Um reencontro muito aguardado. Fazia quase 10 anos da última vez que Paul McCartney tocou em Brasília. Momento de reviver uma emoção que só foi possível, até então, uma única vez no Estádio Nacional Mané Garrincha. Um Beatle diante dos olhos da capital, e fez esses olhos se encherem de lágrimas de emoção e do brilho que apenas uma lenda viva da música é capaz de fazer.
Já quase um cidadão honorário da capital após um show histórico no Clube do Choro, Paul entrou na bonita estrutura de palco montada no campo, às 20h48, com leve atraso, já que o show estava marcado para 20h30. Já falando a frase "boa noite, véi" em português e levando o público à loucura.
O estádio lotado de pessoas de todas as idades. Avós, pais e netos cantaram juntos sucessos como Let it be, Love me do, Band on the run, Maybe i'm amazed e o incomparável coro de "na-na-na" de Hey Jude, última musica antes do bis. O show de imagens no telão, com direito aos atores Natalie Portman e Johnny Depp interpretando My valentine em libras, luzes e lasers, trouxe uma beleza adicional à noite histórica.
A setlist, no entanto, destoou um pouco das demais da turnê. Na abertura, Hard Day's night deu lugar a Can't buy me love. As surpresas não pararam por aí. O criativo Paul McCartney tira cartas da manga desde que estreou nos anos 1960 pelos Beatles. Desta vez, os músicos responsáveis pelos metais trombone, trompete e saxofone tocavam diretamente da área cadeira inferior, local bem distante do palco lotado de instrumentos. A brincadeira foi apenas em uma música; logo depois eles assumiram os lugares de direito perto do Beatle.
Um dos momentos mais especiais da noite foi a apresentação de I've got a feeling, do último disco de estúdio dos Beatles, Let it be, logo no início do bis. Durante a música, Paul estava acompanhado de seu grande amigo e irmão de shows, John Lennon, que deu uma passadinha graças à tecnologia dos telões do grande espetáculo que foi proposto nesta noite de quinta-feira (30/11) em Brasília.
As homenagens e as emoções não pararam por aí. Canções icônicas como Something, dedicada ao parceiro de banda e amigo de vida George Harrison, Helter Skelter, Blackbird e a cantarolante Hey Jude fizeram a plateia brasiliense relembrar as razões pelas quais os Beatles e o próprio Paul serem tão amados.
Choro de alegria
Apesar de uma chuva torrencial à tarde, o show foi irrigado apenas pelas lágrimas emocionadas do público. Parecia que tudo conspirava para o mais bonito reencontro dos brasilienses com o eterno Beatle. Porém, nem a chuva estragaria a noite de um estádio lotado de pessoas e empolgação
O clima na pista do Mané Garrincha antes do show era de confraternização. Pais, mães, maridos, esposas e filhos curtiam o som do DJ, apenas com as melhores dos Beatles. Quando o Paul entrou, a cantoria rolou solta e o espetáculo estava pronto. Nem o atraso abalou, todo estádio aproveitou para levantar as lanternas dos celulares e iluminar a entrada de Paul.
Durante o show, a emoção e a empolgação tomaram conta do público. Os espectadores cantaram da primeira música dos Beatles, In spite of all the danger, até as mais novas da carreira solo de McCartney, passando pelos divertidos hits da banda Wings. Nem as quase três horas de apresentação fizeram os fãs desistirem. Eram tantas pessoas que era até difícil achar clarões de cadeiras vazias na arquibancada, mesmo em lugares de visão prejudicada por estruturas de metal montadas para comportar a equipe de gravação.
Encontro de beatlemaníacos
Seja por amor aos Beatles, carinho pelo artista, para acompanhar a família e amigos, ou apenas viver um momento marcante na história da música brasiliense, o show da última noite foi especial para todos que compareceram ao Mané Garrincha. Ovacionado e ao som de gritos de "I love you Paul", o eterno Beatle provou que todo amor de Brasília ainda é pouco para quem ama uma entidade como Paul McCartney.
Passados todos esses anos, diferentes gerações de lunáticos não deixam passar uma oportunidade sequer de ver um dos dois integrantes da banda que ainda estão vivos. Poucos minutos antes de Paul começar a apresentação, ainda havia fila de beatlemanícanos no lado de fora.
Uma delas era a analista de políticas públicas Gabriela Garcia, 32 anos, que teve a sorte de ver o ídolo duas vezes de graça nesta semana. Na terça-feira (28/11), ela esteve no Clube do Choro, onde conseguiu uma das pulseiras de acesso ao local. Agora, conseguiu entrar no estádio com o ingresso que ganhou no trabalho. "Eu trabalho em uma empresa de carnes alternativas e Paul McCartney é vegano", explica.
"No clube, o show foi incrível, mais intimista, mas mais curto. Hoje, a expectativa é ouvir mais hits e que o público acompanhe o Paul, além de cantar Maybe I'm amazed com o meu namorado", revela. O companheiro, Gustavo Rocha, 32, analista de sistemas, foi ao último show de Paul na capital, em 2015. "Além de cantar com a minha namorada, quero ouvi-lo cantar músicas da carreira solo", anseia.
