O delegado-geral da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), José Werick de Carvalho, decidiu exonerar a antiga cúpula da corporação nomeada pelo delegado aposentado Robson Cândido, preso preventivamente desde o último sábado (4/11). O novo chefe da PCDF modificou 10 estruturas da polícia.
A primeira mudança é na Corregedoria-Geral. O delegado Adval Cardoso, confirmou à reportagem que decidiu se aposentar da corporação. O delegado Ecimar Loli, que chefiava a Delegacia da Criança e Adolescente (DCA I), assumirá o posto. Para a função de corregedora-geral adjunta, a delegada Ivone Rosseto será nomeada.
O delegado Gilberto Gomes Rocha assumirá a Divisão de Inteligência da Corregedoria-Geral. Outra modificação é na assessoria da corporação, que terá Lúcio Valente como chefe. Gilberto Maranhão assumirá o posto deixado por Loli na DCA I, e será acompanhado da delegada Waleska Romcy, como adjunta.
Alexandre Ribeiro, que era chefe da Divisão de Investigação da Corregedoria, assume como diretor-adjunto da Coordenação de Repressão a Homicídios e de Proteção à Pessoa (CHPP). O delegado Paulo Francisco deixará a Divisão de Repressão a Drogas da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) e assume a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco/Decor).
Outra modificação que deverá sair em edição do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) de segunda-feira (13/11) é a nomeação do delegado Gilberto Neves na assessoria do Departamento de Polícia Circunscricional (DPC) e Fábio Santos Souza na Divisão de Repressão à Drogas, da Cord. Em nota, a PCDF informou que as mudanças da estrutura estão focadas na “eficiência do trabalho investigativo”.
Antiga cúpula
No início da semana, o novo delegado-geral José Werick nomeou a delegada Adriana Romana para a chefia da 19ª Delegacia de Polícia (P Norte), após a Justiça decretar o afastamento de Thiago Peralva das operações, por ser alvo da Operação Vigia, deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) no último sábado (4).
Outras modificações anunciadas pelo novo chefe da PCDF ocorreram durante a semana, quando Isabel Dávila Lopes Borges de Moraes assumiu a Diretoria da Divisão de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf).
É esperado que outras estruturas da corporação sejam alvos de modificações nos próximos dias, como a substituição de figuras importantes do Departamento de Polícia Especializada (DPE). Toda essa dança das carreiras ocorre no momento em que o ex-delegado-chefe Robson Cândido e o delegado Peralva são alvos de uma investigação do MP, suspeitos de utilizar clandestinamente um sistema de monitoramento para vigiar uma mulher que mantinha relações com Cândido.
Conforme o Correio revelou, a denúncia de uso clandestino do sistema de monitoramento de suspeitos de crimes chegou às mãos dos promotores por meio de e-mails apócrifos. As informações posteriormente foram confirmadas pela própria Polícia Civil.
Como parte das diligências dos promotores, a Justiça mandou prender Cândido, que está detido na carceragem da PCDF, enquanto Peralva foi afastado da delegacia que chefiava, e atualmente usa tornozeleira eletrônica como medida cautelar. Na ocasião, a PCDF, em nota, informou que a atual gestão está “à disposição para prestar esclarecimentos do fato apurado”.
Investigação
Cândido foi preso na manhã de sábado (4/11). A prisão preventiva foi realizada a pedido dos promotores do Núcleo de Investigação e Controle Externo da Atividade Policial (NCap), com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) e do Centro de Inteligência (CI) do MPDFT.
Antes poderoso diretor da Polícia Civil, reconduzido no segundo mandato do governador Ibaneis Rocha (MDB), Robson Cândido envolveu-se em um escândalo pessoal com uso da estrutura da Polícia Judiciária em uma denúncia de perseguição e violência contra a mulher.
Dessa forma, as ligações telefônicas da namorada do delegado-geral eram monitoradas como se ela fosse uma criminosa ou interlocutora de traficantes. O objetivo era ter acesso a todos os passos da jovem de 25 anos. A vítima descreveu Robson como extremamente possessivo.
De acordo com o depoimento da vítima, Robson aparecia nos lugares em que ela estava, a seguia e a abordava. Conforme a apuração do Ministério Público, os delegados utilizaram a estrutura da própria Polícia Civil, como viaturas descaracterizadas, celulares corporativos e carros oficiais, com o propósito de monitorá-la.
Além da prisão do ex-delegado-geral, decretada pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Águas Claras, os promotores cumpriram dois mandados de busca e apreensão. Um dos alvos é a 19ª Delegacia de Polícia, de Ceilândia, cujo delegado-chefe, Thiago Peralva Barbirato, seria o responsável por inserir no sistema o prefixo telefônico da vítima. Os promotores de Justiça também cumpriram mandado de busca e apreensão na casa de Peralva, em Águas Claras. O delegado, que passou no último concurso, é considerado novato e da extrema confiança de Robson Cândido.
Operação Vigia
De acordo com as apurações, os delegados investigados promoveram de forma clandestina e criminosa a interceptação no sistema Vigia para praticarem stalking (perseguição) e a violência psicológica com a vítima. Tudo começou quando a namorada de Robson Cândido procurou a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e denunciou que estava sendo perseguida pelo então delegado-geral. Na época, a mulher de Robson também registrou ocorrência. Na ocasião, a amante do ex-delegado-chefe detalhou que quando foi depor, o delegado Victor Dan, da DPE, estava na delegacia a pressionando para não registrar ocorrência.
Na operação, foram colhidos elementos que apontam para a existência dos crimes de interceptação telefônica ilegal, corrupção passiva, violação de sigilo funcional, invasão de dispositivo de informática e descumprimento de medida protetiva de urgência.
O juiz Frederico Ernesto Cardoso Maciel, do Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Águas Claras, determinou o afastamento imediato do delegado Thiago Peralva. O policial já colocou a tornozeleira eletrônica como medida cautelar.
O Ministério Público pediu a prisão preventiva de Peralva, mas a Justiça optou por decretar uma série de medidas restritivas. Ele está proibido de entrar em contato com a vítima e com testemunhas do processo de violência doméstica, por qualquer meio de comunicação. Também há restrição de contato de Peralva com qualquer servidor, estagiário, detentor de cargo comissionado, policial ou delegado lotado na 19ª DP ou com qualquer servidor ou promotor do Gaeco e do NCap.
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