Em Brasília, a festa de virada de ano promete ser diferente das anteriores. Pela primeira vez na história, a capital do país terá a tradicional queima de fogos com artefatos de baixo ruído. Serão de 17 a 21 minutos de show e iluminação no céu, com uma linda vista, mas sem os estampidos sonoros que tanto afetam os ouvidos. Em cumprimento à Lei 6.647/20, que proíbe a utilização de qualquer artefato pirotécnico ou fogos de artifícios que produzam estampidos, o Réveillon Cidade Luz 2024 será em três diferentes regiões: na Esplanada dos Ministérios, Ceilândia e Planaltina.
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O secretário de Cultura e Economia Criativa, Claudio Abrantes, comenta que as mudanças são para tornar o ambiente mais seguro e acessível a todos. "Primeiramente, respeita a lei distrital que proíbe fogos de estampidos, pensando nas crianças, pessoas que estão dentro do espectro autista e possuem sensibilidade sonora, além dos animais que sofrem bastante com a poluição sonora. Estamos promovendo uma grande festa inclusiva", destaca.
Abrantes informa que haverá segurança nos locais e revista de todos que pretendem assistir aos shows. Está proibida a entrada de garrafas de vidro e objetos cortantes. "Vamos promover uma grande festa, com muita música, arte, diversão e segurança para todas as famílias do Distrito Federal que merecem aproveitar esta chegada de 2024", salienta o secretário.
Inclusão
Maria Luiza Pontes, 43 anos, tem dois filhos autistas, Guilherme, 11, e Matheus, 6. Ela relata que épocas como essas são muito angustiantes, pois os garotos querem aproveitar as festas, mas não conseguem por causa do barulho. "Eles se esforçam muito, mas acabam perdendo o domínio do próprio corpo. Já faz nove anos que eu não sei o que é curtir o réveillion", afirma. A mãe conta que Guilherme fica encantado ao ver os fogos e sempre teve o sonho de ir à Esplanada ver o show pirotécnico, mas não era possível devido aos estrondos. "Estava planejando me reunir com outras mães que passam pela mesma situação. Um lugar silencioso e seguro ajudaria", explica.
A moradora de Taguatinga ficou emocionada com a notícia da festa com artefatos de baixo ruído. "Batalhamos tanto para dar dignidade a eles e quando chegamos em momentos de curtição eles são excluídos ou não fazem parte. Vou tentar levá-los. Por mais que seja algo simples para alguns, será marcante para eles. Vão ver o quão é bom ser aceito. Caso eu não vá, fico feliz que outras mães vão", informa.
Pets seguros
Tutora de 18 cachorros, Hilka Guedes, 41, cita que gastou R$ 120 com remédios para acalmar seus pets. "Tenho quatro bichos que sofrem bastante. É muito difícil amenizar a situação, pois alguns não podem ficar juntos. Eu, minha filha e o namorado temos essa batalha. No Natal, uma cadela se machucou no portão ao tentar fugir dos estrondos. Fico com bastante medo deles terem um ataque cardíaco", desabafa.
Hilka acredita que as pessoas deveriam ter um pouco mais de respeito e conscientização. "Um de meus cães faz xixi de medo. Outra entra no guarda-roupa devido ao medo. Tenho uma com quem devemos ter os maiores cuidados, pois ela pula o muro. É complicado, não tenho lembranças do último ano-novo que passei fora de casa", lamenta.
O veterinário e professor do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Bruno Alvarenga alerta para os possíveis problemas que barulhos de artefatos pirotécnicos podem causar aos animais domésticos, que se desdobram em função do medo e do estresse sonoro. Alguns pets podem ir a óbito, além de ter crises epilépticas, distúrbios comportamentais, vómitos, diarreia e perda de apetite. A busca de um local seguro e ativação do comportamento de fuga também é muito comum. "Isso leva animais a destruírem itens da casa, arranharem portas, romperem itens de vidro, podendo sofrer cortes múltiplos. Ao fugirem de casa, podem ser perdidos e atropelados", explica.
Para o especialista, existem algumas atitudes que podem ajudar a minimizar os impactos dos barulhos. "A principal medida preventiva dessas manifestações é a educação e a conscientização social. Mas também pode deixar uma televisão ou rádio ligados para concorrer com os estampidos, colocar um pouco de algodão no ouvido dos bichos e manter cães ou gatos no colo ou abraçados para propiciar um ambiente seguro, enquanto são carinhosamente afagados", enumera. Bruno também cita que é recomendável preparar um abrigo, onde normalmente o pet se esconde, com toalhas ou mantas e mantê-los em um cômodo que consiga abafar o som externo, neste preparar um local acolchoado.
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti
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