O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é um dos principais eventos que exalta o trabalho nacional nas telonas e um dos mais tradicionais do país. Contudo, o valor de ter um festival desta magnitude no centro da capital também diz muito respeito ao cinema local. Para isso, a Mostra Brasília tem a missão de apresentar aos espectadores candangos os talentos locais e o que de melhor tem disponível no audiovisual brasiliense.
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Assim como nos anos anteriores, a mostra será mais uma vez composta por quatro longa-metragens e oito curtas. De gêneros, estilos e formatos diferentes, a edição deste ano é variada e diversa e reflete bem como o cinema de Brasília está atualmente. Sempre às 18h, no Cine Brasília, os espectadores podem acompanhar o melhor da produção, em sua maioria independente, do cinema local.
Um dos filmes mais aguardados pelo público, Rodas de gigante é um documentário sobre um dos maiores nomes do teatro de Brasília: o diretor, dramaturgo, artista e agitador cultural Hugo Rodas. O longa acompanha os quatro últimos anos de produção deste que foi uma lenda dos palcos da capital em uma jornada definida como "um artista que enfrenta a finitude da vida com irreverência e inspiração", como afirma Catarina Accioly, diretora e produtora do filme.
O documentário é uma proposta de ver o mundo sob a ótica de Hugo Rodas, que morreu em abril do ano passado. "O filme mostra outra visão de cidade, de cotidianos e afetos, e uma memória de arte que perpassa a vivência de centenas e centenas de pessoas, que tiveram o Hugo como maestro", pontua a roteirista Daniel Diniz. Por isso, os responsáveis acreditam que o filme é uma obra imprescindível para a cidade. "É fundamental exibir esse filme no DF e apresentar em casa esse que é um de nossos maiores patrimônios culturais em plena atividade, contribuindo criativamente com a cultura local, deixando um legado inesquecível e que está, hoje, filmado no documentário de improviso poético", acrescenta Catarina.
Outro documentário que faz parte da mostra é Não existe almoço grátis, que acompanha Bizza, Jurailde, Socorro, coordenadoras da Cozinha Solidária do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) em Sol Nascente. Às vésperas da posse do presidente Lula, o trio fica encarregado de preparar refeições para centenas de pessoas que vieram à capital para a cerimônia do dia 1° de janeiro. "Este é o primeiro filme no contexto da posse a ser lançado e acreditamos que agrega humanidade, vontade de mudança, sonho e muita luta ao público — exatamente o que nossas protagonistas Bizza, Jurailde, Socorro e todo o MTST agregam diariamente a Brasília e ao Brasil", argumenta o co-diretor Marcos Nepomuceno.
Dupla de Nepomuceno, Pedro Charbel acredita que há uma necessidade de elaborar coletivamente a tensão política vivida nos últimos anos. "Desde o início, nós queríamos filmar a posse presidencial de um jeito que os jornais não abordariam. Optamos por registrar os últimos dias do governo Bolsonaro junto a mulheres cujas trajetórias de vida dizem muito sobre o Brasil e a importância dos movimentos sociais", explica o cineasta. "Nosso filme é um manifesto prático e profundamente humano contra a ilusão da meritocracia e a lógica do lucro, e revela que o futuro se cozinha hoje e a muitas mãos", complementa.
A Mostra Brasília está presente para todos os públicos. O sonho de Clarice é uma animação pensada em Brasília que demorou mais de 10 anos para ficar pronta. O longa acompanha uma menina de 9 anos em um processo de luto. "O filme fala das relações e das pequenas belezas da nossa vida cotidiana. Mas, sobretudo, é uma obra que fala sobre imaginação. Sobre o protagonismo da imaginação na vida cotidiana das personagens. A capacidade criativa de Clarice combinada com suas memórias afetivas, faz com que momentos desafiadores de sua realidade se transformem em viagens encantadoras, possibilitando a superação dos desafios em sua jornada", explica Fernando Gutiérrez, co-diretor do longa.
Para Fernando, esse é um filme que vai na contramão dos interesses da atual geração de crianças. "Em tempos de polegares ansiosos na geração TikTok, o filme provoca uma ligeira desaceleração, e oferece ao público momentos expandidos para se apreciar tudo que está à nossa volta", conta o cineasta que comemora só por entrar na mostra: "Ter sido um dos quatro longas escolhidos para a exibição nesta mostra nos enche de orgulho e felicidade".
Filme de aventura ficcional, Ecos do silêncio é um recorte da vida de um jovem em busca de algo que lhe falta. "Ele empreende uma viagem sem volta, rumo ao desconhecido interior e exterior, impulsionado pela música e pelo amor, como o objetivo último de encontrar o seu destino que só o seu irmão com autismo é capaz de lhe revelar", conta o diretor André Luiz Oliveira. "Ecos do silêncio é o meu retorno à ficção, assim como o meu primeiro filme resultado de uma experiência de 16 anos envolvido com a questão do autismo. Dar visibilidade a essa questão é, para mim, de extrema importância", declara.
O cineasta expõe, também, que o longa agrega valores que ele considera essencial à vida humana. "O filme é preenchido por uma visão transcendente da existência na medida em que o personagem é guiado pelos seus sonhos e pelo amor ao irmão com autismo. Ele não só agrega uma experiência vibrante ao público de Brasília e do Festival, como a qualquer público do Brasil e do mundo, considerando que ele foi filmado em três países, Brasil, Argentina e Índia, para contextualizar exatamente essa dimensão "não local" despolarizada, do ser humano em sua jornada no planeta", relata.
Além dos longa-metragens, a mostra reúne oito curta-metragens: A chuva do caju, A menina Corina em: Quantos mundos cabem em um mundo só?, Estrela da tarde, Glitter Carnavalesco: A história do Bloco das Montadas, Instante, Malu e a Máquina, Nada se perde e Só quem tem raiz.
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