou dando entrevista ao Correio Braziliense e dando lugar à fala. Essa força não vai morrer. É o que eu posso dizer. Lutar pela nossa arte, pela nossa existência e pela nossa sobrevivência. A gente espera muito que isso seja um até breve e não um adeus. Temos muitas histórias para contar."
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