O aposentado Hélio Benites Fraga, 73 anos, apaixonou-se pelos Beatles aos 15 anos, quando ouviu I wanna hold your hand. Ele garante que tem toda a discografia da banda em casa e conta que já teve um programa de rádio só sobre Beatles, em Aquidauana (MS). “Beatles traz boas lembranças da juventude, dos meus filhos pequenos”, conta Benites.
Hélio sofreu um acidente vascular cerebral em 2021. Desde então, ele passa por dificuldades para se locomover, mas o empecilho não foi o suficiente para ficar em casa na noite de ontem. Vieram com ele a filha Alessandra Espíndola, 50 anos, contadora e o genro, Carlos Espíndola, 52, analista de sistemas. “Comprei em junho o ingresso de presente para o meu pai, porque eu sei que é o sonho da vida dele. É o segundo show do Paul que ele vai”, conta a filha.
Assim como ocorreu no Clube do Choro, o Mané Garrincha estava repleto de superfãs do Paul McCartney. Alguns, inclusive, que moveram montanhas para ver o artista em outros lugares além do Brasil. De todos os estados brasileiros, milhares de pessoas acompanharam um show histórico.
Antes do mega show começar, alguns fãs falaram ao Correio sobre a expectativa para o espetáculo de logo mais. “A expectativa para o show é muito grande. É um Beatle ainda vivo, com toda essa energia. Eu amo os Beatles e tô passando isso para a minha filha”, diz Luís Carlos Pereira Leal, 57, aposentado, que estava acompanhado da filha de 14 anos.
Outra maníaca pelos Beatles, Cláudia Tapety assistiu a todos os shows do Paul McCartney no Brasil. Até então, tinham sido mais de 30. Ela veio de Recife, junto com o marido, e, além dos shows em terras brasileiras, já viu o eterno beatle em países como Estados Unidos, Porto Rico, Argentina, Peru, Chile e México.
“Geralmente as pessoas amam os Beatles como banda, e às vezes se esquecem deles como artistas individuais”, afirma Tapety. “Eu amo o John, o George, o Ringo e o Paul, e eles são fantásticos.”
O músico Leonardo da Silva Soares, 40 anos, fala do sentimento de urgência em ver o ídolo. “A expectativa é a melhor possível porque talvez seja um dos últimos grandes nomes da música mundial. Além disso, ele me inspira muito na música que produzo”, revela Soares.
De longe
A servidora pública federal, Maíra Nobre, 42, mora em Fortaleza (CE) e veio a Brasília apenas para ver o Paul no palco do Mané. “Ele é um expoente de uma geração transgressora, que ousou contestar uma sociedade tão tradicional como a inglesa, a sexualidade, capitalismo e relações afetivas”, avalia a Maíra, que fez um intercâmbio ano passado para a cidade inglesa de Liverpool. “Eu vi de perto o cenário da banda”, relata.
Maíra veio acompanhada pela irmã, a médica Inara Nobre, que também mora na capital cearense. “Na outra vez que fomos no show ficamos bem perto dele e foi ótimo. Agora, vamos ficar na poltrona superior, mas vai valer a pena. Estou empolgada”, confessa.
Diretamente de Porto Alegre, Matias Ghelfi, comerciante, esteve em 14 shows do Paul McCartney até ontem. Ele não se conteve de felicidade ao saber que o beatle viria ao Brasil mais uma vez, ainda mais devido à crise sanitária que acometeu o mundo em 2020.
“Estou muito feliz. Estava com medo de não poder ter esse momento”, confessa Ghelfi. O comerciante vai para os outros shows restantes da turnê, mas fez questão de chegar cedo ao estádio.“Cheguei às duas da tarde, e valeu a pena porque consegui pegar o moço chegando”, conta, mostrando um vídeo que gravou do Paul McCartney chegando ao Mané Garrincha.
Pai e filho, guitarristas e amantes de Beatles. Gustavo e Bruno Almeida, dois cariocas, estavam vestidos com os ternos coloridos icônicos do álbum Sgt. Pepper and the lonely heart club band e sentiram emoções muito distintas. Gustavo vivia mais um dos inúmeros shows que foi. Nem o próprio fã tinha as contas, ou seja, era mais um encontro com Paul, ídolo que assistiu pela primeira vez no histórico show do Maracanã de 1991. Bruno realizava o sonho de vê-lo pela primeira vez no Mané Garrincha.
O sentimento de ambos saiu em uníssono: "Isso é um sonho". Seja para o pai trazer o filho, ou o filho ver o ídolo pela primeira vez. "Eu estou muito animado", afirmou Bruno. "Nós somos muito fãs, tocamos todas músicas deles na guitarra e temos um estúdio em casa todo enfeitado do tema Beatles", conta Gustavo.
Os dois não escondiam a felicidade de estarem juntos vivendo o que chamam de sonho. Tudo estava certo para o momento em família. Quando perguntados qual o Beatle favorito, a resposta foi também conjunta: "Paul McCartney".
*Estagiário sob a supervisão de Patrick Selvatti
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