No radar da polícia há cerca de 10 anos, o Comboio do Cão, a mais numerosa facção do Distrito Federal, tentou adaptar a estrutura criminosa após a operação que levou à prisão de Willian Peres Rodrigues, o Wilinha, em abril de 2021. A cúpula promoveu novos nomes para o "subcomando" da organização, na tentativa de dar seguimento ao tráfico de drogas, armas e aos homicídios contra rivais. Mas a articulação foi barrada, novamente, pela Polícia Civil (PCDF). Ontem, os investigadores da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado do Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Draco/Decor) e do Ministério Público do DF cumpriram 57 ordens judiciais contra o grupo. Quinze foram presos.
A operação Shot Caller contou com a participação de 250 policiais da PCDF, entre agentes, escrivães e delegados. Dessa vez, a polícia concentrou as buscas nas cidades de Planaltina e Ceilândia, mostrando o objetivo de expansão da facção. Um dos líderes, inclusive, foi detido em Planaltina. A casa dele teria passado por diversas reformas com o dinheiro do tráfico de drogas e outros crimes. As ordens judiciais também foram cumpridas no Riacho Fundo II, em Santa Maria, em Planaltina, na Vila Planalto, em Ceilândia, no Varjão, em Luziânia (GO), em Formosa (GO), em Planaltina de Goiás e em Ceres (GO).
De origem local, o Comboio do Cão age com crueldade e está por trás de dezenas de homicídios, que
Liderança
As investigações no âmbito da operação Shot Caller começaram há cerca de um ano e meio, depois da prisão de Luiz Gonzaga da Rocha Júnior. Juninho, como era mais conhecido, participou de um duplo homicídio em Samambaia, em maio de 2020. Junto a Israel Gonçalves Silva, o Bagdá, Juninho assassinou dois homens, de 31 e 29 anos, em frente ao Golden Park Hotel e à Boate Dubai Show.
À época, as vítimas conversavam com amigos e estavam próximas aos carros estacionados no local, quando Luiz e Bagdá efetuaram diversos disparos de arma de fogo. Três dias depois do duplo homicídio, o dono da Boate Dubai, Tiago Cunha Morais, 33, foi morto. De acordo com informações da Polícia Civil, o crime foi queima de arquivo, uma vez que ele presenciou o duplo homicídio.
Mas a guerra continuou e, menos de três meses depois, Bagdá teve o mesmo fim. O membro do comboio foi assassinado em julho de 2020 por Gilberto Ribeiro Cardoso, criminoso considerado um dos maiores traficantes de cocaína do DF, segundo revelou o Correio, à época, em primeira mão.
Gilberto tornou-se réu pelo homicídio de Bagdá e, como consta nos autos do processo, o ataque teria relação com uma espécie de "guerra", que envolve grupos rivais. No dia do crime, Israel teria a pretensão de matar João Lucas Santos, após suspeitar do envolvimento dele na morte do irmão, Samuel Gonçalves Silva — também vítima de homicídio.
Bagdá, então, passou a seguir o rival próximo até um bar e, logo depois, efetuou tiros contra ele. Gilberto, ao ver a situação, revidou o ataque e atirou contra Israel. Após ser atingido, Bagdá tentou fugir, mas foi perseguido e baleado várias vezes.
Gilberto e outras 19 pessoas foram presas no âmbito da Operação Sistema, desencadeada pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), em 2022. Ele e o irmão, Gilmar Lopes, eram conhecidos como "irmãos do pó" e, segundo as investigações, financiavam, transportavam, armazenavam e distribuíam quilos de cocaína para o Centro-Oeste.
Juninho foi preso em 7 de outubro na praia de Pirangi do Norte, em Parnamirim (RN), em uma operação conjunta da PCDF com a Polícia Civil do Rio Grande do Norte (PCRN). A suspeita é de que o criminoso, mesmo em outro estado, continuava a comandar o Comboio de forma on-line.
Apreensão
Além da prisão dos 15 integrantes da facção, até o fechamento desta edição, a PCDF apreendeu porções de maconha, uma balança de precisão, cinco armas de fogo, uma Hilux, um jet ski e mais de R$ 36 mil em espécie. A operação se deu assim que os investigadores tomaram conhecimento de que estavam previstas, para ontem, depredações, incêndios e protestos da facção, dentro e fora dos presídios, ameaças e ataques a servidores públicos contra o rigor do tratamento da polícia. "Esse é um recado ao crime organizado de que eles não conseguirão se estabelecer aqui no DF", disse o delegado de polícia Leonardo de Castro Cardoso, coordenador do Decor.
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