Dezembro dobrou a esquina. Estamos oficialmente no fim do ano. Nem parece que a maratona de 2023 se aproxima de sua hora derradeira. Vivemos ameaças e alegrias. Pulamos carnaval e rezamos aos pés do Morro da Capelinha. Recebemos grandes nomes da arte e da música em nossos palcos. E o que foi Paul McCartney? Uma grata surpresa. Quem já esperava uma apresentação magnífica, ganhou algo mais. O impecável, a gentileza, a aula de como valorizar o seu público mesmo depois dos 80 anos.
O eterno Beatle distribui ingressos de pista premium para estudantes e ainda brindou a cidade com uma apresentação à lá anos 1960, nos idos da banda que conquistou o mundo e revolucionou a música. Existia a história do Clube do Choro antes de Paul McCartney — bela e admirável, diga-se de passagem, não à toa o músico escolheu a casa a dedo para a honrosa empreitada — e agora inicia-se uma nova era, pós-Paul. Tudo o que se contar sobre o local, de hoje em diante, terá como marco o mês de novembro de 2023.
Quando o músico estelar passou por Brasília há 10 anos, também deixou aquela atmosfera de "gente como a gente" ao passear de bicicleta pelo Parque da Cidade. A imagem exclusiva do aceno de Paul sobre a bike é do Correio. Um privilégio e tanto para essa jovem cidade.
Mas preciso confessar: não assisti à apresentação inesquecível do último 30 de novembro. Já havia aproveitado as passagens do Beatle por Goiânia e aqui mesmo no quadradinho em sua turnê anterior. Resolvi que não faria o investimento no show deste ano, por já guardar minhas memórias do encontro com o ídolo.
A apresentação no Clube do Choro, porém, me deixou com o coração apertado. O gesto me pareceu tão significativo. Pude sentir de longe a catarse. Mudei de ideia, é claro, como é esperado ocorrer nessas ocasiões. Mas não deu tempo de encontrar uma saída para aplacar a vontade de ver Paul tocar mais uma vez e agradecer ao público brasileiro em português. Só vai ficar na memória a vontade de ter ido.
Confesso também que meu Beatle favorito é George, com seu talento para transformar mesmo as mais piegas das canções de amor em obras de arte que a gente ouve repetidas vezes sem sentir. A energia de Paul e as homenagens que ele presta à banda que o tornou referência mundial na música, no entanto, permitem navegar pela história de todos os músicos e admirar ainda mais o artista em cima do palco até hoje. Para acalentar o coração e como o espírito natalino já rondava os ares, decidi presentear com um ingresso aquele me ensinou a gostar dos Beatles. Meu pai foi, sozinho e feliz da vida, assistir mais uma vez a sir Paul McCartney no show apoteótico que fez o Mané Garrincha se render aos seus pés.
"And when the night is cloudy / There is still a light that shines on me / Shine on until tomorrow / Let it be."