Obra-prima de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, Brasília também tem prédios de centenas de outros arquitetos. Um exemplo são as superquadras do Plano Piloto, onde os edifícios residenciais foram previstos no projeto urbanístico da capital federal, mas não foram desenhados por Costa e Niemeyer, e também não são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Mesmo assim, um processo de demolição de um bloco na 403 Sul chamou a atenção nos últimos dias.
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Desde a inauguração da nova capital, nenhum prédio residencial na área central de Brasília foi colocado abaixo. Projetado pelo arquiteto britânico William Bryant para a embaixada do Reino Unido, o bloco S foi construído em 1962 e inaugurado em 1968, mas estava há dois anos vazio. Por isso, foi colocado à venda. Uma construtora comprou o espaço, que será destinado novamente à habitação.
O presidente Instituto de Arquitetos do Brasil no DF, Luiz Eduardo Sarmento, lamentou que a situação chegasse ao ponto de demolir o bloco, principalmente pelo fato de a edificação ser fruto de uma das raras colaborações internacionais no projeto arquitetônico em um bloco de superquadra na capital. "A demolição é totalmente legal, mas é uma pena, porque, na minha concepção, o prédio tinhas características que justificariam alguma proteção. O bloco foi construído com características inovadoras, e funcionava como prédio funcional para a Embaixada do Reino Unido", citou Sarmento.
"É possível demolir blocos, desde que o novo siga os padrões urbanísticos da cidade. Brasília tem prédios individualmente tombados, como os palácios, por exemplo, mas a grande maioria das edificações do conjunto urbano de Brasília não são", explica. O arquiteto e urbanista complementa que, a rigor, todos os blocos residenciais podem ser demolidos, com exceção de alguns, como os da 308 Sul, quadra modelo do Plano Piloto, tombada pelo governo do Distrito Federal.
De acordo com o Iphan, em artigo sobre o Conjunto Urbanístico de Brasília, cabe ao governo do Distrito Federal fiscalizar e monitorar a preservação das superquadras. As obras devem ter seis pavimentos mais pilotis, com a manutenção da taxa de ocupação (área verde), pilotis livres, entre outros itens, além de seguir o Código de Edificações do DF.
Obra
Para o professor Raimundo Paravidine, 72 anos, que reside na região, a construção do novo empreendimento vai valorizar a quadra, apesar de causar transtornos naturais decorrentes das obras. "Este é o perrengue que temos que passar", afirmou ao Correio.
Segundo a empresa PaulOOCtávio, responsável pelo novo empreendimento no local, a demolição do prédio, que começou nesta semana, ocorrerá dentro do período de 30 dias. Conforme a construtora, não há possibilidade de recuperação da edificação, em razão do estado avançado de abandono.
"Ao longo dos anos, o imóvel sofreu uma série de modificações, que impediram uma reforma, pois o edifício não atendia às normas do Corpo de Bombeiros e de acessibilidade. As unidades não possuíam segurança contra fogo, e muitas mudanças afetaram a estrutura do prédio como um todo", explica. "Atualmente, o prédio encontra-se em fase de demolição, após o desmanche das estruturas recicláveis. Em seu lugar será erguido um edifício seguindo todos os regulamentos que regem a área, com referência, inclusive, à arquitetura brutalista dos anos 1960", salienta a empresa, por meio de nota.
Para saber mais
Brutalismo
A arquitetura brutalista é um estilo que surgiu na década de 1950, no Reino Unido. Um dos exemplos na capital federal são prédios dentro da Universidade de Brasília (UnB), cuja arquitetura não é tão preocupada com a leveza de detalhes, entre eles, o da Reitoria. A arquitetura modernista é um outro estilo, que se atenta a estética, como o Palácio do Planalto.
Tombamento
O tombamento do Conjunto Urbanístico de Brasília pelo governo federal e Governo do Distrito Federal (GDF) tem caráter específico — é, essencialmente, urbanístico e não arquitetônico. Ou seja, não há tombamento específico (individual) de prédios – exceto alguns poucos nominados individualmente (edifícios projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em sua maioria), que estão tombados. O que está sob proteção federal (tombamento histórico) é a concepção urbana da cidade, materializada na definição e interação de suas quatro escalas urbanísticas — monumental, gregária, residencial e bucólica. Portanto, o que se busca preservar são as características e a articulação dessas quatro escalas, conforme estabelece a Portaria nº 314, de 8 de outubro de 1992, do Iphan.
Fonte: Iphan
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