Com a proximidade do fim do ano, chega o momento de se planejar financeiramente para celebrações e trocas de presentes. O décimo terceiro salário, gratificação trabalhista que contempla o trabalhador com um salário extra, geralmente pago entre novembro e dezembro, vem para aliviar o bolso e ajudar na organização econômica das famílias. Além de investir em festividades, os brasilienses planejam ainda pagar dívidas e limpar o nome.
Segundo informações do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), baseadas em estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o 13º injetará na economia do DF este ano cerca de R$ 8,82 bilhões. O valor é 3,5% maior do que o do ano passado, quando a gratificação injetou R$ 8,5 milhões no setor econômico da capital do país.
A média de valores por pessoa no DF é estimada em R$ 5.400,39. Além disso, segundo cálculos do Sindivarejista e Dieese, um total de 1,563 milhão de brasilienses irão receber o abono de Natal. Empregados formalizados ficarão com R$ 7,7 bilhões e os beneficiários do INSS com R$ 727 milhões. Aposentados e pensionistas do regime próprio distrital embolsarão R$ 387 milhões. O presidente do Sindivarejista, Sebastião Abritta, acredita que o setor na capital federal está mais otimista diante do montante a ser injetado. "Há empresários estimando aumento nas vendas de fim de ano entre 9% e 14% na comparação com os 12% do Natal de 2022", sinalizou.
Limpar o nome
Além das festividades, alguns brasilienses aproveitarão também para investir o recurso extra ou até mesmo quitar dívidas. De acordo com o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas do Serasa, o número de pessoas inadimplentes no DF aumentou em outubro, chegando a 1,298 milhão contra 1,290 milhão em setembro. A vendedora Ana Beatriz, 26 anos, é exemplo de trabalhadora que vai aproveitar o décimo terceiro salário para tirar as finanças do vermelho. "Vou usar uma parte para pagar dívidas que tenho com o cartão de crédito e o restante para comprar presentes de Natal para a família", contou ao Correio a moradora do Paranoá.
Ainda segundo o Serasa, as dívidas relacionadas às contas básicas, como luz, água e gás, tiveram uma queda de 1,02 ponto percentual entre setembro e outubro, passando de 17,15% das pendências financeiras para 16,13%. Janaína Ribeiro, 38, promotora de vendas e moradora de Samambaia, relatou à reportagem que está com o nome sujo desde que ficou desempregada, no início da pandemia de covid-19. Além disso, ela também tem deixado acumular algumas contas básicas. "Esse dinheiro vai ser todo para quitar as contas de luz e água. Pago um valor muito caro onde moro, e o que sobrar vai para outras despesas", disse.
Investimento reverso
Para o contador e conselheiro do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) Adriano Marrocos, o ideal para quem tem dívidas pendentes é aproveitar a gratificação para sair do saldo negativo. "Fazer esse investimento reverso é um bom negócio. As taxas de juros são bastante elevadas e postergar não é a melhor saída. É importante lembrar que o cartão de crédito pode ser traiçoeiro", aconselhou. Marrocos sugeriu, ainda, àqueles que não têm dívidas a investirem. "Há várias opções interessantes, como os títulos do Tesouro Direto, que dá para fazer pela internet, tem também os CDBs (Certificados de Depósito Bancário), que são investimentos pré-fixados e tem também a conta remunerada, que é uma modalidade de conta bancária que proporciona um retorno financeiro sobre o saldo mantido na conta", elencou.
O economista e educador financeiro Francisco Rodrigues salientou que esse montante pode funcionar como uma alavanca para a conquista de sonhos e projetos a médio e longo prazo. "Ao invés de acumular dívidas no decorrer do ano para serem quitadas com o 13º, o ideal é poupar durante o ano e usar o extra para investir e tirar sonhos do papel", destacou. Ele ressalta que fim de ano é um momento de aquecimento para a economia. Positivo para indústria, comércio e para o bolso do cidadão consciente no uso de seu dinheiro. "Brasília é a terceira mais endividada do país mesmo tendo a maior renda per capita, o que mostra que falta controle financeiro aos brasilienses. Por isso, é importante aproveitar esse tipo de oportunidade para sair do vermelho", acrescentou.
Servidores públicos
Os servidores efetivos dos órgãos e secretarias do Governo do Distrito Federal (GDF) recebem o 13º integral sempre no mês dos respectivos aniversários. Caso haja alguma troca de cargo e, consequentemente, algum valor residual dos efetivos, a quantia é paga no último mês do ano junto com o pagamento dos servidores comissionados, que recebem uma parte da gratificação em julho e o restante em dezembro. Juntando os montantes referentes aos aniversariantes de dezembro, valores residuais do 13º dos servidores efetivos e os valores integrais dos comissionados, o GDF vai pagar cerca de R$ 234 milhões em dezembro. O valor não inclui a segurança pública — Corpo de Bombeiro, Polícia Militar e Polícia Civil.
O que vou fazer com o 13º salário?
"Estou cursando faculdade de odontologia
em Brasília. Com o décimo terceiro salário, vou pagar o material do meu curso,
que tem custo bem elevado. Se sobrar,
vou pagar contas pendentes"
Maria Gabriela,
21 anos, estudante, Formosa (GO)
"Vou aproveitar para investir
o dinheiro no tesouro direto.
Já que não tenho dívidas, quero aplicar
em um investimento de renda fixa"
Patrick Breno,
21 anos, militar, Riacho Fundo 1
"Tenho um curso técnico, mas sonho
em fazer uma faculdade. Com o meu décimo terceiro salário, vou começar a poupar para pagar o meu curso superior"
Rayane Franca Cordeiro,
32 anos, técnica em saúde bucal, Samambaia
"Fui demitido na pandemia e tenho dívidas dessa época. O décimo terceiro vai todo para pagar dívidas do cartão de crédito e ainda não vou conseguir pagar tudo, pois a fatura está muito alta. Vou pagar o que der"
Lucas Caetano de Oliveira,
22 anos, cobrador, Valparaíso (GO)
"Vou quitar dívidas e dar
entrada em um carro"
Jefferson Junior Sousa,
33 anos, garçom, Valparaíso (GO)
"Estou com nome sujo, devido à época
da pandemia, quando acumulei dívidas, e usarei o dinheiro para pagar o que devo"
Crislene, 31 anos, vendedora, Ceilândia Norte
*Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti
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