Automobilismo

Primeira mulher transexual da FAB ganha campeonato da Jaguar Kart Racing

Em 18 de novembro, Maria Luiza correu no 15° GP de Kart no kartódromo Carrera Kart e chegou em primeiro lugar

Uma mulher trans, militar, católica e que bate de frente com a transfobia, essa é Maria Luiza, primeira mulher transexual da Força Aérea Brasileira (FAB) e ganhadora do Campeonato da Jaguar Kart Racing (JKR) de 2023. Desde muito jovem, Maria Luiza é apaixonada por velocidade e iniciou no mundo dos campeonatos em 2018. Neste sábado (9/12), subiu ao pódio para receber o prêmio.

“Participei de alguns campeonatos e nesse ano fui convidada por uma equipe participar do campeonato deles, então tive essa satisfação de correr, fazer um bom campeonato e sair campeão. Adoro velocidade, corro por paixão! Tenho uma habilidade nata e fui conquistando experiência. Sou bastante disciplinada e levo a sério que estou fazendo”, conta Maria Luiza sobre como surgiu o interesse pelo kart.

Maria Luiza comenta que ter conquistado o campeonato é muito importante e simboliza a realização de um sonho. “Essa vitória foi o ápice do que eu poderia esperar, que é o sonho de toda pessoa que corre, fazer o campeonato e ter um bom desempenho e chegar a ser campeã. Significa uma felicidade imensa ter conquistado esse campeonato, ter participado com as pessoas dessa equipe e ter aprendido com a equipe, foi uma satisfação imensa”, compartilha Luiza.

A vitória de Maria Luiza no 15° GP de Kart no kartódromo Carrera Kart, que ocorreu no dia 18 de novembro no Parque da Cidade, foi marcada por desafios dentro da competição e fora das pistas, fazendo com que a competidora precisasse mostrar habilidade, determinação e resistência à transfobia.

A história de Maria Luiza transcende as pistas de kart e foi tema de um documentário dirigido pelo cineasta Marcelo Díaz. O filme narra não apenas a trajetória como pilota de kart, mas também a jornada dela na Força Aérea Brasileira. Mesmo com um currículo exemplar, Luiza enfrentou preconceitos e foi afastada das funções militares por uma junta médica do órgão quando iniciou o processo de transição de gênero.

O documentário, que foi exibido em grandes mostras, como o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e em eventos internacionais na Holanda, Argentina, Colômbia e Estados Unidos, destaca as motivações que a impediram de continuar exercendo suas funções como mecânica de avião. A produção cinematográfica apresenta ainda o caminho de afirmação como mulher trans, militar e católica, ressaltando a força e resiliência diante das adversidades.

Ao comentar sobre a vitória, Maria Luiza compartilhou a preocupação com a atual situação. A equipe à qual pertenceu durante o campeonato anunciou a retirada da categoria feminina, impactando diretamente as mulheres, incluindo ela mesma, que competem na equipe. A atitude levanta questões sobre discriminação de gênero, e Maria Luiza expressou tristeza pela perda da oportunidade de continuar competindo.

“Vamos perder a oportunidade de continuar no campeonato. Posso dizer que tem duas vertentes nessa forma como foi comunicado pra mim em relação às mulheres que competem nessa equipe. Um lado é a minha situação pessoal, que passei por diferentes situações de constragimento, de sofrer discriminação por conta da minha condição de gênero, por ser uma mulher trans. E a outra vertente é em relação a todas nos mulheres. A retirada de um espaço pra gente competir em situação de igualdade com os homens como existia, ano que vem não vai ter, não vamos poder competir”.

Maria Luiza pontua ainda que a vitória traz dois sentimentos. “Uma sensação é a positiva, que é a felicidade e alegria de conquistar um campeonato, é uma felicidade imensa ser campeã pela primeira vez. E tem o lado negativo, pois está sendo retirado, de mim e de outras mulheres, a oportunidade de continuar competindo", comenta. 

Maria Luiza dedica a vitória a todas as mulheres apaixonadas por velocidade, e ressalta a importância da igualdade de gênero no automobilismo. Mesmo diante da adversidade, ela destaca que, em outros lugares, as mulheres continuam a competir, e é um direito que não deve ser negado. Maria Luiza conclui com um apelo à reflexão sobre a decisão que impacta não apenas sua equipe, mas todas as mulheres que aspiram a competir no automobilismo.

 

 

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