A temporada de frutas chegou a Brasília. É nesta época que a população aproveita e colhe uma grande variedade de espécies nativas do Cerrado e também algumas exóticas. De acordo com a Novacap, são cerca de 950 mil árvores frutíferas de 35 espécies diferentes plantadas em todas as regiões administrativas do Distrito Federal.
As árvores seguem o plano de arborização urbanística de Lúcio Costa e estão plantadas desde a construção da capital, transformando ruas e avenidas em pomares a céu aberto ao alcance de todos.
Das 35 espécies, 10 são nativas do Cerrado: araçá, baru, cagaiteira, cajazeira, ingá-colar, ingá-mirim, jatobá-da-mata, jatobá-do-cerrado e pequizeiro. Entre as mais comuns estão a mangueira, a jaqueira e a amoreira que compõem áreas verdes em locais residenciais, avenidas e parques públicos.
Sacolas cheias
O mais curioso quando se passa próximo das árvores frutíferas é que, perto ou debaixo de algumas delas, estão bambus ou varas cumpridos para pegar as frutas que estão nos galhos mais altos. "Parece que já é um costume: quem colheu por último deixa o gancho ali para a próxima pessoa que passar e quiser saborear uma manga, por exemplo", é o que explica a dona Rosania Sousa de 52 anos, moradora do Sol Nascente.
Rosania e a amiga Maria de Jesus, 45, passavam pelo Eixo Monumental quando se depararam com a oportunidade de garantir a sobremesa da semana. Juntas, elas conseguiram colher duas sacolas bem cheias de mangas maduras nos pés que estão voltados para a pista. Rosânia afirmou ainda, que quando as jacas, outra fruta de sua preferência estiverem no ponto de colheita, fará outro percurso, indo até a avenida das jaqueiras, no Cruzeiro Novo, para levar as frutas para casa.
"São muitas frutas à nossa disposição, é muito bom poder desfrutar e degustar um pouco de tudo isso. Temos mangas, jacas, coisa boa para alimentar a todos. Eu só tenho a agradecer a natureza por essa oportunidade e também a quem cuida da preservação dessas árvores, que nos proporciona essa colheita maravilhosa", destacou Rosânia.
Tradição de família
Apesar de não serem típicas do Cerrado, as mangas são as campeãs no gosto popular. Encontradas em praticamente toda a região, de novembro até fevereiro estão no auge da produção, os pés estão cheios da fruta super doce e prontas para o consumo.
As mangueiras são a espécie mais plantada em Brasília, de acordo com a Novacap. Em seguida vem o ingá, a jaca, o jamelão, o jatobá, o jenipapo, o oiti, o pequi, a pitanga, o buriti e a amora. Atualmente, devido à grande quantidade de frutíferas já existentes, a companhia inclui apenas 10% delas entre as 100 mil árvores e arbustos que fazem parte do programa de arborização, que ocorre de outubro a março, quando as chuvas estão mais intensas e contínuas.
José Roberto Pereira Santana, 45 anos, morador da Estrutural, foi com a família colher e se deliciar com as mangas que ficam em frente ao Palácio do Buriti e diz que é uma tradição na família. "É tradição na minha casa, estamos aqui todo ano, nesta época. É um programão trazer minha família para fazermos juntos essa colheita. É uma delícia esse pomar a céu aberto para os moradores do DF, um verdadeiro momento de lazer e sabor nas nossas vidas".
Em outro ponto do Eixo Monumental, o casal Renata Guimarães, 33 e Gildean Rocha 27, foram com os filhos Ana Clara e Lucas Kelvin aproveitar a temporada das mangas. "Não tem como passar pelo local e não parar embaixo das mangueiras para pegar as mangas. É uma delícia desfrutar desse momento com as nossas crianças ao ar livre, aproveitando um alimento que a natureza nos oferece de graça e que é tão gostoso. Eu nem espero chegar em casa, chupamos as mangas aqui mesmo embaixo das árvores", afirma Renata, bastante entusiasmada com a colheita que conseguiu fazer juntamente com a família.
Ruas das frutas
Em Brasília, há ruas identificadas como frutíferas. É o caso da Avenida das Jaqueiras, entre Cruzeiro e Sudoeste, e a das Mangueiras, entre Cruzeiro Velho e Novo.
Dona Elza Maria, 66, moradora do Cruzeiro Novo, conta que não come a fruta, mas admira a beleza das árvores carregadas quando está na parada de ônibus em frente aos pés de jaca.
"Não gosto da fruta, não como, acho muito forte. Mas eu admiro essas árvores, acho uma beleza olhar esses pés carregados de jacas, um encanto da natureza assim ao ar livre, ao alcance de quem passa por perto. Aqui no Cruzeiro, podemos apreciar, além das jaqueiras, os pés de limão, de abacate e amoreiras que ficam lindas bem 'carregadinhas' com as amoras maduras".
Já o seu Antônio Reis Crisóstemo alerta para que a população tenha cuidado ao colher as frutas para não desperdiçá-las, derrubando as verdes de forma incorreta e largando no chão para apodrecer. "O povo derruba, às vezes, 15 mangas verdes ou mais para conseguir pegar uma madura; arranca as jacas quando ainda não estão no ponto de colheita e, simplesmente, deixa as frutas pelo chão apodrecendo. Elas são um bem para toda a comunidade, devemos ter mais cuidado e aproveitar também as que derrubarem mesmo que sem querer", reclama.
Silvestres e nutritivas
De acordo com a nutricionista Fabiana Nalon, a fruta colhida na rua é uma das melhores opções para a alimentação, por ser natural, e estar livre de agrotóxicos e insumos. Assim como a jaca, o abacate e as amoras, mais comuns nas regiões do DF, têm grande fonte de nutrição, de acordo com a especialista. "São frutas excelentes, silvestres e nutritivas. É um luxo ter acesso a essas frutas no seu estado natural, bem na sua época sazonal, no auge da doçura. As pessoas deveriam praticar mais esse tipo de colheita. É totalmente saudável", explica.
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